quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Super

Vão me achar louca, mas eu adoro supermercado. Tem gente que não tem a menor paciência.
Mas eu gosto imenso.
Primeiro, por um sentimento de gratidão, por poder estar comprando comida, e me nutrindo.
Segundo, porque é um mundo de variedades ao meu dispôr.
Terceiro porque é onde tudo começa.

Claro, alguns supermercados mais do que outros.
Eu já disse aqui que eu gostaria de morar dentro do Santa Luzia, teria uma barraquinha iglú naquele espaço entre a padaria, as sementes e as azeitonas.
E os mercadões municipais? Outra maravilha. Feiras, mercados de rua. Adoro tudo.

E quando estou viajando, mais ainda. As embalagens, os produtos locais, a estética das coisas.
No Japão, uma viagem!, você não sabe se esta comprando queijo fundido ou pasta de dente. No ocidente já é mais fácil. Nos Estados Unidos notei uma absurda oferta de produtos orgânicos e internacionais.

E aqui em Londres, passei horas no Sainsbury's só vendo minhas opções para uma solitária ceia de natal.
Horas para comprar pouquissima coisa. Detalhe: não precisa passar no caixa. Vai passando os produtos num leitor, depois enfia o dinheiro ou o cartão na maquininha, e pronto. Ninguém controla a honestidade dos clientes, provavelmente porque não precisa. Que beleza, véspera de natal e nenhuma fila.







De esquerda pra direita, em círculo ascendente e descendente:

Caldo de vegetais orgânico e sem glutamato, champignons, iogurte orgânico de baunilha, chá de ervas purificantes, creme hidratante para o corpo, chá de menta e eucalipto, cerejas, aspargos, chá de limão e gengibre, torradas integrais de emmenthal e sementes.

Total: 9,80 libras
Quanto será que teria custado no Pão de Açucar?




Miss Kitchen viajou a convite da Tap. Fly Tap!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sutil



Subtilis.
Fino, preciso, simples, sem adorno.
Leve.


Vocês devem ter lido nos posts anteriores o que foi a minha maratona gastronômica portuguesa.
Uma delicia total. Mas, como eu não consigo ser moderada, sai de lá precisando ir pro rehab.
No, no, no. Pois a era dos excessos ficou (temporariamente?) para atrás.
A vida proporcionou que fosse hospedada em Londres num maison végétarien e pudesse, além de dar trégua aos órgãos internos, provar coisas novas, diferentes e sutis.

Para começar, nem sal nem açúcar. O não açúcar, tranquilo. O sal me preocupou um pouco. Achei que fosse sentir muita falta, ficar levemente deprimida, correr pro saleiro que me foi amavelmente oferecido. Nada me foi imposto, vejam bem. Mas resolvi fazer um laboratório com o meu paladar e uma avaliação clínica do meu grau de dependência. E não é que foi bom? Teve um risoto de cogumelos e aspargos, com um queijo parente do gorgonzola só que muito mais suave, feito com caldo de legumes caseiro e vinho branco, ervinhas frescas, floquinhos de pimenta calabresa e um bom azeite. Senti falta do sal? Senti no começo, mas também reparei que sem o sal as coisas eram mais elas mesmas e se diferenciavam mais umas das outras. Sem o sal a salivação é menor, e o sabor de tudo mais suave, porém com mais nuances. Também reparei que o sal (principalmente se estiver acima da medida), nos deixa um pós-gosto que se sente na garganta, como uma ardência. Todo um laboratório. E assim vou, no exercício de ao menos não usar sal no prato (ao comer fora). Claro que não vou ficar radical, mas quando voltar pra casa, vou começar a adotar o hábito, ou melhor, desadotar o hábito. Em outras palavras: acordar.

A foto acima não é imagem satelital de um novo planeta ou restos de uma erupção vulcânica numa plantação de abacate em Atacama. É um pequeno almoço sutil. Leite de aveia (é só bater os flocos com um pouco de água), com diferentes sementinhas (girassol, gergelim, abóbora) e clusters de aveia. Um pouco de geléia com pedacinhos de fruta para dar um up e pronto. Sem açúcar. Diferente. Bom.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. Fly Tap!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal III - Delícias do Alentejo



Ex Libris


Saimos numa manhã chuvosa, pela Ponte do Vaco da Gama, em direção a Évora. Uma pequena linda cidade rodeada de muralhas antiquíssimas onde visitamos, entre outras coisas, a Capela dos Ossos. Alguns acharam meio tenebrosa, mas eu gostei. É que as paredes são totalmente forradas de ossos e caveiras. A acústica é muito interessante, e o fato dos monges a terem construido como espaço de meditação, onde a presença da morte nos lembra do efêmero da vida, também. Ao entrar, a famosa frase: Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos. Saimos calados antes que a profecia se cumprisse, e fomos ao ex libris da cidade, ruinas do que teria sido uma homenagem a Diana, a Caçadora, mas não foi.

De Évora, partimos para a Montes da Cal, mais ao sul. No caminho, lindos vinhedos a perder de vista, oliveiras e uma grama tão verde tão verde que chegava a ser fosforescente. Chegando lá, uma construção belíssima, com referências claras à influência árabe, com amplos salões, cúpulas e decoração cheia de cores e pequenos espelhos. É lá que as adegas Dão Sul produzem alguns vinhos, realizam eventos e recebem, vindos de todo o mundo, os interessados em bom vinho português.




Sala de estar bem.





Desfile de belezas.




Conhecemos todas as instalações, desde salas de degustação e laboratório até os imensos tonéis de inox onde toneladas e toneladas de precioso líquido aguardam sua hora de ir à garrafa. Também, uma sala de barricas francesas de carvalho, onde os reserva aguardam pacientes a sua vez, no escuro. Provamos algumas variedades ali mesmo, direto do barril, o que teve todo um encanto para mim.



Ficção científica!



A seguir, a sala de jantar, em frente a uma lareira acesa, e ao lado de uma cozinha, da qual vinham aromas de enlouquecer. Num primeiro momento, os aromas me lembraram a Patagonia, mas até agora não sei por que. Todo o tempo fomos recebidos pelo hostipaleiro wine maker e enólogo Carlos Lucas, que além de entender tudo, sabe explicar com clareza e simplicidade os detalhes mais minuciosos, não só do vinho como bebida, mas o mercado internacional, as dificuldades dos produtores e até, muito oportunamente, as consequências que o vinho sofre por conta do aquecimento global.




Barricas.





O almoço foi mais uma orgia gastronômica, preparado por um chef alentejando muito eficiente e simpático. Peixinhos da horta (mini vagens fritas), brusquetas de coelho e tomate, lombinho de coelho com beringelas, vitela com purê de castanhas e geléia de morango. Tudo excelente. E isso é o que consigo me lembrar, já que a máquina fotográfica ficou sem bateria. Ah! E um bolo de chocolate levemente queimadinho e servido com uma compota de cerejas especialíssimas.




Repare nos típicos ovos verdes alentejanos à esquerda.






Provamos alguns dos vinhos da casa, cada um mais gostoso, e todos nos surpreendemos com a qualidade do Vinha de Saturno. Um vinho gostoso, fácil de tomar, e ao mesmo tempo, cheio de personalidade. Como se isso fosse pouco, acessível! Eu adorei a frase do Carlos: "Fazer um vinho excelente que esteja ao alcance de todos, é o meu trunfo como enólogo". Lindas palavras. O Porto Vintage da casa (que fez tanto sucesso que não se acham mais garrafas 2004 e 2005 no mercado) também era maravilhoso e acompanhou a tábua de queijos e frutos secos em perfeita harmonia.



Já pensou no verão?






No fim do dia, ficou tudo cinza e frio, uma melancolia contrastante com a calidez humana e gastronômica que sentiamos dentro da casa. Entramos na carrinha e voltamos para casa em silêncio, alguns dormindo, outros lembrando, todos (aposto) com vontade de ter ficado no Alentejo um pouquinho mais.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. FLY TAP!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal II - A Tasca da Esquina





Acordei já em clima de expectativa, tomei um banho rápido e desci para tomar café da manhã no hotel. Lindo pequeno almoço! Frutinhas, cereais, shots de iogurte, ovos mexidos, diversos pães, croissants, geléias. Uma beleza. Mas eu queria comer pouco, para me preservar pro almoço prometedor. Por isso peguei só uma fatia de pão de centeio, uma de presunto cru e um café preto.

Para abrir o apetite decidi andar um pouco. Fui até o Museu de Arte Contemporânea do Chiado. Uma exposição muito interessante, minimalista, do artista David Claerbout. Vídeos com imagens estáticas, como stills, onde só um elemento se move. Outro em que uma senhora fica se mexendo lentamente numa cadeira de balanço, com o sol aparecendo e saindo do seu rosto. Se a gente andasse, ela virava o rosto como se estivesse nos vendo, ou nos ouvindo. Simples e inspirador. Mas olhei o relógio e vi que estava na hora, voltei correndo.






Fomos em caravana de taxis até a Tasca da Esquina, o restaurante do Vitor Sobral. O lugar é simples e aconchegante, bastante iluminado e logo na chegada já se vê a cor e se sente o cheiro do que virá. O próprio Chef, uma graça. Minha primeira imagem dele foi a de um homem com a mão na massa, ou melhor, as mãos num enorme bacalhau, lindo, ainda salgado.







O almoço foi uma sucessão interminável de prazeres. Começando com um queijo incrível e azeitonas interessantes, uma espécie de pãozinho recheado de ervilhas com curry (o filho da samossa com o pão de batata) e vinho, muito vinho.



Delicia!


Bati meu recorde, bebi 15 vinhos diferentes numa única refeição, composta de diversos pratos em pequena quantidade e com sabores muito diversos e especiais. Começando com uma sopa de tomate deliciosa, com acidez na medida certa. Depois vinagrete de polvo, este muito macio, desmanchava na boca.



Super macio.


Camarões assustados (quase crus) sobre um leito de maionese rala (quase um aioli mas sem o alho). Bacalhau feito de maneira bem tradicional, com um azeite de aroma maravilhoso. Rabada (uma manteiga), com finas fatias de abobrinha, sobre uma emulsão de ervilha e, last but not least, um gateaux de chocolate maravilhoso, com farofa de amêndoas. Uma festa.



 Camarão assustado.



Bacalhau perfumado.




Rabada.



Além disso, os vinhos, também estrelas do almoço. Escolhidos por um juri de experts, era um melhor que o outro. Eu, que não sou grande conhecedora das minúcias do vinho, mas sei do que gosto, escolhi três (quatro, contando o Porto que fechou o almoço) que me agradaram especialmente. Entre os espumantes do aperitivo, adorei o Luis Pato. Dos brancos, o Paulo Laureano, alentejano, delicioso. Quando provei este vinho me lembrei de iogurte. Pensei: se eu disser isso vou passar vergonha, melhor não opinar, só dizer "mmm, que gostoso". Então a Luciana Lancelotti, que escreve sobre gastronomia e viagens e tem um portal muito legal chamado Bistrô Pimenta, disse "este vinho é abaunilhado". Matou a charada. O que estava me lembrando é um iogurte de baunilha que descobri na França e que me vicia sempre que vou pra lá.



Muito vinho.




 Chave de ouro, com Porto Vintage da Churchill.


Voltando aos vinhos, vamos aos tintos. Teve um que desceu tão redondo, que fui obrigada a repetir a dose. Tive que degustar de novo, sabe? Para captar mais uns detalhes e poder emitir uma opinião mais completa (que na verdade se reduziu a uma onomatopéia de prazer). É o Churchill Estate. O mais legal foi ver que minha opinião não estava lá tão distante daqueles conhecedores que me acompanhavam à mesa.

A companhia, novamente, um prazer a parte. De um lado, um guru da gastronomia portuguesa, praticamente uma enciclopédia. Em frente, um Chef, simpático, simples, nos dando ótimas dicas. Por toda parte, jornalistas, brasileiros e portugueses, trocando informações. Executivos nada formais. Gente entendedora dos assuntos, mas acima de tudo, entendedora de um estilo de vida, despretensioso e espontâneo, baseado em amor pelo trabalho que faz e nos prazeres de uma boa mesa e uma boa conversa. Coisas que por mais banais, nos fazem sentir que a vida vale a pena. É que ela não tem sentido, né? A gente que dá.



Boas companhias.

...

Fiquei sentimental (ou devo dizer, existencial?), eu sei. É que eu me emociono observando as relações humanas. Pois, de noite fomos ao fado, e toma emoção. Lembrei muito do tango. Fiquei pensando nessas letras, na nostalgia, e também na alegria. Fiquei pensando em como um interprete pode sobreviver a um gênero. Como reverenciar a tradição mas colocar algo seu dentro disso. Fiquei pensando nos clichês turísticos, e na essência que encontra seu caminho para se mostrar e sobretudo pensei no prazer de viajar, de como isso muda nossa relação com o tempo, o espaço, as pessoas, e principalmente, com nós mesmos.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. FLY TAP!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal I

Tinha tanta vontade de voltar a Portugal! Mas não sabia que iria acontecer tão cedo. Foi uma grata surpresa ter recebido esse convite, e em uma semana lá estava eu, sentada no avião, tomando um belo tinto português e olhando a chuva pela janelinha. Comida de avião é aquela coisa estranha, mas nesse caso foi diferente. Isso se deve, como soube depois, a algumas medidas tomadas pela Tap, junto aos chefs parceiros (Dânio Braga e Vítor Sobral). Uma delas é não incluir molhos industrializados no preparo dos pratos. Grande sacada. Isso faz o cheiro de comida de avião se transformar em cheiro de comida, simplesmente.

Ciabatta de alecrim e Loios 2008 (Alentejo)



Saladinha.




Mil (seis) folhas.


Sentei confortavelmente e assisti a um filme que queria ver há um tempo: "500 dias com ela". É um desses filmes sobre não mais acreditar no amor, meio tristes, onde nada da certo, só que no final o filme diz pra você que dá pra acreditar sim. No final das contas, da ou não para acreditar no amor? Acho que depende do amor. Em alguns da pra acreditar, em outros não. Mas assisti ao filme e comi uma deliciosa ciabatta com alecrim com manteiguinha, salada verde com laranja marinada e amêndoas e mil folhas de legumes. A meia dúzia de folhas do mil folhas composta de finíssimas fatias de batata levemente cozida (crocantinha). E então, quando estava assistindo pela segunda vez Julie & Julia, só pra ver as comidinhas e rever meus conceitos (comentei no post anterior que não gostei do filme), foi entre um pato dessossado e um boef bourguignon que capotei, e acordei muito perto de Lisboa.



Amanhecer no avião.




Chegando em Lisboa, um dia lindo. Aquela luz que faz dessa cidade um cenário de cinema. Saí caminhando ao léu, me perdendo no já familiar Bairro Alto, até parar numa daquelas tascas bem simples, a pastelaria Orion. Eu já tinha ouvido falar que era boa e, dando sequência à minha pesquisa sobre PFs do mundo, resolvi arriscar. Pedi um dos pratos do dia: "Vitela à padeiro". Nem perguntei o que era. E sabe que estava muito bom!? Fatias macias de vitela assada com molhinho de tomate, arroz branco, batata frita sequinha e salada.




Honestidade a 4 euros.



Muito bom. Para mim é muito interessante saber o que comem as pessoas no dia-a-dia, os trabalhadores, estudantes, gente comum. E aqui, comem muito bem. Depois disso, uma passadinha no restobar do meu amigo ator espanhol, o Les Mauvais Garçons, onde comi um pudim de leite gostoso com chantilly e expresso da Tanzania. E depois, mais uma volta pelos miradouros e ruazinhas, até que ficou de noite e voltei correndo para me aquecer no hotel.

O jantar, por conta do Chef Luis Rodrigues, foi muito gostoso e aconteceu no próprio restaurante do Bairro Alto Hotel, charmosíssimo e muito bem localizado. Começou com vieiras portuguesas (macias, generosas), cobertas de caviar, que explodia na boca em graciosos estalinhos ácidos. Depois, carpaccio de pato defumado, e a estrela da noite, bacalhau com gema de ovo cozida muito lentamente, couve portuguesa e purê de grão de bico em forma de uma placa grelhada. Delicia total.





 A foto não faz jus, eu sei.


Nesse jantar ainda teve uma vitela que estava boa, mas pro meu gosto muito passada. Depois soube que tradicionalmente, esse é o jeito de serví-la em Portugal, e que carnes mal passadas são coisa mais recente, de gente "jovem". Eu, como jovem senhora argentina, vocês sabem, gosto da carne num ponto em que ela praticamente conversa comigo. Houve um caso extremo em que um bife de chorizo me contou sua infância. Esta vitela (bem macia) foi servida sobre uma batata cozida que estava um pouco salgada. Preferi o bacalhau. Fora a comida, vinhos brancos e tintos cujo nome não sei, e sorvete de avelã com pêra grelhada caramelizada. Tudo bem bom. E o melhor, a companhia. O que mais posso pedir do que uma mesa de gente que adora comida, gosta de conversar (não só falar, mas também ouvir, qualidade rara). Gente cheia de histórias para contar, com humor e inteligência. Essa foi a verdadeira sobremesa. (Sobremesa, na Argentina, é aquele papo que as pessoas tem depois do jantar).

E então fui dormir o sono dos justos, que o dia seguinte seria intenso.
Me espera um almoço/degustação na Tasca da Esquina, do renomado chef Vítor Sobral.
Depois conto sobre isso!

MK, de Lisboa, comendo castanhas assadas da banquinha da Praça Camões.

(Miss Kitchen viajou a convite da Tap, FLY TAP!)









terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Julie & Julia




Ontem fiquei presa na chuva no meio da Paulista. Olhei para o transporte público, para os taxis, para o mau humor das pessoas e não duvidei: vou entrar no cinema. Resolvi ver um filme que ninguém queria ir ver comigo, "Julie & Julia". Naturalmente sou atraida por filmes sobre comida e pessoalmente não tenho nada contra sessões da tarde (ainda com o álibi de ter visto um filme brasileiro de autor e um Almodóvar nos últimos dois dias), e ainda por cima o filme foi inspirado por um blog (nossa, que metalinguístico que ficou isso aqui). Por tudo isso fui feliz tomar um capuccino no Vanilla Café (um pouco frio) e depois uma porção de mini pão de queijo (bem frios) no Unibanco da Augusta.

Cinema vazio, aquele sossego, um momento só meu. Tudo gostoso.
Pena que o ar condicionado estava muito forte (péssimo em combinação com as roupas úmidas pela chuva) e pena que não gostei do filme. Mas mesmo assim valeu.

Eu achei que o que vale nele é a comida. Apresentada por uma fotografia impecável, a comida brilha. São peixes assados na manteiga, cozidos com vinho tinto, brusquetas, patos... é um desfile de ingredientes e de coisas apetitosas. Lembrei de uma amiga fotógrafa, que me contou sobre diversos truques (algus nojentos) usados para embelezar as comidas nas fotos de divulgação e propaganda. Parece que rola um verniz marítimo nas carnes grelhadas, argh!

Mas voltando ao filme, achei chato. A Meryl Streep compôs um personagem, a Julia Child, que fala com uma voz de dondoca arrastada que desafina constantemente pro agudo. Cansativa e sem carisma. O personagem que inspirou o filme teria essa voz? Não sei, mas eu ficava torcendo pra ela ficar calada e voltar logo pra comida. A outra, a Julie contemporânea, uma boa moça sem nuances, caretinha e sem graça. Todas as emoções inverossímeis. Os maridos, uma lástima. Quiseram mostrar uns caras legais pra caramba, super companheiros, e acabaram apresentando homens anulados, servis e sem brilho próprio. O marido da Julie, um chato. É o mesmo ator que fez o chato noivo careta em "Vicky Cristina barcelona". Toda vez que ela serve um prato, o ator, para aparentar que aquilo esta muuuito delicioso, fica enfiando pedaços enormes de comida na boca e falando com a boca cheia. Super artificial, mais parece um cara hiper ansioso e descompensado do que alguem apreciando uma boa comida.

O filme é careta e previsível. A trilha, piegas (não poderia deixar de ser). Tudo estetizado e sem vida. Não existe ambiguidade, não tem borogodó, é tudo morninho. A mocinha é muito boazinha e muito fofinha e esforçadinha e tempo inteiro, o maridinho é um fofo constante e mesmo quando ele se satura das maluquices egocêntricas da mulher, briga um pouquino e volta pra casa em 5 minutos. E a idéia de vencer na vida sob a ótica americana capitalista é tão demodè! E ainda finge que tem uma crítica embutida a aquilo mesmo que esta enfatizando... Que preguiça de Hollywood, e desses personagens e histórias bidimensionais, sem complexidade, sem nenhum sentimento desencontrado e diria mais: sem vida interna.

Bom, o que você esperava? (alguns podem perguntar). Realmente, não esperava muito. O que esperava era ver comida bonita e isso aconteceu, então fiquei satisfeita. Voltei pra casa e comi minha torta de alho poró com queijo de cabra, esquentada no forninho elétrico, assistindo a reprise de um seriado velho.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Bacalhau muito simples!

Como parte das comemorações do fato de possuir um novo forno, resolvi fazer um bacalhau, que batizei de "Bacalhau à moda de mim". Novamente fiz um assado num dia extremamente quente (a última vez foi um cordeiro que deixou todo mundo suando à mesa). A meteorologia não me ajuda! E aqui em São Paulo é tão imprevisível que, enfim, tenho decidido os cardápios desconsiderando o clima. Quase sempre dá certo.

Estava tão quente que o vinho branco teve que ser mantido em contêiners de gelo, já que a geladeira não dava conta. Estava delicioso, refrescante e ótimo junto com um queijo bleu de bresse (o filho do camembert com o roquefort), melba com amendoas, emmenthal, pão de centeio e pão sueco. Seguindo essa entradinha, nos transferimos para a mesa do quintal (sendo que tinhamos que mudar as mesas de lugar constantemente para fugir do sol). Começamos com uma simples salada verde com tomatinhos grape e então veio o Sr. Bacalhau, que estava muito bonito e fumegante em sua travessa anti-aderente.




Lindo!



É muito simples. Nada que eu tenha inventado. Parte do princípio básico de assar o bacalhau com diversas coisas e mergulhar tudo num bom azeite de oliva. Como decidi em cima da hora, tive que acelerar o processo de dessalga, seguindo conselhos de uma expert (a promotora da marca de bacalhau que me atendeu no supermercado) usei água bem gelada (com cubinhos mesmo), que troquei de hora em hora. Ao todo o peixinho ficou 16 horas na água. Funcionou. Pro meu gosto ficou um bocadinho salgado, mas ninguém reclamou.

Feito isto, coloquei na travessa e acrescentei os seguintes ingredientes: batata doce cozida (só pra amolecer um pouquinho) em rodelas, anéis de cebola roxa (ultimamente a minha cebola é sempre roxa), pimentão de duas cores, dentes inteiros de alho, rodelinhas finíssimas de pimenta vermelha, azeitonas pretas sem caroço. Por cima, um monte de azeite de oliva extra virgem. Usei o Torre Sur, excelente. E um toque final de pimenta preta do moedor. Depois de assado, cobri com salsinha fresca picada.

O tempo que ficou no forno não sei dizer. Minha técnica consiste em tirar quando as batatinhas tiverem uma aparência de levemente tostadas. Comemos no calor acompanhado de arroz integral roxo e arroz branco basmati. Rimos, suamos, bebemos, e o sol aos poucos foi baixando, baixando, entrou uma brisinha fresca gostosa... Chegou um brownie com sorvete de pistache do Stuzzi (sorveteria imperdível na Vila Madalena). Mais umas garrafas inesperadas de ótimos vinhos brancos italianos e o domingo foi correndo, tarde adentro, entre amigos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Meu ceviche.




O meu ceviche de salmão é uma mistura do meu pai, a Wikipedia e o restaurante Kabuki na década de 90.
Uma vez tentei fazer com limão caipira. Não deu certo e virou um refogado.
Outra vez fiz em Florianópolis com peixe fresquíssimo e um gato comeu metade.
Meu pai fez no meu último aniversário e no penúltimo natal.
Eu fiz num desses dias quentes de novembro que passaram, e foi uma boa idéia. Muito leve e refrescante, num almoço de domingo regado a Chardonnay Terrazas. E ainda sobrou um repetequinho pra de noite.


Ingredientes:

Ceviche
salmão em cubinhos
pimenta vermelha
cebola roxa picada muito fina
gengibre ralado
coentro picado fininho
sal
pimenta de moedor
ingrediente secreto

Quantidades no olhômetro, segundo critério pessoal.
Misturar e colocar suco de limão até cobrir o peixe.
Deixar descansar na geladeira por uma hora, mínimo.

Acompanhamentos
batata doce (cozinhar com casca e cortar em metades)
milho verde cozido
espinafre cozido no vapor

Pode servir tudo frio!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Perder a fome.

Perco a fome se faz muito calor ou estou muito doente.
E você?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A bom entendedor.




Tudo começou com uma Eisenbahn de trigo, um brie e um queijo melba com roquefort.






Enquanto isso, o funghi seco repousava e se hidratava na água quente.






Até que foi para a panela, sobre alho previamente refogado. Logo depois, vinho branco e redução.







Enquanto isso, a água da massa fervia, misturada à agua da hidratação do funghi.







A mesa já estava posta, fazia sol.






E ele ficou pronto, com salsinha fresca picada, azeite extra virgem e pimenta e parmesão, ralados na hora.







E comemos embaixo desta pitangueira.

Fim.



segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Pragmatismo craniano




Tem coisas que a gente repete uma e outra vez, porque simplesmente funcionam.
Será que isso nos torna eficientes ou acomodados?
Você descobre uma receita infalível (para qualquer coisa) e provavelmente não fica afim de mudar nada. Pra que mudar, se funciona?

Eu acredito em duas possibilidades, a conservadora, de não alterar uma receita se arriscando desnecessariamente e a do improviso, se faltar algum material ou se houver um desejo por ventos de mudança ou novas possibilidades.

Agora tenho forno, depois de 5 anos com um fogão defeituoso. Esteticamente ele era lindo, anos 70, mas a única vez que tentei usar o forno, labaredas assassinas ameaçaram minhas sobrancelhas. Saiu até fumacinha com cheiro de celulose. Lá ficou o fogão, de presente para uma creche espírita. E eu agora tenho um autêntico Dako, que é bom mesmo, a canção não mente. É o mais barato das lojas de eletrodomésticos, não é nada especial, mas funciona.

Aproveitando o enamoramento pelo forno comecei a assar coisas e voltei a um hábito que tinha na Argentina, o de fazer tortas salgadas. Só que lá a gente compra massa folhada pronta "La Salteña" (a mesma marca da massa de empanadas), e nem pensa em fazer a massa em casa, porque a que a gente acha no supermercado funciona. Mas na falta do produto pronto, resolvi botar a mão na massa. Perguntei para a minha amiga conterrânea como fazer e ela me deu a receita de sua mãe, eximia cozinheira.

"Prestá atención, es muy simple, y no falla!"

200g de farinha de trigo, 100g de manteiga. Mistura com as mãos. Vai virar um farelo úmido. 5 colheres de sopa de água gelada (gelada é importante). Sal, e se quiser, alguma erva (coloco alecrim sempre). Amassa, faz uma bola, deixa descansar na geladeira (ou não). Estica (eu uso uma garrafa de vinho argentino vazia), coloca na assadeira, fura com o garfo, assa uns 10-15 minutos, coloca o recheio e assa a torta até o ponto desejado.

Pronto. Muito simples e prático.

Fiz duas, a primeria com recheio meio provençal: abobrinha, beringela, cebola e tomate refogados com queijo cottage e ovo para dar a liga. Ficou boa, mas era pouco recheio, ficou magrinha e um pouquinho ressecada. Não tinha garrafa de vinho vazia, estiquei direto na assadeira, qual massa podre.




Torta provençal.



Na segunda já comecei a improvisar. Faltou manteiga, coloquei azeite, não medi a água, pus no olhômetro e a massa ficou mais fácil de esticar. Matei o resto da garrafa de Malbec e usei para esticar, ficou mais fina, leve e homogênea. Como recheio só alho porró, refogado e misturado com ovo, creme de leite, temperos e parmesão. Delicia total. Comi três dias, não sobrou nem a foto.

Isso confirma minha teoria inicial. Palmas para as coisas que funcionam, elas são ferramentas, estão ai para nos amparar, facilitar a vida, nos dar uma sensação de segurança. Mas se você quer descobrir algo novo, vai ter que se arriscar, e talvez dê tudo errado.

MK, matando a torta.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Comer em NYC, comer em casa.




 Me guia.


Quero começar recomendando os guias turísticos da Publifolha (na verdade originalmente publicados pela francesa Gallimard). Eu tinha o de Paris, que além de me ajudar com suas dicas e mapas separados por bairro, me levou a restaurantes deliciosos e com ótimos preços, como o meu amado La Pré Verre, no Quartier Latin, onde viciei no incrível "Cochon de lait", do qual já falei aqui e até já fiz música, tamanha paixão.

Quando soube que viria para NY decidi comprar o guia daqui. Comprar o guia, para mim, é começar a viajar. E novamente foi muito útil! Bom, andar em NYC é muito fácil: ruas planas e numeradas, não tem como a gente se perder. A não ser que você esteja bêbado em Chelsea às 4am e não consiga entender para que lado fica o oeste. Mas ai é outro assunto.




Café da manhã delux.


Bom, seguindo os conselhos do guia fui tomar café da manhã num lugar chamado Sarabeth's, da famosa banqueteira de mesmo nome, na Amsterdam Ave., e foi maravilhoso. O ambiente meio caretinha mas isso não me incomodou. Suco de grapefruit, abacaxi e flores (que flores seriam não sei, mas era um suco gostoso, leve e refrescante). Em seguida um expresso com leite hiper bom (me lembrou o das boas padocas de São Paulo) e um omelete com cebolinha e cream cheese levemente apimentado, acompanhado de pão caseiro "7 grãos". Que ótima maneira de começar o dia! Não tenho fotos disso, infelizmente.





Foie gras dos Deuses.



Noutra noite, novamente, peguei meu guia e fui num restaurante francês no Upper West Side, o Le Monde. Preços bons e altamente recomendado. Começamos com o foie gras da casa, que foi o mais gostoso que eu já provei. Servido com a gordurinha, a gente podia ver as camadinhas de foie separadas por finas linhas de pimenta preta, sobre uma caminha de fatias de batata cozida com um azeite de oliva muito suave e torradas de pão com pistache e figo. Custou 10 dólares.





Salada de chèvre.


Em seguida, os pratos. Salada de chevre chaud (que veio frito à milanesa e não grelhado como eu preferiria), com tomates marinados, mini rúcula, alface e torradas com parmesão e pesto. E o meu: jarret de cordeiro no molho de vinho tinto, com batata, cenoura e abobrinha. O molho apimentadinho, os legumes firmes, a carne desmanchando. Uma loucura.






Cordeirinho apimentado.



Tudo isso acompanhado de um ótimo beaujolais e um litro de água com gás San Pellegrino.






Vim bão!



 Estava tudo tão incrivelmente delicioso que fui obrigada a pedir sobremesa, só para checar se o padrão de qualidade se materia até o fim...  Pedimos o "crêpe normande", com maçã, creme inglês e chantilly. Isso com um chazinho natural de menta digestivo. Excelente.





Pura gula.


Alguns dias antes tive uma experiência bem diferente. Um amigo nos levou até Chinatown, para comer num restaurante chinês muito engraçado. Você entrava por longas escadas rolantes, e chegando lá em cima, um enorme salão vermelho, com atendentes passando como formigas por entre as mesas com seus carrinhos fumegantes. É tipo um rodizio, com pequenos recipientes de bambu que são mantidos quentes pelo vapor que sai de dentro dos carrinhos.

 


O Salão.






As comidinhas.



Coisas estranhas de nome impronunciável. A maioria recheadas de porco, camarão, e às vezes porco E camarão, e também legumes. Molhos apimentados, adocicados, amargos. Pãezinhos recheados, legumes, arroz grudento com porco e outras coisas. Interessante. Algumas coisas muito gostosas, outras meio "fortes" pro meu gosto. A mistura de carnes também me é estranha.  E se você não falar "Please, NO!" eles ficam te assediando com mais e mais opções. Valeu a experiência, novos sabores, ótimo preço.




Mad for chicken.


Também fui num restaurante-balada coreano em Midtown chamado "Mad for chicken". Estava muito escuro, então não tenho fotos do frango, mas eram coxas marinadas num molho de soja com alho e "deep fried". Alias, duas vezes. Sim, eles deep fritam, esperam um pouco e repetem o processo. A idéia é que a pele do frango fique fina como um papel. E fica. É bem gostoso, mas na segunda coxa, e para horror dos presentes, retirei a tão cobiçada pele. Como acompanhamento, cubos de nabo e salsão e vagens de soja cozidas, como aquelas que comemos no Japão. Ah, e a cerveja, servida em tonéis coloridos transparentes. Foi mais caro que o restaurante francês e caiu um pouquinho pesado.

...

E mais: um mexicano ótimo no Soho, um tailandês ruim no Upper West side e todo tipo de coisas ruins na lanchonete do aeroporto.

E então, finalmente, casa! Arroz integral, salada verde com tomatinho grape, omeletinho. Torradinhas, suco natural, fruta, chá. Tudo simples, leve e feito por mim. Estava morrendo de saudades de comer em casa. Comer fora cansa, já disse isso. A extravagância também.



MK, feliz.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Holy Holly

Preciso dar um crédito aqui a uma grande pessoa e cozinheira. Holly Haskin. Na verdade ela é escritora, mas está aqui para nos alimentar nas noites geladinhas de Connecticut.

Ela é simpática e inteligente, tem uma voz agradável e trabalha em silêncio. Chega no seu carro carregada de panelões coloridos gigantes e sacolas de papel com pães fumegantes. Ela faz um dos pães mais gostosos que eu já comi. O de centeio é o meu preferido. E ele chega quentinho, com uma casca crocante e macio e leve por dentro. Cozinha de tudo, usa ótimos ingredientes e serve comida boa e sem frescura. Ontem ela serviu chili, com vários acompanhamentos e Cabernet Sauvignon californiano.


Sour cream, guacamole, molho de pimenta, queijo ralado, coentro picado.


Especial destaque para o guacamole. Ele estava como eu gosto, com bastante limão, e ao mesmo tempo não ficou aguado, mas muito cremoso e levemente apimentado.



Doritos pretos (preciso descobrir por que), salda verde e novamente o sensacional guacamole.

Arroz integral cateto, pão caseiro e broa de milho.

Que saudade eu tinha do arroz integral cateto! Em casa como quase todo dia e eu estava sentindo muita falta. Acho que ela me ouviu comentando isso ontem, porque hoje apareceu com esse arroz lindo, feito à moda macrô. A broa não é tão doce como uma broa das nossas, mas junto com o sour cream, da uma "esfriada" na potência picante do chili.

O vinho, mmm, gostoso!

Ontem assisti de novo aquele filme "Sideways", e me deu vontade de ir para a California beber vinho, fazer uma viagem de carro pela costa oeste, seria bom, né?

Não me privo de nada.

 
Não deu tempo de fotografar a sobremesa (cookies caseiros com chocolate preto e castanhas, com café expresso), porque ela desapareceu em instantes.
A Holly faz tudo com cuidado, amor, simplicidade. Mais uma referência na cozinha para mim. E uma pessoa incrível. Não quis fotografá-la (raramente coloco rostos aqui), mas eu digo, esta por volta dos 50, é muito bonita, cabelo louro acinzentado, olhos azuis inteligentes, simplesmente elegante, postura de quem pratica yoga há muitos anos, boa de papos e risadas.
Thanks Holly, some day I get this translated for you.