sexta-feira, 6 de março de 2009

Os pecados do mundo.

Nada melhor para encerrar o carnaval do que um cordeiro, que tire os pecados do mundo. No meu caso, o pecado de ver TV a cabo demais, tomar vinho no almoço e não pular em nenhuma avenida.

Mentira. O meu cordeiro não teve nada a ver com o carnaval. Fazia tempo que eu queria preparar algo pros amigos. Na verdade, queria oferecer o meu clássico (nossa, como soa arrogante isso!): as costeletas assadas com molho de ervas. Mas o meu forno não está funcionando -nunca funcionou- (o fogão, apesar de seu charme vintage, está um desastre, assim como a geladeira), então parti para um cozido. Não queria me arriscar, então busquei informação e inspiração em alguns livros e sites, onde vi as mil e uma possibilidades cordeirísticas: cozidos espanhois, ensopados italianos, "stews" irlandeses... No fim, resolvi fazer o que sempre faço: seguir minha intuição.

"Cordeiro lentamente cozido em seu caldo ao vinho branco, com legumes e cous-cous"

ou simplesmente

"Cordeiro de Deus!"

Adoro o glamour de batizar os pratos (fictício, como todo glamour, mas no meu caso, cozinheira desconhecida, mais fictício ainda).

Às compras
Fui no Santa Luzia, aquele lugar onde eu gostaria de montar uma barraquinha iglú e morar para sempre. Eu não iria incomodar ninguém, iria ficar quietinha perto das comidinhas, admirando a paisagem. Quem gosta de cozinhar e de comida realmente encontra no Santa tudo e mais um pouco. Comprei uma paleta de cordeiro premium de 1.600 kg e um pernil de 1,500 kg. Peças bonitas e frescas. E comprei todos os outros itens, além de um Bordeaux e um Malbec argentino (Terrazas). E sabe o que? Apesar da fama de supermercado de perua (bastante fundamentada, na verdade), o Santa é mais barato do que o Pão de Açúcar, por exemplo. Bem mais! Se você não acredita em mim, vá até a seção de queijos e dê uma olhada. O que acontece é que o Santa vende ítens que são caros, e que seriam caros em qualquer lugar, como tâmaras iranianas selecionadas, por exemplo. Mas as coisas "normais" são mais baratas e infinitamente melhores.

Bom, passado o meu surto de merchandising não remunerado, vamos ao cordeiro.
Comecei com uma marinada que levou: azeite extra-virgem, vinho branco, pimenta preta moida, suco de limão siciliano, o limão siciliano depois de espremido e alguns galhos de alecrim. O cordeiro, cortado em cubos, passou 12 horas neste caldo.


Marinada.


Com os ossos remanescentes fiz um caldo mega concentrado! Coloquei numa panela os ossos, salsão, cebola, cenoura, louro, vinho branco e sal. Cozinhei e deixei reduzir por 2 horas. Depois coloquei na geladeira e retirei a gordura excedente, que se acumulou sobre o líquido.



O caldo da cultura. Antes.



Depois.



Isto feito, selei os cubos de cordeiro (retirados da marinada, sem líquido e agora com sal) numa panela de fundo grosso, que é ótima e não é minha. Bem aos poucos, para que a carne não soltasse líquido demais e ficasse cozida. O cheiro disso já foi de enlouquecer! Depois dilui os grossos líquidos da carne em vinho branco.


Eita cheiro bom.



Diluindo.


Enquanto isso descasquei e cozinhei de leve as batatas bolinha. Meu amigo querido que chegou mais cedo pra ajudar descascou cebolas pequenas (sem arrancar as pontas, para que elas permanecessem íntegras).



Batatinhas quando nascem.



Vamos ao cozido: numa panela bem grande (cozinhei para 10 pessoas), coloquei a carne selada, as batatinhas cozidinhas, as cebolas, champignons, o líquido da marinada, o caldo reduzido e um pouquinho de sal marinho com ervas.



Panelão.



Como acompanhamento, um cous-cous absurdamente rápido e prático, com lasquinhas de amendoa torrada e passas louras. Na verdade, sultanas. Em inglês tem "raisins" e "sultanas", e é tudo uva passa. Mas eu comprei sultanas, porque achei mais nobre.



Cous-cous real.


Duas horas e alguns vinhos, salada (rúcula, alface, agrião, tomate), queijos (1 brie, 1 prima donna, 1 roquefort, 1 boursin com pimenta demais), o jantar foi servido na mesa animada. O calor era de matar, e a comida, digna do inverno no Alaska. Mas ninguém reclamou, até porque "é isso que os beduinos chics comem no deserto" (sic).



Nossa mesa.