sábado, 24 de maio de 2008

Cannes e Londres

Mundo Cannes...


Como descrever Cannes, especialmente durante o famoso festival de cinema? Bom, a cidade até que deve ser bonita, fora de temporada, longe dos grandes festivais que habitam o Palais. Mas nessa época é uma superpopulação de caçadores de celebridades, gente cafona, mulheres siliconadas, todos em seus carrões, grandes motos, limusines. Aliás, tem desconhecidos que alugam limusines e se fazem passar por famosos. Coitados. Mas é muita gente mesmo, do mundo inteiro, num desfile incessante de crachás, indo e vindo pela Croissette (orla do mediterrâneo). Para se ter uma idéia, tem um horario em que acontece a "marche des artistes", que é quando os famosérrimos entram no Palais pelo tapete vermelho. O trânsito pára e milhões de tietes ficam a postos para conseguir uma foto, um autógrafo, um olhar ou nada.

Mas vejamos o lado bom. A cor do mar é linda, tem sim pessoas interessantes, e como não podia faltar, a comida e os vinhos. E nessas de comer, ficamos andando na multidão a procura de um restaurante, mas tudo lotado, tudo dificil até que apareceu numa rua lateral o bistrô Dauphine, vazio. Era tarde para almoçar, cedo para jantar. Mas fomos bem recebidos e eu pude apreciar coisas que adoro na França. Coisas simples. Salada de chevre chaude e uma taça de vinho rosê da Provence. A salada tinha torradinhas, um brie de cabra derretido, folhas verdes, tomate, cogumelos e pedaços de bacon. Muito boa. O vinho, fresco e seco, levemente frutado.



Salada de chevre chaude (fonte: The inner life of food)



As outras experiências gastronômicas interessantes em Cannes foram uma peixada com camarão feita por uma amiga de Belém (delicia) e o croissant do café da manhã do hotel (a unica coisa que prestava). Mas a verdade é que não deu tempo de comer mais nada, porque tive que sair correndo para Londres.




Terra da coxinha?


Chegando em Londres, a primeira coisa que comi foi uma coxinha de frango com Guaraná. Estava boa! Um pouco fria e oleosa, mas o tempero do recheio molhadinho e muito bom. Foi uma visita relâmpago a uma cidade famosa por ter má comida. Mas não é que o encanto se quebrou? Fui jantar num restaurante grego numa esquina em Covent Garden, e a comida estava muito boa! Totalmente troglodita, uma paleta de carneiro grelhada por 4 horas e depois marinada no vinho e temperada com especiarias. Servida com salada e arroz branco. Uma delicia! A carne desmanchava, muito saborosa. Escolhido por acaso foi de longe o melhor lugar onde já comi nessa cidade (onde comi pouquissimas vezes...). No dia seguinte de manhã, tomei café no aeroporto de Heathrow, um pão duro e gelado com recheio de frios, literalmente muito frios e um café com leite, adivinha... frio!



Cordeiro na grelha



Agora estou em Lisboa onde a alimentação é um tema aparte. Aliás acabo de comer uma tortilla espanhola com pantumaca e salada verde. Como aperitivo, vinho do porto. Acompanha agua com gás Perrier e de sobremesa torta de maçã com sorvete. Mas sobre a comida em Lisboa falo mais depois... É tanta coisa!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Berlim

Ilha dos Museus e Alexanderplatz ao fundo.



Berlim é uma cidade maravilhosa. Arvorizada, tranquila, bonita, arejada. Todo mundo se locomove de bicicleta. A comida é barata. Os homens são bonitos. Tem uma vida cultural super interessante. Bem, amigos que moram aqui confirmam o que eu já imaginava: uma coisa é passear em Berlim, de férias, no verão. Outra muito diferente é viver o duro inverno e enfrentar a dureza que muitas vezes se sente na paisagem humana. Mas bom, de perto, nenhuma cidade é normal. Mas essa é linda.



Pensa no rio Tietê...



Surpreendentemente, a comida é um ponto positivo da cidade. Tem muitos lugarzinhos interessantes onde comer, e com o sol que tem aparecido firme e forte, muitos com mesinhas na calçada, coisa que eu adoro. Gosto de ver a fauna. Tenho comido todo tipo de coisa e gastado menos do que se estivesse em São Paulo. Mas a impressão que dá é que a comida típica daqui é a comida do mundo. Do mundo oriental principalmente, uma coisa multi-étnica, mas não só. Muitos restaurantes indianos, árabes, chineses, italianos. Muita salsicha e muita pizza.

Logo na minha primeira noite fui no restaurante Punjab, indiano. Era um buffet com umas coisas indescifráveis ensopadas, fervendo em panelonas de cobre de perigosa tampa quente. Legumes, cordeiro, cogumelos, frango. Tudo cheirava muito bem. De entrada, a tipica salada daqui: tomate, pepino e repolho. Me servi de arroz jasmin, algo que tinha cordeiro e grão de bico e algo que tinha uma variedade de legumes com muito curry. Parecia punk, mas caiu leve! Um milagre! O segredo nessas horas é comer pouco. Tomei cerveja de trigo na pressão. Ofereceram licor de manga para finalizar, mas parecia um suco grosso misturado com álcool Zulú.

No dia seguinte, outro almoço étnico. Uma espécie de yakisoba que nos disseram ia ser tailandês, na verdade era chinês e quem preparava tinha cara de turca. Macarrãozinho requentado na hora numa chapa com cebolinha fresca e finalizado com cebolas crocantes por cima, bem oleoso e novamente cheio de curry. Parecia trash, mas sabe que caiu bem? Caiu bem e estava gostoso. Para acompanhar, uma cerveja Beck que já vem com limão, de baixa graduação alcoolica, muito boa.



Olha o mini rolinho primavera no canto esquerdo.



Mas quando chegou a noite meu corpo me pedia a gritos uma salada, um prato trivial, algo ocidental. Não conseguia mais pensar em coisas tão temperadas. Então fomos levados por uns argentinos locais (sim, nós estamos em toda parte) num restaurante ótimo chamado Sisal. Comi uma salada de mil folhas verdes com peito de frango grelhado em cima e molho de mostarda. Uma delicia! E também aspargos gratinados com presunto crú, bechamel e batata assada. Excelente! Tomamos cerveja preta. A conta, tudo incluido, oito euros por pessoa. Vinte e um reais.



Aspargos lindos na fileira do meio.



Por falar em aspargos, eles estão bombando! É a estação propícia e eles aparecem nas bancas obscenamente gigantes. E são uma delicia. Aliás, as quitandas e mercados são uma atração à parte. Até me tornar conhecedora, tinha uma fantasia patriotica sul-americana de que os legumes na europa eram ruins, que nada se comparava aos nossos tomates, bobagens desse tipo. Ok, as frutas no Brasil ganham em variedade e exuberância de dez a zero. Mas os legumes não sei não. Tudo é tão fresco, colorido e bem apresentado! Fico apaixonada por essas bancas. E me fazem lamentar muito não ter acesso a uma cozinha.



Essa banquinha fica dentro de um shopping, perto dos óculos Prada.




Setor de cogumelos.




Batatas, bananas, abacaxis, tomate cereja, gengibre...



A próxima refeição foi num restaurante italiano incrível! Da dica no site da Miss Kitten (Dj) diretamente para o prato da Miss Kitchen! A cantina fica numa esquina em frente ao canal, podendo ver os barquinhos, os branquelos torrando e um grego tocando violão. Muita gente, parecendo domingo, familias com crianças fofas passando em mini bicicletinhas, uma coisa linda. Pedi uma lasanha de aspargos que estava sublime! Gratinada com um queijo delicioso, salgadinho na medida e com um recheio generosíssimo.



Lasanha dos Deuses.



Minha amiga pediu penne ao ragú, bem bom. O molho tinha um tempero que trazia um perfume no fundo muito especial.



Qual será o segredo do ragú?



Vinho da casa, água italiana com gás. Café (descafeinado no meu caso, para proteger meu frágil labirinto) e o melhor tiramissú da minha vida! Nada doce, com um gostinho de café bom, mascarpone levíssimo e um pó de cacau por cima que chegava a ser amargo e grudava no céu da boca.


Da pra ver que está gostoso.



Para terminar, de noite, fomos num restaurante metido a besta. A garçonete, que disse que falava inglês, não entendia nada, nem quando alguém falava com ela em alemão. Nem mesmo você apontando o nome do vinho no cardápio ela conseguia entender qual era. Ainda assim, ela conseguiu trazer a entrada, que era um mix de melão, azeitonas, cogumelos grelhados, cebola caramelizada, mozzarella de búfala com tomate e pesto, queijo de cabra, pimentões assados e salmão defumado. Um pão branquinho com gosto de leite muito fresco e um vinho francês, merlot. Bem gostoso.



"Antipasti mista"



Como prato principal pedimos todos a mesma coisa. Lombo de cordeiro grelhado com molho de gengibre, croquetes de não sei o que e mais um acompanhamento que não me lembro. E não me lembro porque ele nunca chegou. A garçonete anotou o pedido, entrou no restaurante, viu que seu horario tinha acabado, tirou o avental e foi embora. Passada uma hora perguntamos se o cordeiro já tinha sido caçado e a resposta foi "cordeiro? que cordeiro?". Como assim??? Saimos ofendidos e já sem fome. Mas isso não nos impediu de ir atrás da verdadeira experiência alemã. Fomos em busca da salsicha perdida, o hot-dog da vingança. Achamos facilmente, servida numa bandejinha de papel, cheia de curry (sempre curry), com uma pilha de batatas fritas, montes de ketchup e maionese e uma mostarda super picante à parte. O tipo de coisa que só desce com coca-cola.



Tudo acaba em salsicha.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Uia que frio!

São Paulo, 15 graus


E isso não é nada! O Brasil é um pais de clima tão ameno. Pensa no frio que faz em Londres em janeiro... Quando fui pra lá, o frio me tirou totalmente a vontade de andar na rua. Só queria entrar em pubs e comer, comer, comer. Ainda por cima, a comida era no mínimo estranha. Nunca vou esquecer o "chicken kiev" que ousei pedir. Era um frango empanado e frito, assim meio gordinho. Até ai, tudo bem. O susto foi quando enfiei a faca. Foi uma explosão louca de manteiga que "contaminou" a salada e todo o resto. Super estranho, mas comi inteiro.

O problema do Brasil é que como quase nunca faz frio, não há a menor estrutura para se viver baixas temperaturas com conforto. Nem dentro nem fora de casa. Bom, agora até eu tenho um aquecedor elétrico, mas o que é isso comparado ao aquecimento central nas casas dos países frios? Na verdade, nessas situações de aquecimento assassino eu fico até enjoada de tanto calor, é algo um pouco opressor que tira o ar. Mas vamos combinar, não é legal assistir a neve lá fora de camiseta?

Nos dias de frio eu tenho muita vontade de comer. Eu e a torcida. Tenho vontade de coisas ensopadas, guisados, polenta com molho de tomate gratinado, macarrão com molho de tomate com linguiça (um fio de azeite trufado no fim), puchero (vejam o post sobre este cara), canja de galinha, lasanha. Na minha infância minha mãe fazia coisas incríveis no inverno. Lentilhas guisadas com legumes, linguiça apimentada, batata doce e ovo cozido. Guisado de grão de bico com carne de porco. Dobradinha. Tudo isso e outras coisas fizeram da minha infância algo razoável e me pouparam de alguns traumas. Porque na minha infância nas "afueras" de Buenos Aires fazia muito, muito frio. Vocês não imaginam. Eu ia para a escola de noite ainda, vencendo o vento cortante e úmido, toda agasalhada e com "mate cocido con torrejas" (chá mate com leite e rabanada) no meu estomaguinho de criança.

Ontem mesmo não resisti e fui comer uma carne. Bom, uma linguiça parrillera para começar (fininha, enroladinha, torradinha, levemente apimentada), e depois uma bela peça de vacio (corte argentino), batata assada e salada verde com abacate. Uma taça de merlot chileno (reparem como não sou preconceituosa), que estava ótimo. Chá de hortelã e alfajor de maizena para terminar. Onde? No clássico Martin Fiero, que conquistou minha fidelidade já faz tempo.

À noite tomei canja de galinha no bar Genial, na Vila Madalena. Boa! Super bem servida e acompanhada de torradas. Meus amigos pediram polenta de colher, com molho de tomate e azeitonas pretas chilenas, e caldo de feijão preto, que vem com muito torresmo. Estava tudo muito bom. A cozinha desse bar (assim como Genésio e Filial, dos mesmos donos) é sempre uma boa surpresa. Eles fazem direitinho. Eles não, ela. Eu a vi de relance, uma cozinheira de peso.

Agora vou para terras frias, os próximos posts vão vir da Europa. Berlin, Lisboa, Cannes, Londres, Paris. Só que lá a primavera está começando! O pior do frio europeu já passou. Me aguardem. Algo me diz que vai ter comida na parada.