terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal I

Tinha tanta vontade de voltar a Portugal! Mas não sabia que iria acontecer tão cedo. Foi uma grata surpresa ter recebido esse convite, e em uma semana lá estava eu, sentada no avião, tomando um belo tinto português e olhando a chuva pela janelinha. Comida de avião é aquela coisa estranha, mas nesse caso foi diferente. Isso se deve, como soube depois, a algumas medidas tomadas pela Tap, junto aos chefs parceiros (Dânio Braga e Vítor Sobral). Uma delas é não incluir molhos industrializados no preparo dos pratos. Grande sacada. Isso faz o cheiro de comida de avião se transformar em cheiro de comida, simplesmente.

Ciabatta de alecrim e Loios 2008 (Alentejo)



Saladinha.




Mil (seis) folhas.


Sentei confortavelmente e assisti a um filme que queria ver há um tempo: "500 dias com ela". É um desses filmes sobre não mais acreditar no amor, meio tristes, onde nada da certo, só que no final o filme diz pra você que dá pra acreditar sim. No final das contas, da ou não para acreditar no amor? Acho que depende do amor. Em alguns da pra acreditar, em outros não. Mas assisti ao filme e comi uma deliciosa ciabatta com alecrim com manteiguinha, salada verde com laranja marinada e amêndoas e mil folhas de legumes. A meia dúzia de folhas do mil folhas composta de finíssimas fatias de batata levemente cozida (crocantinha). E então, quando estava assistindo pela segunda vez Julie & Julia, só pra ver as comidinhas e rever meus conceitos (comentei no post anterior que não gostei do filme), foi entre um pato dessossado e um boef bourguignon que capotei, e acordei muito perto de Lisboa.



Amanhecer no avião.




Chegando em Lisboa, um dia lindo. Aquela luz que faz dessa cidade um cenário de cinema. Saí caminhando ao léu, me perdendo no já familiar Bairro Alto, até parar numa daquelas tascas bem simples, a pastelaria Orion. Eu já tinha ouvido falar que era boa e, dando sequência à minha pesquisa sobre PFs do mundo, resolvi arriscar. Pedi um dos pratos do dia: "Vitela à padeiro". Nem perguntei o que era. E sabe que estava muito bom!? Fatias macias de vitela assada com molhinho de tomate, arroz branco, batata frita sequinha e salada.




Honestidade a 4 euros.



Muito bom. Para mim é muito interessante saber o que comem as pessoas no dia-a-dia, os trabalhadores, estudantes, gente comum. E aqui, comem muito bem. Depois disso, uma passadinha no restobar do meu amigo ator espanhol, o Les Mauvais Garçons, onde comi um pudim de leite gostoso com chantilly e expresso da Tanzania. E depois, mais uma volta pelos miradouros e ruazinhas, até que ficou de noite e voltei correndo para me aquecer no hotel.

O jantar, por conta do Chef Luis Rodrigues, foi muito gostoso e aconteceu no próprio restaurante do Bairro Alto Hotel, charmosíssimo e muito bem localizado. Começou com vieiras portuguesas (macias, generosas), cobertas de caviar, que explodia na boca em graciosos estalinhos ácidos. Depois, carpaccio de pato defumado, e a estrela da noite, bacalhau com gema de ovo cozida muito lentamente, couve portuguesa e purê de grão de bico em forma de uma placa grelhada. Delicia total.





 A foto não faz jus, eu sei.


Nesse jantar ainda teve uma vitela que estava boa, mas pro meu gosto muito passada. Depois soube que tradicionalmente, esse é o jeito de serví-la em Portugal, e que carnes mal passadas são coisa mais recente, de gente "jovem". Eu, como jovem senhora argentina, vocês sabem, gosto da carne num ponto em que ela praticamente conversa comigo. Houve um caso extremo em que um bife de chorizo me contou sua infância. Esta vitela (bem macia) foi servida sobre uma batata cozida que estava um pouco salgada. Preferi o bacalhau. Fora a comida, vinhos brancos e tintos cujo nome não sei, e sorvete de avelã com pêra grelhada caramelizada. Tudo bem bom. E o melhor, a companhia. O que mais posso pedir do que uma mesa de gente que adora comida, gosta de conversar (não só falar, mas também ouvir, qualidade rara). Gente cheia de histórias para contar, com humor e inteligência. Essa foi a verdadeira sobremesa. (Sobremesa, na Argentina, é aquele papo que as pessoas tem depois do jantar).

E então fui dormir o sono dos justos, que o dia seguinte seria intenso.
Me espera um almoço/degustação na Tasca da Esquina, do renomado chef Vítor Sobral.
Depois conto sobre isso!

MK, de Lisboa, comendo castanhas assadas da banquinha da Praça Camões.

(Miss Kitchen viajou a convite da Tap, FLY TAP!)









Um comentário:

Clarice Toledo disse...

Adorei esse bacalhau!
Hoje colhi couve aqui da horta de casa, tenho na geladeira um potinho de pasta de grão-de-bico feita por uma amiga árabe e comprei hoje bacalhau no mercado municipal, para o final de ano.
Agora tenho q fazer, ou tentar fazer, algo parecido.