quarta-feira, 23 de julho de 2014

To meat or not to eat



Salami is meat
Procciuto is not meat
Meat empanada is not meat
Bife de chorizo is meat
Tuscan Sausage is not meat
Hamburger is meat
Ribs are not meat, a shoulder is meat

domingo, 24 de novembro de 2013

Premio Paladar


 sossegue coração

ainda não é agora
       a confusão prossegue
sonhos a fora

 calma calma
logo mais a gente goza
       perto do osso
a carne é mais gostosa

(Paulo Leminski)




O assado de tira é assim, carne-osso-carne-osso, tem um sabor acentuado, que atiça o paladar com uma luxuriosa gordura entremeada. Gostoso, pecaminoso. E como todo Eros tem seu Thanatos, pesado, eventualmente enjoativo. Paraiso dos cães, a equação parece ser: largura do corte, tempo de grelha, quantidade de sal.

Na Blitz do Churrasco de que participei, para avaliar este corte dentro do Premio Paladar 2013, ficou claro que essa conta nem sempre fecha.




Adendo. A primeira vez que peguei ônibus sozinha, aos 9 anos, foi pra ir no açougue. Na lista, assado de tira, que o açougueiro serrou na minha frente, na largura solicitada. O som da serra, a precisão da tira, a galocha branca, coisas que me faziam querer ser açougueira (também gostava da precisão do corte do bifinho, todas as fatias exatamente iguais, com aquela faca de cabo branco de gume fino e gasto). Bom, até ai, também quis ser cabeleireira, para poder mexer num cabelo de homem que não fosse o do meu irmão (que me cobrava uma taxa), cantora lírica (que só cantaria Carmen de Bizet), e astronauta (depois mudei para astrônoma, para não precisar ir pro espaço e poder casar com Carl Sagan).




Voltando à tira: um ser humano não pode se alimentar exclusivamente disso, como percebi depois de sete restaurantes. Acontece que overdose de tira produz: ligeira tristeza, boca franzida, olhos baços, sonolência, descrença no amanhã e fortes tendências vegetarianas.

Mas o experimento é válido. Segue a minha avaliação das tiras paulistanas que provei.

Bassi
Excelente. Um grande diferencial: foi o único lugar que serviu o corte mais largo, portanto mais suculento. Muito bem feito, ponto perfeito, sal na medida e um chiminchurri parceiro que quase inverteu os fatores e transformou a tira em mero suporte.







Martin Fierro
Este restaurante é um clássico, e sou um tipo de freguesa sentimental que passa a defendê-lo como se fosse seu. Assumo que meu juízo de valor esbarra numa espécie de nepotismo patrício. E a tira nem é minha conterrânea! É uruguaia, e bem fina. O ponto estava muito bom, e o sal idem. A tristeza foi prová-la na quarta degustação do dia, a alegria é saber que já a provei em muitas ocasiões. Sempre aprovada.

Varanda Grill
Boa, fina, talvez um pouco gordurosa demais? Ficou essa dúvida, mas de modo geral agradou. O ambiente é que não ajudou. Nenhuma janela, iluminação estranha, luz baixa alaranjada. Talvez eu esteja precisando de óculos.

Pobre Juan
Não há de ser o forte da casa, apesar do nome argentino. A tira passou do ponto, ou "perdeu a freada" como disse o Leo Coutinho, e tinha muita gordura. Ambiente agradável que vale pelas batatas infladas e churros com doce de leite. No banheiro, um cheiro agradável de eucalipto que me lembrou sauna e casa de praia.

Rodeio
Aqui onde deveríamos comer picanha com farofa, vinagrete e arroz biro biro, comemos tira fora de hora, com o restaurante já quase fechado. No good. Seca, salgada, sem graça. Salva pela batata do acompanhamento e pelo garçom que descreveu seu preparo. Um erro engraçado (trocar creme de leite por leite condensado numa descrição de molho para batata), uma auto-correção, uma risada geral e saimos sorrindo.

Ruibayat
Neste lugar jantei uma noite há muito tempo com o dono de uma gravadora do tipo das que apareceram na década de 90 como alternativa ao mainstream. Essas que não se sustentaram por usar um modelo de negócios falido para tentar criar novos mercados. Isso me fez pensar, na época, que poderia ser o tipo de lugar onde alguém te leva para se exibir. Mas este personagem, depois de assistir um show, pagou um jantar para minha banda (meninos falidos e famintos), pediu champagne e brindou ao meu sucesso. Lembro que comi uma picanha muito boa naquela noite. Poucos dias depois encontro este homem em outro lugar e ele finge que não me conhece. Decepções dos meus vinte anos, que logo o tempo transformou em experiência. E decepção foi também a tira do Ruibayat, a mais cara de todas, que não vale quanto pesa. Seca e salgada demais.

North Grill
Muito sal, visível a olho nú, não agradou. E ainda tinha uma goteira que pingava no meu pratinho do couvert (sabiamente dispensado). Dei uma espiada na grelha e acho que vi o churrasqueiro jogando algum líquido na carne… já torci o nariz, muito suspeito. Já soube de lugares onde se pincela a carne com óleo. Espero que não seja o caso. Nem comentei a artimanha pros meus parceiros, por não ter certeza e para não afetar seu juízo.

Conclusão, tira não é pra ser muita, nem todo dia, e nem sempre fica boa. Não é uma matéria prima que facilite um resultado regular, estável. E é o tipo de pecado que deve ser homeopático, diluido em um cardápio com outras opções mais magras. Mesmo assim, costumava ser uma das minhas carnes favoritas, como pode? Hoje estou mais para cogumelo portobelo.




Saiba mais sobre a Blitz do Churrasco e o Premio Paladar 2013

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Foi a saudade que me trouxe pelo braço




Recife é um lugar onde me sinto bem. Parece que tem uma coisa humana, um jeito, não sei, uma boa vontade. Pela terceira vez, sempre a trabalho, me deparei com gente tranquila, cuidadosa, carinhosa, bem disposta. É muito subjetivo, não sei de estatísticas humanas, mas sempre vou embora com vontade de ficar mais um pouquinho, mais pelas pessoas do que por qualquer atrativo turístico, se bem que a praia de Carneiros é uma das praias mais lindas que pisei (mas ai não é Recife).

Desta vez, perguntamos a um amigo local onde seria bom comer. Ele, sem duvidar, disse: Ah, naquele lugar que fica numa favela desfavelizada onde uma moça faz o melhor arroz de polvo do mundo. Me interessei imediatamente. No dia seguinte embarcamos num taxi, e de google maps na mão saímos à caça do Bar do Cabo.

Logo ali, do lado de Boa Viagem e do Pina, por detrás de estranhíssimos prédios futuristas lembrando o World Trade Center, aparece a tal favela desfavelizada, Brasilia Teimosa. Na verdade uma área de construções em palafitas que foi aterrada e reurbanizada dando origem a este bairro cujo nome já diz tudo. O taxista era uma pessoa muito simpática mas muito difícil. Ele simplesmente não ouvia. Eu dizia vire aqui, ele seguia reto. Uma hora parou no Kioske do Cabo (fechado, com um coqueiro triste e desbotado na fachada, um bêbado dormindo na porta e uma poça de esgoto) e quase nos mandou descer. Expliquei que não era ali e nos embrenhamos nas ruazinhas estreitas e caóticas do miolo do bairro. Dé péssimo humor, quando viu onde tinha se metido (ruas sem saída, outras onde era impossível avançar, com caminhões obstruindo a passagem) quase arrumou uma briga com caminhoneiro e nos convidou a descer onde, segundo o google traiçoeiro, estava a rua do restaurante.





Eu não conseguia entender onde era o restaurante, uns mandavam ir pra lá, outros pra cá. E nossa inadequação era tamanha, forasteiras de oculinhos descolados e mochila com lap top, deslocadas. Nos achei tão patéticas, por um momento. Mas ninguém fez menção da nossa presença e andamos, passando por casas de porta aberta, gente dormindo no meio da rua, um cachorro mutante sem pelo no corpo, crianças peladas e pilhas de lixo até chegar de novo na beira do mar, com direito a pescadores e carros em alta velocidade. Alí encontramos Iris e tudo mudou.

Iris, na verdade Irismaia, é uma senhora baixinha e bonita que nos levou pelo braço até o bar, cumprimentando todos no caminho, dizendo "já volto aqui", "oi dona maria" e cantando sem parar uma música sobre descansar numa rede, com uma afinação invejável. De repente um destino sombrio se desfez e a Brasilia Teimosa nos apareceu colorida, viva, convidativa. Tudo continuava alí, o lixo, o esgoto, a falta, mas Iris nos oferecia generosamente outro viés, como que tornando evidente a precariedade dos nossos corações.

O famoso Bar do Cabo, um botequinho muito simples, três mesas ocupadas. Pedimos o clássico da casa e uma cerveja. O garçom simpático de sorriso amplo nos trouxe copos de caldo de peixe de entrada (e de brinde).



A aparência era sim um pouco estranha. Um fundo de carne de peixe desfiada que confundi com siri, um líquido alaranjado e meio centímetro de óleo. Mas o sabor! Com limão espremido e uma gota de pimenta, um verdadeiro levanta defunto, riquíssimo. Depois de uma noite muito mal dormida, com calor-frio, mosquitos e saudades, senti que finalmente tinha acordado para o mundo dos vivos. Acompanhado de uma cerveja muito gelada e uma dose (também de brinde) de cachaça licorosa de tão gelada, com uma fatia de limão ao lado.

E então veio a estrela, o arroz de polvo. A caminho do banheiro (precário, ao lado da cozinha, sem luz nem descarga), passei pela cozinheira Natalia, outra criatura feita a base de amor, e vi como acrescentava o arroz ao refogado (cebola, cenoura, batata, coentro, tudo cortado bem pequeno), seguido de leite de côco.




Delicioso, cremoso, apimentado na medida, sal na medida, suave. O polvo macio, desmanchava na boca. Entendi quando o outro freguês me disse "agora você chegou em Recife, aqui o peixe vem direto do mar, não passa na mão de mais ninguém". Realmente nunca comi um polvo tão fresco e macio.

Endereço indispensável pra quem gosta de comer, de ser bem tratado, exemplo de como a excelência na cozinha nada tem a ver com o luxo, o estilo ou a decoração, tem a ver com gostar, com amar. Bar do Cabo, Brasilia Teimosa, encontre se puder!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Verão na Itália


Cada vez que viajo, sobretudo para destinos gastronômicos, suspiro em doce (ou melhor, salgada) antecipação imaginando aquilo que vou comer. Foi nesse espírito que partimos rumo à Itália, com essa vontade de provar tudo, mesmo esse tudo que já é tão conhecido e incorporado ao nosso dia a dia. E é só olhar o mapa. Todas as cidades tem nome de algo comestível: Parma, Bréscia, Gorgonzola. O GPS mais parecia um cardápio. Voando via Milão, chegamos pelo norte e partimos imediatamente rumo aos lindos lagos que fazem fronteira com os alpes e a Suíça. Varese, Lago Maggiore, Luino. Na região, belíssima com seu cheiro de pinheiro, seu ar puro e águas claras tive meus primeiros contatos com a comida, mas nenhum marcante. Comecei com uma refeição de frutos do mar grelhados, medíocre, servida fria com batatas requentadas e pão seco. Pensei: estou no lugar errado. Um restaurante-lounge-balada onde só se via gente tomando cerveja. Mas o cansaço era grande como o gramado, excelente pra uma criança correr enquanto o olhar embaçado de jet lag dos pais se perdia no céu claro das nove da noite, a alma tardando em chegar.





Capellini ao funghi porcini


Talvez a viagem só tenha começado mesmo naquela cidade em que paramos a caminho da Toscana, três dias depois. Onde parar, onde comer. Minha intuição e o acaso (serão a mesma coisa?) nos levaram até um restaurante familiar elegante em Berceto. Foi lá onde senti a integridade de um prato, bem servido, com mesas cheias de locais. Uma inesquecível massa caseira com o funghi porcini da região. Funghi que seria consumido à exaustão nos dias seguintes. Mas na hora, "Ah...", pensei, "agora sim". E logo chegamos em Lucca, cidade quente, que comparada aos lagos nos trouxe uma indesejável lembrança (salvas as devidas proporções) de São Paulo, com seu barulho e asfalto incandescente. Apesar do charme do centro murado, sua comida ok (servida rápido demais, sabor requentê) e seu lindo carrossel que parecia sonhado ou de filme, ficou claro que nosso lugar era um ambiente mais rural e fugimos sem pensar duas vezes da casa que alugamos pelo AirBnB, deixando para trás seus smurfes medonhos de borracha e o cheiro claustrofóbico de vela aromática.



Grelhados mistos


Chegando em Bagni di Lucca, o alívio. Ar fresco,  parquinho, crianças soltas, centrinho charmoso, deliciosa piscina municipal com vista pros vinhedos, e sem necessidade de exame médico (afinal para que serve o exame médico mesmo?) e um almoço tardio no restaurante mais turistão, daqueles com cardápio em 7 línguas e English Spoken escrito na porta. Mas o nhoque ao pesto, tão bom, confirmou: não importa se é para turista, quando é bom, é bom. E então pedi os grelhados mistos, só porque queria conhecer uma linguiça toscana que não fosse Sadia. O frango, ressecado, dispensável. O cordeiro, igual a todos os cordeiros. Mas a linguiça! Você percebe os pedaços de carne dentro dela, e não aquela massaroca indecifrável e cheia de gordura. Muito pouco sal, levemente apimentada. A Sadia não sabe o que é uma linguiça toscana. Agora eu sei.



Porco trufado em massa folhada


Então teve o dia em que realmente vibramos de emoção gastronômica, numa tarde em Cutigliano, cidade minúscula que da acesso a uma estação de ski por um funicular impressionante que sobe até 2000 metros em 10 minutos. Lá em cima, um frio invernal parecendo Bariloche em junho, me fez odiar meu vestidinho e fugir para um café, onde tomei um chocolate quente, amargo e tão cremoso que nem descia pela garganta. De volta à cidade, o verão voltou e fomos comer no restaurante que eu já vinha namorando desde a estrada "Fagiolini". Lotadasso de italianos famintos, cheiro bom no ar e o prato da foto acima. Emocionante de bom. O sabor da trufa, o crocante da massa folhada, a maciez da carne, irretocável. Há quem diga que as trufas cheiram como a boca de alguém que não escova os dentes há muito tempo. Concordo que pode ser muito forte, não pra todo dia, mas na medida certa é bom, é tão bom. Logo comprei um azeite trufado e um vidrinho de trufas negras, que oportunamente encontrarão seu destino.



"Entradinha" da casa


Numa manhã quente, veio a idéia: e se fossemos à praia? A uma hora e pouco temos o mar Tirreno, vamos? Programa de índio (com perdão dos índios que não tem nada a ver com essa infeliz expressão). Chegamos em Livorno, uma mistura de Mar del Plata com Guarujá, decadente, urbanizada demais, quente, muito quente. Onde comer? Ali? Não, aqui já fechou. Tá, então ali. E fomos parar num maravilhoso boteco de frutos do mar, lotado, onde sentamos numa mesa apertada ao lado de um casal de bronzeados noruegueses recém saídos do navio. A entradinha da casa era esse prato enorme de saladas com camarão, lulas, vieiras, lagostins. Uma delícia. E quando já não tínhamos nenhuma fome, um enorme atum grelhado com limão siciliano, tudo regado a vinho branco bem gelado. E de lá, pesados, pra uma praia escondida, de difícil acesso, com pequenas pedras que fizeram do-in à força nos meus pés, mar muito bravo, de arrebentação intransponível. Por que não fiquei na Toscana?



Pizza!


E antes de partir pra Espanha, uma breve escala em Bérgamo. O que seria apenas uma cidade-escala, para pegar o avião para Barcelona, se tornou uma surpresa agradabilíssima. A cidade alta é imperdível, com suas ruelas, a igreja de Santo Alessandro, a praça, os mirantes, os parques. Na ruazinha principal, empórios gourmet onde da vontade de comprar tudo. Padarias, docerias, pizzarias (como a da foto). Jantamos no restaurante do antigo teatro, uma polenta cremosa, batida com queijo, e uma carne de vitela cozida no vinho tinto. E a sobremesa...






MK, setembro de 2013.


sábado, 17 de novembro de 2012

O pão nosso de cada dia

Vou ao Le Pain Quotidien da Vila Madalena. Lembro quando comi um pão de centeio bem fininho com
brie e mel da Alsácia numa loja da rede na Mouffetard em Paris. Depois lembro do ar de franquia decadente que percebi na mesma loja, anos depois. Anos depois ainda, na Bélgica, passeava por Bruxelas com amigos (com vovó, criança e muitas mochilas) quando, ao passar na porta de uma loja da rede, uma menina disse para a mãe: Olha, mamãe, os ciganos, os ciganos!
E por último, um café da manhã na filial de Chueca, em Madrid, a caminho do aeroporto voltando pra casa.
Aqui na filial brasileira, um ambiente agradável, um pouco barulhento, produtos bons, atendimento regular, ainda se acertando.
Percebi que o croissant tem várias receitas. A daqui é aquele fofo aerado, muito fino e bem gorduroso. Prefiro aquela outra receita, com mais massa, mais comúm. E dentro do formato, ainda considero imbatíveis as media lunas portenhas.
Hoje, um lanche meio janta de final de tarde, com a minha filha capotada no carrinho e um tempinho para mim.
Dedico à cerveja belga Hoegaarden, de trigo, levemente amarga, opaca como aqueles azeites de oliva sem filtrar. Tostado de presunto e emental com trio de mostardas na baguete. Muito crocante, delicioso. Boas pedidas.
E um livro, onde a palavra Brussels apareceu por coincidencia (se referindo às couves e não à cidade onde fomos os ciganos).

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Recicla

Eu não gosto muito de repetir refeições, só aquelas que faço propositalmente para comer durante vários dias (sopa, puchero, cozido). Por causa dessa minha tendência ao tédio, acabo considerando o acerto na quantidade tão importante quanto a qualidade do prato. Sem neura, mas fico muito feliz em fazer a medida justa. Esta medida significa pra mim um pouco a mais do que o recomendado pela medicina (ocidental e oriental), ou seja, ficar todo mundo bem satisfeito e recorrer a sacrifícios (quase sempre masculinos) para dar conta daquele "a mais".

Por esse motivo, quando algo sobra, recorro também à reciclagem. Por exemplo. Aquele feijão azuki cozido, feito para comer com arroz dentro de um prato de almoço, no dia seguinte se transforma em salada. Como? Passo os grãozinhos no escorredor de macarrão e lavo com bastante água, para tirar o caldinho. Deixo escorrer até ficar sequinho e vou misturando com ingredientes que lembram um tabule, no qual o azuki faz as vezes do trigo. Salsinha, pepino, cebola, tomate, tudo cortado bem pequeno e temperado com limão, azeite e sal. Ou então a sobra de um salmão assado, pode ser comida fria, levemente amassadinho, temperado com limão, shoyu e gengibre, como se fosse um otoshi (aquelas entradinhas japonesas).

Neste caso, a sobra de massa folhada de uma deliciosa torta de alho porró se transformou em mini (ou devo dizer micro) mini croissant de queijo, nas opções emmenthal, cabra holandês ou parmesão argentino.



Ficou muito bom e da próxima vez vou fazer com pedacinhos de chocolate meio-amargo.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Velhos conhecidos e novas aventuras

Toda vez que chega o inverno eu entro na febre dos cozidos e guisos. Tudo bem que o inverno por aqui, se comparado com o hemisfério norte ou mesmo com a Argentina, é uma piada, mas tenho feito quase semanalmente um cozido de favas com legumes e músculo, ou mesmo o clássico puchero, tão presente na minha infância. Eles me aquecem, me nutrem, me dão conforto e, feitos em grandes quatidades, resolvem o jantar das noites frias por até três dias.

Os cozidos não tem segredo algum. Deixo os feijões de molho na véspera. De manhã, enquanto tomo café da manhã ponho o músculo para selar numa panela grossa e alta (para não haver derramamentos de óleo). É importante que a panela esteja bem quente e que você não mexa na carne, para que ela forme casquinha. Tem gente que não gosta desses aromas trogloditas logo cedo, eu não me importo, além de gostar de fazer a cozinha entrar em atividade junto com os meus neurônios. Voltando ao cozido ou guiso, uma vez a carne selada, faço um deglacè, que, apesar do nome sofisticado, é básicamente diluir os grudadinhos da carne com alguma bebida alcoólica. Além de dar um sabor, ajuda a lavar a panela. Da última vez usei um pequeno jato de cachaça mineira Providência. Neste momento transfiro a carne e seus sucos cachacentos para a panelona de barro, previamente aquecida.

Bom, fora isso, tudo que eu tiver na geladeira vai parar lá dentro, cortado em cubos pequenos ou rodelas: batata, batata doce, cenoura, salsão, cebola e por ai vai. Acrescenta o feijão, cobre com água, sal, pimenta, louro, se quiser páprika doce, alguma erva, qualquer coisa vale. Tampa, põe no mínimo do mínimo e esquece. O último que fiz esqueci por umas duas horas e meia. Ficou maravilhoso.



Puchero


Já o puchero tem lá suas especificidades. Por exemplo, se deseja que os legumes fiquem inteiros e íntegros, portanto devem ser colocados na panela numa certa ordem (do mais duro ao mais mole). Além disso precisa de elementos que caracterizem seu sabor: milho, abóbora e salsão são essenciais. Também pode ir feijão branco ou grão de bico. Na minha infância era indispensável a presença do caracú (tutano), que retiravamos com um sopro de dentro do ossinho e comiamos com mostarda. Outras carnes são bem vindas, inclusive de porco, mas eu não uso. Também pode colocar folhas inteiras de repolho branco. No puchero da foto tem couve, e também influenciado pelo cozido português, banana da terra.

O método de servir consiste em pescar cuidadosamente os legumes e comê-los no prato com bastante azeite (ou manteiga). O caldo é tomado à parte, antes ou depois, ou utilizado como base para outras coisas boas. Nesse sentido difere bastante do guiso, de aparência mais ensopada e elementos pequenos, que pode ser comido com colher.

...

Os doces nunca foram meu forte. Deve ser porque não como muito doce, sou mais do rango. Quase sempre minha fome é salgada. Mas tenho minhas sobremesas amadas. Entre elas: Isla Flotante (pudim de claras), pudim de pão, tiramissu e o clássico pudim de pão ou flan casero. Este último virou uma espécie de peça de degustação. Não gosto quando é massudo e de consistência maizenosa. Gosto dele desmaiado, mole, com furos e não muito doce. Também não me agradam os aditivos, tipo as quantidades absurdas de doce de leite que eles colocam na Argentina. Pra mim tem que ser fresquinho e puro, sem mais nada (talvez só um café expresso carioca e a conta).

Decidi quebrar meu estigma e me aventurar. Descobri que é MUITO fácil. Olha só: pega 6 ovos e duas gemas, 200g de açúcar, uma colherinha de extrato de baunilha e mistura delicadamente (sem mexer muito, nada de bater). Acrescenta 750ml de leite frio. Reserva. Coloca a forma de pudim numa boca do fogão, com açúcar no fundo (fã do olhômetro, fiz uma camada fina no fundo). Um pouco de água cobrindo o açúcar e espera evaporar e dourar. Não pode ficar muito escuro porque amarga. Deixa a forma esfriar e despeja a mistura (passando por um coador fininho para tirar impurezas, galadura dos ovos caipiras, etc). Pronto! É só assar no forno baixo em banho maria. Está pronto quando a parte de cima ficou dourada e durinha.






Pudim furadinho


Cuidado ao desenformar! É nessa hora que todo o trabalho pode ir por água abaixo.
Tem que esperar esfriar completamente. Passar uma faquinha em volta das bordas e do centro, virar num prato de uma vez e depois dar umas leves sacudidelas até que ele faz plop. Geladeira e nham!



Miss Kitchen, no inverno barrigudo de 2011