terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Julie & Julia




Ontem fiquei presa na chuva no meio da Paulista. Olhei para o transporte público, para os taxis, para o mau humor das pessoas e não duvidei: vou entrar no cinema. Resolvi ver um filme que ninguém queria ir ver comigo, "Julie & Julia". Naturalmente sou atraida por filmes sobre comida e pessoalmente não tenho nada contra sessões da tarde (ainda com o álibi de ter visto um filme brasileiro de autor e um Almodóvar nos últimos dois dias), e ainda por cima o filme foi inspirado por um blog (nossa, que metalinguístico que ficou isso aqui). Por tudo isso fui feliz tomar um capuccino no Vanilla Café (um pouco frio) e depois uma porção de mini pão de queijo (bem frios) no Unibanco da Augusta.

Cinema vazio, aquele sossego, um momento só meu. Tudo gostoso.
Pena que o ar condicionado estava muito forte (péssimo em combinação com as roupas úmidas pela chuva) e pena que não gostei do filme. Mas mesmo assim valeu.

Eu achei que o que vale nele é a comida. Apresentada por uma fotografia impecável, a comida brilha. São peixes assados na manteiga, cozidos com vinho tinto, brusquetas, patos... é um desfile de ingredientes e de coisas apetitosas. Lembrei de uma amiga fotógrafa, que me contou sobre diversos truques (algus nojentos) usados para embelezar as comidas nas fotos de divulgação e propaganda. Parece que rola um verniz marítimo nas carnes grelhadas, argh!

Mas voltando ao filme, achei chato. A Meryl Streep compôs um personagem, a Julia Child, que fala com uma voz de dondoca arrastada que desafina constantemente pro agudo. Cansativa e sem carisma. O personagem que inspirou o filme teria essa voz? Não sei, mas eu ficava torcendo pra ela ficar calada e voltar logo pra comida. A outra, a Julie contemporânea, uma boa moça sem nuances, caretinha e sem graça. Todas as emoções inverossímeis. Os maridos, uma lástima. Quiseram mostrar uns caras legais pra caramba, super companheiros, e acabaram apresentando homens anulados, servis e sem brilho próprio. O marido da Julie, um chato. É o mesmo ator que fez o chato noivo careta em "Vicky Cristina barcelona". Toda vez que ela serve um prato, o ator, para aparentar que aquilo esta muuuito delicioso, fica enfiando pedaços enormes de comida na boca e falando com a boca cheia. Super artificial, mais parece um cara hiper ansioso e descompensado do que alguem apreciando uma boa comida.

O filme é careta e previsível. A trilha, piegas (não poderia deixar de ser). Tudo estetizado e sem vida. Não existe ambiguidade, não tem borogodó, é tudo morninho. A mocinha é muito boazinha e muito fofinha e esforçadinha e tempo inteiro, o maridinho é um fofo constante e mesmo quando ele se satura das maluquices egocêntricas da mulher, briga um pouquino e volta pra casa em 5 minutos. E a idéia de vencer na vida sob a ótica americana capitalista é tão demodè! E ainda finge que tem uma crítica embutida a aquilo mesmo que esta enfatizando... Que preguiça de Hollywood, e desses personagens e histórias bidimensionais, sem complexidade, sem nenhum sentimento desencontrado e diria mais: sem vida interna.

Bom, o que você esperava? (alguns podem perguntar). Realmente, não esperava muito. O que esperava era ver comida bonita e isso aconteceu, então fiquei satisfeita. Voltei pra casa e comi minha torta de alho poró com queijo de cabra, esquentada no forninho elétrico, assistindo a reprise de um seriado velho.

3 comentários:

Clarice Toledo disse...

Quase nos cruzamos. Tb estava na Paulista à tarde, saí do forum perto do Conjunto Nacional e pensei em ir ao cinema (só q ver o do Almadovar).
Gostei mais de J&J que você. Tb não esperava grande coisa, mas gostei da interpretação da Meryl Streep (a Júlia é aquilo mesmo! - se tiver curiosidade, tem no YouTube)e achei o roteiro bem estruturado.
Em uma tarde chuvosa, vale.

Clarice Toledo disse...

Falando em livros de culinária e autores, vc leu "O livro de cozinha de Alice B. Toklas"?
Tô louca atrás desse livro, mas tá esgotado. Já procurei até em um sebo na esquina da Rue de Fleur, onde ela morou.
Aliás, se achasse, penso q seria um bom presente pra vc :)

Unknown disse...

Se tivesse que fazer uma lista de filmes sobre comida que gostei, eu colocaria Tampopo, A Grande Noite, Simplesmente Martha, Vatel, Angel Cake, a antropofagia de Hannibal The Canibal também pode ser vista como filmes sobre comida.