sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal III - Delícias do Alentejo



Ex Libris


Saimos numa manhã chuvosa, pela Ponte do Vaco da Gama, em direção a Évora. Uma pequena linda cidade rodeada de muralhas antiquíssimas onde visitamos, entre outras coisas, a Capela dos Ossos. Alguns acharam meio tenebrosa, mas eu gostei. É que as paredes são totalmente forradas de ossos e caveiras. A acústica é muito interessante, e o fato dos monges a terem construido como espaço de meditação, onde a presença da morte nos lembra do efêmero da vida, também. Ao entrar, a famosa frase: Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos. Saimos calados antes que a profecia se cumprisse, e fomos ao ex libris da cidade, ruinas do que teria sido uma homenagem a Diana, a Caçadora, mas não foi.

De Évora, partimos para a Montes da Cal, mais ao sul. No caminho, lindos vinhedos a perder de vista, oliveiras e uma grama tão verde tão verde que chegava a ser fosforescente. Chegando lá, uma construção belíssima, com referências claras à influência árabe, com amplos salões, cúpulas e decoração cheia de cores e pequenos espelhos. É lá que as adegas Dão Sul produzem alguns vinhos, realizam eventos e recebem, vindos de todo o mundo, os interessados em bom vinho português.




Sala de estar bem.





Desfile de belezas.




Conhecemos todas as instalações, desde salas de degustação e laboratório até os imensos tonéis de inox onde toneladas e toneladas de precioso líquido aguardam sua hora de ir à garrafa. Também, uma sala de barricas francesas de carvalho, onde os reserva aguardam pacientes a sua vez, no escuro. Provamos algumas variedades ali mesmo, direto do barril, o que teve todo um encanto para mim.



Ficção científica!



A seguir, a sala de jantar, em frente a uma lareira acesa, e ao lado de uma cozinha, da qual vinham aromas de enlouquecer. Num primeiro momento, os aromas me lembraram a Patagonia, mas até agora não sei por que. Todo o tempo fomos recebidos pelo hostipaleiro wine maker e enólogo Carlos Lucas, que além de entender tudo, sabe explicar com clareza e simplicidade os detalhes mais minuciosos, não só do vinho como bebida, mas o mercado internacional, as dificuldades dos produtores e até, muito oportunamente, as consequências que o vinho sofre por conta do aquecimento global.




Barricas.





O almoço foi mais uma orgia gastronômica, preparado por um chef alentejando muito eficiente e simpático. Peixinhos da horta (mini vagens fritas), brusquetas de coelho e tomate, lombinho de coelho com beringelas, vitela com purê de castanhas e geléia de morango. Tudo excelente. E isso é o que consigo me lembrar, já que a máquina fotográfica ficou sem bateria. Ah! E um bolo de chocolate levemente queimadinho e servido com uma compota de cerejas especialíssimas.




Repare nos típicos ovos verdes alentejanos à esquerda.






Provamos alguns dos vinhos da casa, cada um mais gostoso, e todos nos surpreendemos com a qualidade do Vinha de Saturno. Um vinho gostoso, fácil de tomar, e ao mesmo tempo, cheio de personalidade. Como se isso fosse pouco, acessível! Eu adorei a frase do Carlos: "Fazer um vinho excelente que esteja ao alcance de todos, é o meu trunfo como enólogo". Lindas palavras. O Porto Vintage da casa (que fez tanto sucesso que não se acham mais garrafas 2004 e 2005 no mercado) também era maravilhoso e acompanhou a tábua de queijos e frutos secos em perfeita harmonia.



Já pensou no verão?






No fim do dia, ficou tudo cinza e frio, uma melancolia contrastante com a calidez humana e gastronômica que sentiamos dentro da casa. Entramos na carrinha e voltamos para casa em silêncio, alguns dormindo, outros lembrando, todos (aposto) com vontade de ter ficado no Alentejo um pouquinho mais.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. FLY TAP!

2 comentários:

Mariá disse...

essa piscina está super "a bigger splash"...

Clarice Toledo disse...

Reza a tradição que presentear alguém com uma garrafa de vintage com safra similar à data de nascimento da pessoa presenteada é sinal de respeito e admiração.
Tradiçãozinha boa essa, não?
Pra ter uma idéia, o do meu ano, 1966, sai por 40 euros (garrafa pequena). Para minha sorte, foi um ano de safra "notável".
Adoro vinhos decantados por horas...
Ah, a ponte! Linda, não?