sábado, 13 de dezembro de 2008

Abobrinhas, sim!

Eu sei que elas são bonitas e gostosas.



Há tempos atrás li um livro da Nina Horta chamado "Não é sopa". O livro tem textos que contam causos, histórias pessoais e também receitas, estas muito boas. Lembro que o que mais gostei no livro foram as receitas de comida brasileira, como feijoada ou galinhada, essas coisas. Mas uma coisa me incomodou, o capítulo onde ela falava que detestava abobrinhas, que as achava um vegetal sem graça e outras calúnias.

E não é que ontem, em sua coluna na Folha de São Paulo ela retoma o ataque a estas minhas queridas? Bom, um ataque sutil, e feito no meio de um texto muito engraçado que questionava os cardápios rebuscados de teor eco-chato (que eu também não suporto). Mas voltei a ficar incomodada. É que as abobrinhas já me deram tanta felicidade! Senti que não podia aceitar essa injustiça de braços cruzados.

Isso tudo me lembrou um programa que assisti, do cozinheiro pop inglês Jamie Oliver em que ele disse detestar alface americana e brincou de ficar atirando nelas com uma escopeta e arrebentando as coitadas no ar. Ele achando o máximo e o cara rústico que cuida da horta do programa um tanto sério. Eu achei meio absurdo, primeiro pelo desperdício, ficar estragando comida assim na brincadeira e depois porque de todas as alfaces, a americana é minha preferida. Adoro a crocância dela, acho que ela refresca qualquer sanduíche, e gosto muito mesmo do seu sabor sutil.

Matei a charada! "Eles" não apreciam a qualidade "aguada" dos dois alimentos. Claro, gosto não se discute. Todo mundo não precisa ser fã de abobrinhas ou alfaces americanas, mas por que usar um meio de comunicação poderoso para denegrir sua imagem? Eu por exemplo não gosto de... Bom, não lembro de nenhum vegetal que eu não goste agora. Mas não sou fã de mexilhão, por exemplo, e nem por isso fico dizendo que eles são um marisco desprezível nem brinco de assassiná-los em público. Tudo bem, se eu dissesse isso seria pros amigos ou neste blog, que pouca gente lê, mas mesmo assim não o faria pelo simples motivo de que posso ver a qualidade mesmo em algo que eu não consumo. E não é que eu detesto também, uma vez comi com molho de vinho branco no restaurante Manacá e foi ótimo (duas ou três unidades, no máximo).

Voltando às abobrinhas. Há dez anos fiquei amiga de um menino italiano chamado Doménico que era bonito e baixinho e fazia circo, que encanou que queria cozinhar pra mim, de tanto que eu falava em comida. Ele disse "vou fazer o melhor spaguetti com zucchini de sua vida". Ele não sabia que também seria o único, mas a verdade é que ficou uma delicia. Nunca vou esquecer. Não sei como ele conseguiu, mas eram lascas de abobrinha marinadas em azeite e rapidamente cozidas no vapor da massa, com cebola e um pouquinho de pimenta calabreza. Queijo ralado na hora, mais azeite e pronto. Maravilhoso.

Também gosto dos famosos "zapallitos rellenos", tão populares na Argentina. Tem que cozinhar o "zapallito" (versão esférica da abobrinha) de leve, tirar toda a polpa e refogar com cebola, carne moida e temperos. Depois volta o recheio para dentro das cascas e assa/gratina com queijo ralado e farinha de rosca. Só de lembrar me dá água na boca. Ou então simplesmente a abobrinha cozida com azeite e sal. Ou como parte integrante do puchero. Ou como parte integrante do ratatouille. Tenho mil motivos para gostar dela.

Abobrinha, eu te amo e vou te defender sempre que puder.



MK, gripada, dezembro de 2008.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Arturito

Eu me interesso por restaurantes de donos argentinos. Não só porque sou argentina, mas também porque sei como nós somos capazes de produzir boa comida. Então resolvi ir atrás do Arturito (como o robô). Chegando lá, um mercedão-vidro-fumê, engravatados à porta, três manobristas e uma construção arrojada. Pensei "Ihh, é chicoso demais!". Nada contra a chicura, veja bem. Mas naquele dia, além do meu visual molambo-roots de aula de yoga e meu cartão de crédito não estar em sua melhor forma, eu não tinha ânimo para ambientes muito formais. Bom, morro de vergonha de ir até a porta e não entrar. Além disso, o amável hostess disse: "pode entrar para conhecer, fica a vontade", de um jeito que nos deixou a vontade mesmo, portanto, entramos. E depois que entramos, ficamos.




Salão do Arturito


Longo salão com mesas enfileiradas em ambos lados, como num típico bistrô mas com um pé direito muito alto e as paredes revestidas de madeira escura. Um lugar elegante, bem iluminado, agradável, talvez um pouco frio. Casa cheia. Sentamos. Notei que por alguma questão de acústica, o som das pessoas conversando vinha muito alto, um ambiente um pouco barulhento mesmo, mas não formal. Bem, ficamos um tempinho alí esquecidos até que chamei a garçonete e pedi um cardápio. Ela tomou um susto com a própria distração e se desculpou com o olhar.

No site do restaurante a chef Paola Carosella diz que cozinhar não é arte para ela e sim oficio e que tem mais interesse em nutrir e alimentar do que em surpreender. Eu me identifiquei com isso, mas na verdade achei o cardápio bastante sofisticado. E a porção uma coisa nouvelle cuisine só que um pouco mais generosa. Apresentação cuidadosa. De entrada, veio um pão caseiro, excelente! Fresco, cascudinho, gostoso, do preto e do branco. Manteiga com gosto daquela que se come na roça, caseirinha. Um azeitinho muito aromático com queijo ralado fininho e bolinhas de pimenta. Couvert simples e gostoso. Adorei. Fiquei de muito bom humor.

Como prato eu pedi o peixe do dia na chapa com batatas com erva doce, tomilho e limão siciliano. Muito bom! O peixe era pescada cambucú. A batata era a estrela do prato pra mim, meio confitada, crocante, delícia. Fui economizando e quando o peixe acabou ainda tinha uma batata inteira. Também veio ao lado uma espécie de maionese temperada, boa, mas eu não curto muito maionese. Meu amigo pediu um ravioli muito louco, com sálvia, limão siciliano, manteiga de aspargos, dill e laranja. Muito interessante, cheio de surpresas na boca (e a idéia dela não era surpreender). Sinceramente, acho esses molhos à base de manteiga um pouquinho enjoativos, mas provando de carona estava perfeito.

Agora abro um parênteses para falar do quanto as pessoas às vezes não tem noção do espaço que ocupam e do limite da invasão. Outro dia fui num show e uma mulher veio até onde eu estava e começou a dançar e fumar na minha frente, de costas pra mim, a 2 cm do meu nariz. Neste caso, o maître (será que é esse o nome do cargo dele?) ficou de costas pra gente, no espaço pequeno entre nossa mesa e os vizinhos, falando sobre as virtudes de um certo vinho. Mas ele estava perto demais, meio nos invadindo, a ponto do terno risca-de-giz, muito elegante, entrar em contato com nosso potinho de manteiga e deixar de ser imaculado.

Por falar em vinho, tomamos um vinho branco em taça argentino, Alamos, o mais barato das três opções. Estava ótimo e muito gelado, ótima temperatura e linda taça. Era um vinho levemente frutado, mas essencialmente seco. Senti nele aquela coisa levemente leitosa dos chardonnay, só que mais macio no paladar. Não sou grande entendedora mas apreciei muito esse vinho. Inclusive fiquei com vontade de voltar e provar aquele que o maître emanteigado recomendava, que combinaria com o ojo de bife do cardápio.

Aliás, ojo de bife que espiei porque é o que pediram as quatro pessoas sentadas à nossa esquerda. Dois casais, todos comendo a mesma coisa. Mulheres de um lado, homens do outro. Pessoas na faixa dos 35-40 anos. Homens com camisa social dentro da calça e cinto de couro combinando com o sapato náutico. Mulheres de cabelo muito liso e... cabelo muito liso. Do nosso lado direito, quatro casais, todos comendo coisas diferentes e tomando champagne e vinho tinto ao mesmo tempo. Todas as mulheres juntas numa mesa, todos os homens na outra. Conversas paralelas e claramente separadas. Pessoas na faixa dos 50-60, elegantes e discretos.

Esse foi um pouco o clima do Arturito nessa noite. Todas as ressalvas de que falei, mas o que importa, a comida, achei muito boa. O serviço, de modo geral, também. A conta, salgadinha, mas nada absurdo. Pena que fiquei muito satisfeita, porque tem uma sobremesa que vou ter que pedir um dia, e para isso vou ter que voltar: mousse ao chocolat Valrhona Guanaja com shortbreads de sal Maldon. Não parece delicioso, o que quer que seja?


MK, novembro de 2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Endivias como se fossem alcachofras...

É só destacar as folhas uma por uma e lavar bem.
Fazer um molho.
Por exemplo, hoje fiz: shoyu, vinagre de caqui e azeite extra-virgem.
Mas pode ser também: azeite, limão e sal.
Ou ainda: azeite, limão, sal, mostarda.
E também: azeite, limão, sal, pimenta do reino moida na hora e mel.
Ou qualquer combinação dos ingredientes acima ou de outros ingredientes.
A proporção costuma ser: 3 partes de óleo para 1 parte de ácido.
Mas eu faço sempre no olhômetro.
Ai você vai usando as endivias de canoa para conter o líquido do molho.
E vai comendo uma por uma até acabar.
Se estiver só, pode sorver o molho fazendo um pouquinho de barulho.
Líquidos podem escorrer pelo seu queixo na manobra, tenha um guardanapo por perto.
Experimente!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Comida de camarim

Quem trabalha com música ou artes cênicas de modo geral sabe do que estou falando.
A comida de camarim é estranha.

Em alguns casos é produzida por empresas terceirizadas, contratadas pelo nosso contratante para servir algo que 1) não tenha problemas sanitários 2) forneça o mínimo de nutrientes para a gente poder cantar e/ou tocar e/ou atuar durante aproximadamente uma hora e meia 3) não seja interessante ou saudável em demasia.

Este camarim, que vou chamar de "camarim institucional" está composto de: fruta (ou verde ou podre, ou ambas ao mesmo tempo), sanduíches de pão de forma em formato triangulo contendo frios e alface (murcha, afinal quem sobreviveria dentro de um saco plástico lacrado?). Ah, e a liga. Nutricionistas quebraram a cabeça pensando como colar os ingredientes para que o sanduíche tenha integridade. Antigamente a solução era a maionese (que mesmo pra quem gosta fica horrível depois de 5 minutos no pão). Hoje algo politicamente mais correto, pastas de ricota com tomate seco ou ervas ou azeitona. Só como em casos de extrema necessidade.

Em oposição há o "camarim caseiro" ou "camarim interiorano", que eu considero bem melhor. É um bolo de fubá, uma rosca doce pesadona da padaria do bairro e sanduíches de queijo e salame na bisnaga. Sucos ou refrigerantes lado B de marcas regionais. Bem melhor! Pode cair um pouco pesado, mas é gostoso. E sempre tem uma garrafa térmica de café doce. Eu não gosto, mas acho aconchegante.

Tem também o camarim "vidas secas" em que o encarregado supõe que a gente precisa comer, mas não necessáriamente beber, deixando apenas uma jarra de água muito suspeita como hidratante. Este tipo de camarim normalmente é iluminado por tubos fluorescentes, alguns com defeito, fica perto do barulhento ar condicionado central e o sofá é como aquelas caixas de onde pula um palhaço, só que sem o palhaço. Molas perigosas.

Às vezes, só bebida e nada de comida. Latas de várias coisas que ficam em cima de uma mesa desde a passagem de som e que na hora do show estão intomáveis, quentes e/ou chocas (ou xocas?). Na maioria dos casos um grande isopor com gelo feito água onde boiam águas mineirais de copinho e algumas latas.

Quando eu faço o show Qualquer Lugar, cuido pessoalmente do camarim. Compro água com gás, vinho tinto argentino e alguns refris. Um pacote de Bis (experimente comer congelado, como aprendi há pouco tempo), torradas integrais, uma ciabatta, um queijo para untar (da última vez um cremoso melba com lasquinhas de côco), um queijo amarelo (emmenthal ou similar) e uma ou outra fruta (confesso que nem sempre). Às vezes compro salame, ou castanhas, ou azeitonas (espanhola gordal e preta chilena) ou alguma fruta seca. Bom, nesse mimo vai uma grana, de fato, mas vale a pena. Nunca vi músicos tão felizes!

Isso tudo me lembra o show que fizemos numa festa no Festival de Cannes. O camarim era na verdade um mini vestiário para garçons. Não cabiam duas pessoas dentro. O show começou tardíssimo e a comida não apareceu (garçons se esquivavam de nós, à moda dos toureiros). Quando finalmente apareceu era pouca e parecia canapê de Pedigree (patêzinho pra cachorro). Isso porque nós estavamos na crème da finesse do savoir faire do chic e tal. De frente pro mediterrâneo, aquela gente de cinema, saltos altos, som alto, pessoas altas, copos altos, vento e chuva. Pelo menos o whisky estava liberado. E o show foi uma diversão. 

De volta aos camarins, poderia descrever muitas situações, e convido os amigos músicos, dançarinos e atores a me acompanharem na pesquisa. Mas na verdade quero enviar (em vão, porque jamais saberão e mesmo que saibam...) uma mensagem aos produtores, donos de casa noturna, instituições e demais contratantes: Experimentem colocar no camarim dos artistas coisas que vocês gostariam de comer. Como inspiração, imaginem o aperitivo de um jantar agradável. Coloquem comida fresca mas sem frescura, de boa qualidade, leve, fácil de manusear. Façam com carinho, invistam um pouquinho mais, e sintam a diferença na paisagem psicológica do evento.

E o prêmio Melhor Camarim da minha vida vai para a Hause der Kulturen der Welt, em Berlim, onde tinha duas pessoas cuidando dos artistas e servindo full time macarronada (com tomate fresco e rúcula), dois tipos de salada, cerveja nacional, champagne, água e biscoitos doces com chá. Isso sim são condições de trabalho!


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Imagens de Belo Horizonte!

Após um breve problema técnico chamado preguiça, imagens das delicias que experimentei em Belo Horizonte. Como o problema técnico não foi completamente resolvido, as fotos estão fora de ordem. Sinceras desculpas.


Fogão a lenha do Xapuri.



Pudim espetacular. As aparências não enganam. Muito fresco e delicioso.



Meu (segundo) prato. Entre o quiabo e o arroz-com-feijão, um maravilhoso purê de banana. Ainda vou pegar a receita.




Depois dessa linguiça, recuperei a fé.



Bolinho muito sequinho. A entrada perfeita.



O meu pedido no Amigo do Rei. No potinho ao lado, uma conserva muito diferente.



Pepino recheado.



Em breve, um novo post: "Comida de camarim". Ainda estou tentando digerir, por isso não comecei a escrever.

MK direto de Campinas.






domingo, 26 de outubro de 2008

Promessas de felicidade.






Eu gosto especialmente da moldura de montanhas que a cidade tem.



A minha ultima viagem para Belo Horizonte foi marcada por promessas de felicidade, em forma de música, amizade e comida. Para começar, é uma cidade que eu gosto. Me sinto a vontade. Tenho novos e velhos amigos (mais dos novos). Não sei explicar, acho que tem uma atmosfera boa. É um desses lugares em que eu penso "poderia morar aqui", assim como em Buenos Aires, Berlim ou Curitiba. E não como no Rio de Janeiro ou Paris, onde só moraria se ganhasse por isso, e muito bem. Ou então se algo muito interessante ou muito cármico me levasse pra lá.

Voltando a BH, foram dias corridos, mas consegui encaixar algumas refeições bem interessantes. Tudo começou em pequeno estilo, no Rei do Espetinho da Rua Cristina, ou algo assim. Boteco, botecão mesmo. Mesa de plástico amarelo desbotado. Espetinho de milho e de alcatra. Quantidades colossais de manteiga no primeiro, procedência duvidosa do segundo. Em todo caso, o sabor estava bom. E eu estava com tanta fome! Para acompanhar cerveja Original, cachaça Seleta e muita, muita, muita água mineral. Isso fazendo uma horinha enquanto nossa amiga terminava seu ensaio.




Guarda do corpo do Rei.


No segundo dia já acordei pensando nisso. Um restaurante iraniano, como será? Que gosto terá? Há meses eu queria ir no Amigo do Rei, de tanto ouvir uma amiga falar. Mas havia problemas: o restaurante fecha cedo e nós tinhamos um show que talvez não acabasse a tempo. Mas isso não é um problema quando se tem uma amiga que é amiga do amigo do rei. Conseguimos uma mesona e o restaurante só pra gente.

O Amigo do Rei fica numa casa térrea, tem decoração simples, paredes brancas, imagens do Irã, som de tambores misteriosos e um cheiro indefinível. A iluminação é baixa e confortavel. O atendimento eficiente e sem frescuras. Para explicar um pouco mais sobre o país e sua culinaria, os proprietários elaboraram uma cartilha muito útil, que derruba mitos e desfaz preconceitos. Eu li inteira e fiquei ainda mais curiosa com o sabor da comida. Acontece que eu, como todos, e como a cartilha sabia, achava que ia comer algo parecido com comida árabe. Não que seja algo radicalmente diferente, há pontos em comum, nos temperos e mesmo nos produtos utilizados, mas os pratos do Irã tem uma essência singular, não há dúvidas.



Fessenjouhn



Por exemplo, para começar, uma bebida muito refrescante e diferente. Parecia feita de água com gás?, limão? algum xarope exótico? Segredo. Além disso tinha pedacinhos de pepino boiando. Muito gostoso e ótimo como aperitivo. Como entrada, pepino recheado, adoro pepino, adorei. Os pratos principais tinham nomes interessantes, como o FESSENJOUHN, "esferas de carne de primeira envolvidas em molho de romã e nozes". A minha vizinha pediu este prato e eu adorei, um pouco adocicado, totalmente fora do comum. Eu pedi cubos de filé mignon com arroz, não lembro o nome do prato, mas estava muito bom também. Na verdade aconteceu "aquilo" comigo. Aquilo é quando gosto do prato dos outros mais do que do meu. Gostei mesmo foi do cordeiro servido em forma de pasta com um pão folha muito muito fininho. Simplesmente delicioso. Eu devia ter levado um para viagem.

Tudo cozinhado pela Cadbanou (ou: mulher dotada de excelente desempenho em culinária), Dona Nasrin. Simpática e muito rápida! Como conseguiu servir 12 pessoas ao mesmo tempo, estando sozinha na cozinha? Parece impossível! Bom, além de cozinheira é amante da poesia e trabalha como intérprete quando esses diretores de cinema iranianos que a gente gosta vem pro Brasil.



Xapuri.



No dia seguinte, outro dia muito quente, depois de um banho de cachoeira revigorante no Clube Campestre (a 20 minutos de casa!), encarar a segunda empreitada gastronômica, para a qual me preparei durante tanto tempo. Fomos, em jejum, almoçar no Xapuri, na Pampulha.

O Xapuri é a quintessência da mineirice em estado bruto, puro, fumegante e irresistível. tem cara de fazenda, com suas mesas de madeira e a vista pra um grande gramado. É muito grande, rústico e bonito. Por toda parte garçons passando com panelas de ferro quentes e chapas fervilhantes. Um fogão a lenha alimentado por grossas toras e cheio de panelas grandonas com caldos engrossando e coisas maravilhosas ensopando. Uma bela recepção.

Vou direto ao assunto: linguiças chapeadas que vem na mesa abertas transversalmente e acompanhadas de cebola e pimentão, bolinho de mandioca, frango caipira ensopado com legumes e pedaços de milho (experimente o caldo ancestral deste cozido e reveja seu conceito de levanta-defuntos), mexidão (com carne, linguiça, arroz, ovo cozido), xuxu refogado, arroz, angú, feijão, que mais? Era muita coisa e eu comi de tudo com muito gosto. Simplesmente delicioso. Como disse na hora, que pena que não estava nevando e fazendo muito frio, para poder comer mais. Mas o calor era de matar e eu estava quase explodindo quando chegou o incrível pudim de leite e as nunca antes vistas broinhas de milho, para acompanhar o sensacional cafezinho mineiro. Teve gente que ficou com dor nas costelas flutuantes de tanto comer (aquelas costelas que mulheres loucas querem tirar para ter mais cintura).

O Xapuri também tem uma mulher poderosa no comando, Dona Nelsa, que veio até a mesa conferir se estava tudo bem. Soube então que tudo começou com ela cozinhando para familia e amigos que vinham filar uma boia. Até que um dia tinha tanta gente filando a boia que foi virando restaurante e crescendo até se tornar a instituição que é hoje e que eu tive prazer de conhecer em ótima companhia.

Voltei para São Paulo e no tédio do avião fiz um esforço de memória e elaborei uma longa lista mental: a dos pratos que não pedi.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Vive La Fête!

Para mim, mais interessante e gostoso do que qualquer restaurante é aquilo que as pessoas comem em casa. E se a casa é um apartamento charmoso em Paris, estratégicamente localizado na rua da feira e habitado por uma familia de gente agradável, inteligente e aconchegante, melhor ainda.

Tive a sorte de ser convidada para um jantar delicioso, calcado na simplicidade e cheio de sabores sedutores. Começamos com um vinho Margaux (muito bom, comprado na loja Nicolas do Marais), baguete fresquíssima em rodelas e patê de tomate muito especial, adocicado, perfeito.

Conversa vai, conversa vem, surgem da cozinha (nunca vi tanto tempero junto) uma série de panelas lindas, fumegantes. Era um frango caipira ensopado em seu molho, com amêndoas crocantes, acompanhado de arroz branco soltinho e mini vagem.



Comi dois pratos como este e um chorinho.




Olha que mesa mais linda!


Tudo simples, tudo lindo. Da toalha de mesa aos pratos, passando pelos talheres, taças e assuntos. Da música contemporânea ao clima do Japão, descobrindo amigos em comum, coincidências interessantes e muitas risadas.

Então, quando eu começava a me perguntar se tinha comido demais, chega uma dupla maravilhosa! Salada de folhas verdes, fresquinhas, crocantes e um camembert delicioso. Claro que esqueci meus pensamentos anteriores e me entreguei.




Repara nessa faquinha!


Quatro garrafas de vinho mais tarde, chega a tão esperada (por mim) sobremesa. Ela tinha ficado o tempo inteiro numa mesinha ao lado e eu não parava de olhar pra ela e me perguntar o que era exatamente.

Era um brownie feito com nozes do quintal e compota de pêra... também do quintal! Que maravilha! O brownie nada doce (por isso consegui comer 4 pedaços), a compota deliciosa, com gosto de fruta mesmo, doce na medida e combinando perfeitamente com o sensacional bolinho.



Dios mio!


Para terminar, um cafezinho cheiroso, mais algumas risadas e voltar pra casa (pro hotel) no metrô vazio, feliz da vida. Não troco essa experiência por nenhum restaurante parisiensse, e espero um dia poder retribuir tão generosa familia.

Merci!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Inesquecível Japão

Cardapio pendurado.


Sim, como alguns notaram estive ausente. Alguns terem notado foi inclusive uma alegria para mim. Acontece que bem no começo da minha viagem fiquei órfã de note-book. Ele morreu num quarto de hotel em Tóquio enquanto eu... jantava.



Comida de plástico na vitrine.



A comida no Japão me pareceu muito gostosa, leve e barata. Sim! Ao contrario do que a gente imagina, dá pra comer muito bem por pouco dinheiro. Esse é um dos mitos sobre o Japão que vi cair. Outro é a idéia de uma caótica multidão, excesso de informação, rítmo frenético. Sim, há muita gente, a tecnologia impressiona, há grafismos coloridos por toda parte, mas nunca vi cidade mais organizada e limpa do que Tóquio. E mais: em qualquer cantinho tem uma pequena floresta, as cigarras berram muito alto nas copas das árvores, as privadas tem regulagem de temperatura, as pessoas são respeitosas e de poucas palavras. Terra de contrastes e surpresas, uma delícia.


Mimo de hotel.


Minha vida gastronômica se dividiu entre almoços baratos em locais escolhidos ao acaso, jantares muito legais onde tive a honra de ser convidada, private dinners (aqueles jantares em quartos privados) e lanchinhos nos "combini" (lojas de conveniência 24h que há em qualquer esquina).


Os almoços casuais forma muito bons! Quase sempre pedi arroz (lindo, brilhante, oleosinho), legumes refogados (sempre apimentados e com um tempero delicioso), missoshiru e chá. Também tempura (quase sempre muito oleoso, mas bom), guioza, peixes grelhados, conservas, saladinhas. Tudo muito bom, em lugares tranquilos com ar condicionado (o calor era infernal) e com muitos fumantes por perto.



Best guioza of your life.


Entrar num "combini" é uma experiência muito legal. Dá gosto olhar as embalagens e tentar descobrir do que se trata. Tem suco de praticamente qualquer coisa e logo fiquei fã de um de legumes (eu já gostava do V8 que vende no Brasil). O iogurte também é bom. Isotônicos de todo tipo, sopinhas instantâneas, macarrões instantâneos, marmitas de comida pronta, etc. Todas as embalagens muito inteligentes e fáceis de abrir. Os temakis por exemplo, vem embrulhados de tal maneira que ao puxar o celofane, uma camada de filme transparente sai de entre o arroz e a alga, fazendo com que fique fresquinho e crocante. Bem, no combini você encontra todo tipo de coisa necessária... bebida, fralda, fogo de artifício, sorvete, maquiagem, utilidades domésticas., revistas, tudo. Se não tiver no combini, talvez o que você procura não exista.



Num combini com você, num combini.


Agora, os jantares muito especiais. Sempre aquela mesinha baixa, a penumbra tão característica (leiam o "Elogio da sombra" para saber mais) e um saquê que me fez descobrir que o que eu bebera no Brasil pensando ser saquê na verdade era outra coisa. É leve, suave, gostoso, seco sem ser excessivamente adstringente. Uma coisa. Você bebe um monte e não tem ressaca (na verdade, um monte pra mim são duas, no máximo três doses). Nestes jantares, no embalo do saquê, e especialmente nos "private dinners", vivi experiências muito marcantes, algumas inquietantes.



Rolinhos com recheio de... vagem?


Por exemplo, mini lula crua com cabeça. Resolvi ser corajosa e provar. Mordi a parte branquinha e pensei "ok, consigo encarar", então mordi a cabeça e vi que não seria possível mastigar aquilo... engoli inteira. Não posso dizer o mesmo do espetinho de moela. Que carne era aquela? Fibrosa, com gosto de miudo e consistência de porco. Muito estranho! Não consegui, nem mastigar nem engolir. Prefiro não comentar mais a respeito. Entre um prato e outro (dentro de uma sequência interminavel de partes de frango) a gente tinha uma cumbuca de nabo ralado com gema de ovo crú, para limpar o paladar. E era uma limpeza e tanto! Mas essas foram basicamente as únicas coisas onde vi minha limitação. De resto comi muito, de tudo um pouco, e me deliciei.

O café da manhã, ocidental. Café com leite e bolinhos industrializados. Torrada de pão com manteiga! Suco de garrafinha. Para alguns, sanduiche de camarão. Eu cai nos tais bolinhos, que eram bons, muito menos doces que os nossos. Sempre num café da rede Doutor (o dono é brasileiro), em Akasaka. Onegaishimas..., Corrilate? (coffee latte), domo arigatô...

Quero voltar!


Café da manhã ocidental.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Voando pro Japão


Devagar se vai ao lounge.



Escrevo do lounge da KLM em Amsterdam, onde espero minha conexão para Tóquio, daqui a duas horas. Na verdade nem sei se tenho o direito de estar aqui nesse sofazinho, com wi-fi livre e café expresso. Por via das dúvidas não perguntei. Ninguem perguntou nada também, quando entrei. Vai ver tenho direito sim, e algum complexo terceiro-mundista não me deixa acreditar.

Daqui, confortavelmente acomodada na poltrona vermelha, depois de um delicioso banho no serviço de chuveiros do hotel Mercure (pela facadinha de 15 euros -e valeu cada centavo!) fico lembrando o jantar de ontem no avião. Acho que o milagre aconteceu! O jantar estava, sério!, muito gostoso! Na hora de servir a moça perguntou "beef or sea food". Ai, que dúvida. Pensei: sea food será um peixinho grelhado ou um crustáceo estranho? Beef será um bifão, um medalhão, um strogonoff? O que será mais leve, afinal de contas? Escolhi o beef e torci pela presença de legumes.

E não é que era uma delicia? Pedaçinhos de carne meio ensopadinha num molho que certamente tinha vinho tinto, farfalle levinho só no azeite, cenoura e ervilhas cozidas no vapor. Muito gostoso! Fiquei feliz! Só não provei a sobremesa: um bloco amarelo cremoso com um teto de gelatina e sementes de maracujá.

Já o café da manhã... novamente um bloco retangular (usaram o mesmo molde da sobremesa), mas dessa vez de omelete com queijo. Um pouco salgado, mas comível, vai. Tinha também uma espécie de pudim de leite, só que mais massudo, servido quente e boiando em leite, muito doce. Estranhíssimo! Fiquei com medo, só provei por curiosidade. Um muffin doce e oleoso demais e uma salada de frutas que tinha até uma cara boa, mas não comi.

Só água, água, água, que é o que me salva no avião. Agua de beber, água termal no rosto (e, confesso, dentro das narinas), alongamentos, suporte na lombar e calma, que daqui a pouco a gente chega.

Acho que perdi o medo de voar.

sábado, 26 de julho de 2008

Namastê?




Em sânscrito: "O Deus que há em mim sauda o Deus que há em ti". Foi com estas palavras que fui recebida num restaurante indiano em São Paulo, o Tandoor. Eu já tinha ouvido falar (bem) do lugar. Esperava uma coisa talvez um pouco mais chique, ou mais arrumadinha. Até ai, tudo bem. Não precisa ser chique para ser bom. Estava feliz com a escolha por ser um programa diferente e por me lembrar os tantos indianos em que comi recentemente na Europa (principalmente em Berlim). Ótimos indianos nada chiques em que me deliciei por pouquíssimos euros.

Ao sentar na mesa reparei no pé direito, um pouco baixo pro meu gosto. É que tenho uma combinação de claustrofobia com agorafobia que me faz querer sempre locais amplos e sem muita gente, pros lados e pro alto. Deve ser o Deus que há em mim... Outra coisa: a iluminação. Não gosto de locais muito claros mas achei um pouco escuro demais, ou talvez seja o tom das lâmpadas, não sei. Vou perguntar à amiga iluminadora que estava comigo o que é que tinha na luz que me deu tanto sono. Até ai, tudo bem. Companhia boa, conversa boa, tudo certo.

Pedimos como entrada uma porção de samossas de legumes, um pão com alho e uma tortilha de milho com vinagrete e coentro. Tudo legal. As samossas um pouco sem graça. Aquele gosto onde predomina a pimenta e os outros sabores ficam meio duvidosos. Pro meu paladar fica faltando uma certa acidez ou... não sei. Mas às vezes na comida dita indiana, sinto que os sabores são "mornos", não ativam certas regiões do meu paladar e não fico satisfeita. Não sei. Muito subjetivo?

Junto com a entrada um conjunto de três molhos. Chutney (acho que de tomate), algo marrom escuro indefinível e algo marrom claro que estava com um gosto bem estranho. A minha amiga achou que estava azedo. Eu não provei, mas mexi com a colher. Onde já se viu um molho frio borbulhar? Pois esse molho borbulhava e pedimos para levar embora. Torcemos o nariz.

Bom, vamos aos principais. Não estavamos com muita fome então pedimos dois pratos para dividir. Se fosse pouco pediriamos mais. Um carneiro "marinado no rico molho de iogurte", grelhado no espetinho. Estava bom, um pouco ressecado, o queimadinho da brasa era um ponto a favor, o iogurte era imperceptível. Com limão melhorava. Uma beringela cozida com tomate e outras coisas, quase na forma de um creme. Não reconheci muito a beringela (só as sementinhas na boca), porque novamente tinha aquela pimenta, o mesmo sabor "morno" das samossas, nada muito instigante. Mas estava bom, vai. Até que uma das pessoas na mesa, ao dar uma garfada, encontrou um objeto desagradável. Sabe quando você corta com a tesoura uma embalagem tetra pack? Aquele triangulinho da ponta? Pois tinha um pedaço de embalagem na comida. Reclamamos com o garçom, que levou o pedacinho embora sem falar uma palavra.

Desconforto geral, mas comemos até o fim. Como sobremesa um arroz doce bastante místico, que pro meu gosto tinha cravo demais. Mas era interessante, servido quente. Um café "Brik" carioca, bom, e a conta.

Eu esperava que o prato que veio com pedaços de embalagem não fosse cobrado. Todos esperavamos isso. Mas foi cobrado e não só isso. O garçom não trouxe o troco do pagamento da conta. Era pouca coisa, dois reais no máximo. Mas eles não trouxeram. Então minha amiga suiça, que é dessas pessoas que não tem medo de se indispôr para fazer valer um direito, reclamou. O garçom trouxe dez reais de troco, como se isso compensasse os descuidos todos.

Um verdadeiro desastre gastronômico! Um mico! Problemas sanitários sérios, algo inadmissível. Nunca mais volto nesse lugar e não recomendo. Uma pena. Ter sido atendidas e servidas dessa maneira, me leva a pensar naquele "Namastê" na entrada. Aquela coisa do Deus em mim e tal. Você imagina uma conexão com o sagrado na pessoa que se curva para te comprimentar, humildade, dignidade. Aquela coisa yoga, ayurveda, doshas, purificação, desapego, iluminação. Uma fantasia ocidental? Não sei, mas nesse caso é mentira, é só uma cena. Pra mim o que ficou foi molho fermentado e tetra pack na beringela.

...

(ainda bem que hoje jantei um queijo burrata da puglia, orechieti com bacalhau e um malbec argentino maravilhoso, no Pasquale, ufa!)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Miojo

Eu gosto de miojo.
É incrivelmente prático.
Mas dispenso os molhos de envelopinho que vem junto.
Tenho aversão a glutamato monossódico. O tal aji-no-moto.
Ainda que em algumas ocasiões o ingira como parte integrante das comidas de pacotinho.
Outro dia, por exemplo, comi uma batata frita sabor frango assado.
Até saber que era "sabor frango assado" estava achando bom. A consciência do sabor (artificial, exagerado, acentuado pelo vilão glutamato) me fez sentir como se estivesse bebendo uma televisão de cachorro.
Claro, frango de padaria pode ser muito bom. Mas isso é outro capítulo.
Voltando ao miojo.
Às vezes como só, com azeite, parmesão e sal com ervas.
Às vezes só lemon & herbs.
Azeite sempre.
E também gosto de incrementar com ervilhas frescas, cogumelos, pedacinhos de abóbora, beringela. Qualquer coisa rapidamente refogada com um pouquinho de alho.
Ontem caprichei. Fiz um refogadinho com lombo de porco defumado (que sobrou de uma sopa de cenoura), cogumelos paris frescos, espinafre e tomate cereja. No auge da friturinha um pouco de vinho branco, deixa reduzir, um fio de creme de leite fresco, tampa, desliga o fogo, coa o miojo, joga o molho em cima, um fio de azeite extra virgem, parmesão.
Tudo pronto em exatos 5 minutos.
Comi na frente da TV, assitindo um capitulo velho de Smallville, entre um trabalho e outro.
Gosto de fazer isso.
Adoro miojo.
Mas dispenso os molhos de envelopinho que vem junto.

sábado, 12 de julho de 2008

Ici Bistrô (ou a importância de se fazer reserva)

De noite também é lindo.



Noite dessas, depois de trabalhar durante horas numa trilha sonora com uma amiga, resolvemos sair para comer "uma coisa leve e gostosa". Mas onde? Sexta-feira à noite, Vila Madalena já lotada. Preguiça de dirigir, de estacionar, de escolher, de pensar. Então, num insight eu disse "já sei!" e veio o uníssono "Ici!". É bom concordar assim, de livre e instantânea vontade.

Pegamos felizes o rumo de Higienópolis, pela Sumaré vazia. Chegamos, tinha uma vaga quase em frente (às vezes tenho vergonha de chegar na porta dos restaurantes com meu carro velho e sujo, mesmo que estas mesmas caractéristicas componham em outras situações o charme e extravagância de uma cantora com óculos de aro beige). Ao entrar, o que era de se esperar (literalmente), cheio. Como só tinha um casal esperando resolvemos sentar e tomar alguma coisa enquanto nossa mesa (fumantes? tanto faz!) vagava.

Mas quem vai ter vontade de sair rápidamente do ambiente acolhedor do Ici Bistrô? A iluminação é uma delicia, num tom âmbar suave que nos deixa mais bonitos mas não impede o enxergar da comida (é estranho comer sem saber do que se trata). A acústica boa, se pode conversar tranquilamente, sem cacofonia nem tumulto, musica suave bem escolhida, "what a difference a day makes?". O serviço é ótimo, sem frescura. A sommelière, que nós conhecemos de outros carnavais menos franceses, nos explicou tudo que não sabiamos sobre a uva tannat. A hostess foi sincera quanto à duração da demora, os garçons atenciosos, daqueles que sabem te deixar em paz mas não somem.


Coisa linda.


Por esses e outros motivos, como o desfile de pratos lindos como o de cima saindo da cozinha, esperamos aproximadamente uma hora. Tomando um vinho francês tannat-merlot, água com gás e couvert: pasteizinhos de carne recém feitos, quentes e crocantes, pão frances, pão de cebola, manteiga, queijo de cabra e um maravilhoso e simples patezinho de beringela. Mas comemos tanto que quando chegou a mesa estavamos um pouco altas e sem fome.

Por isso pedimos duas meias-porções de risoto trufado de cogumelos. Adoro risoto, adoro cogumelos, adoro o aroma de trufa em pratos brancos. Então apareceu o Benny, chef e proprietário da casa (que nos ouve e nos lê, que honra!) e nos presenteou com um prato dos deuses. Cassoulet de frutos do mar! Servido numa mini panelinha Le Creuset, cheirosa e borbulhante. Minúsculos e macios anéis de lula, pequenos e saborosos mexilhões, vieiras grelhadas antes de ir pro ensopado (que maravilha), e camarão (ou era lagostim?). Tudo no molho de tomate, feijão branco, caldo do cozimento, sabor suino, temperos. Uma delicia! Belíssimo presente.

Para harmonizar a sommelier trouxe um outro vinho, um jerez branco cheio de personalidade. Foi difícil tomar com o paladar já contaminado pelo tinto. Tinha um aroma muito forte, que lembrava acetona e bastante acidez. Preciso de mais referência e educação enológica para apreciar este tipo de vinho. Mas provei e achei interessante.

A essa altura, passado o cassoulet, o que fazer com os risotos? Odeio desperdício, odeio pedir comida demais, odeio comer algo delicioso sem a devida fome. Por sorte, deu tempo de cancelar e o garçom não olhou feio nem criou caso. Tentamos terminar o vinho (não conseguimos, somos peixes pequenos), mas terminamos a água e saimos felizes, sem ter provado nenhum dos maravilhosos pratos do cardápio nem as sobremesas que passavam sedutoras ao nosso lado (ainda vou precisar daquele creme brulee).

Da próxima vez, fazer reserva. Faça reserva. Ou então, arrisque, e talvez tudo conspire em favor da sua felicidade.


ICI Bistrot
Rua Pará, 36
Higienópolis
3257-4064
www.icibistro.com.br

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Paris, Amsterdam e o retorno.

Onde está Wally?


Já em São Paulo, e ainda processando a chegada, escrevo sobre os ultimos dias da minha viagem. Escrevo olhando para esses dias (e essas comidas) em perspectiva, e por conta dessa distância, me sentindo mais objetiva.

Estou aos poucos chegando à conclusão de que não gosto de Paris. Não quero soar arrogante, é claro que não é ruim estar lá, certo? Mas vindo de uma variedade de outros lugares, Paris acaba ganhando o primeiro lugar em: pessoas antipáticas, cocô de cachorro e tensão social. A cidade é linda, mas já a vejo como algo cenográfico, de mentira. Cinza, um pouco suja. Vi no metrô pessoas com o olhar muito desencantado. Muitas etnias convivendo, mas não sem um atrito visível e sem solução. Ou serão meus olhos?

Em todo caso, a comida continua excelente. Passei uns dias me dedicando a esperar a hora do almoço (andando no Jardin des Plantes, por exemplo) e ir num lugar pré-escolhido de um excelente guia. Sozinha, com meu livro e meu iPod. O primeiro lugar que escolhi foi La Pré Verre, no Quartier Latin, onde estive há dois anos e comi o mais sensacional leitãozinho com molho de especiarias e acelga crocante. Pois voltei, sentei na mesma mesa e pedi a mesma coisa.





Quando eu penso nesse prato me da água na boca. Me dá vontade de chorar. Me dá vontade de pedir desculpas a Paris por tudo que acabo de dizer. O leitão desmancha ao cortá-lo com o garfo e boia num molho meio leitoso, com sabor de diversas especiarias e um toque suave de canela, sabor de caldo de carne, sabor de creme, sal na medida, muito sabor. Um colchão de acelga japonesa bem crocante e que fica em suas dobras embebida do molho. Uma fava de baunilha por cima, um prato bem quente, garfo e colher, paraiso.

Ai, meu Deus. Bom. No dia seguinte outra experiência maravilhosa. Le Moulin de la Gallette, em Montmartre. Fui de cabeça na "formule du jour", menú de 3 pratos por 28 euros. Ai. De entrada uma clássica salada de chevre chaude. Muito boa! Torradinha crocante com o queijo derretido em cima e os verdes muito frescos e bem temperados.



O vermelho no meio é um coulis de pimentão.



Depois um prato muito gostoso. Cubos de carne de cordeiro com molho de cebolas, sobre uma cama de penne al dente, creme de cenoura e rúcula fresca. A foto não é boa, mas estava delicioso. A taça de vinho é um rosê da Provence, sequinho e fresco.




A foto não é boa.



E a sobremesa, um duo de mousses (chocolate preto e branco) com calda de chocolate e sorvete de amendoas. Chá verde com menta para acompanahar. Bom, mas muito. Só comi metade.






E foi isso. A comida redimiu minha sensação de estar no lugar errado. Bom, a comida e um show muito agradável no teatro que aparece no começo deste post. Uma coisa intimista com clima de cabaré, regada com um ótimo vinho tinto. E depois um jantar num restaurante argentino médio, onde a carne era dura mas a companhia muito divertida.


...


Em Amsterdam me senti em casa. A cidade me conquistou de cara. Claro, fiquei muito pouco, não posso ter uma impressão profunda. Mas posso dizer que a atmosfera me era muito agradável, indepentente de qualquer atrativo turístico. Na verdade fiquei em Alkmaar, a 60 quilômetros da capital, uma cidadezinha muito bonita, inteiramente arborizada, cheia de flores, numa casa maravilhosa, comendo comida boa feita por espanhóis.

Só fiz duas refeições fora de casa. Uma noite de Tepan Yaki, aquela coisa performática em que a comida é feita na sua mesa. Um pouco anacrônico, me lembrou quando há 20 anos apareceu o primeiro restaurante japonês em Buenos Aires. Porções pequenas, mas muito gostoso. Comi salmão grelhado, legumes, sushi, sashimi, aspargos embrulhados em filezinhos de vitela, sorvete frito, comi qualquer coisa, estava morta de fome.

No dia seguinte almocei no Marché du Monde. É um galpão onde tem várias barracas e você pode escolher entre uma variedade de culinárias. Colocar vegetais numa cumbuca e entregá-los ao cozinheiro para preparar no wok, fazer um pratão de salada fresca e variada, escolher uma quiche, massas, carnes, doces, sucos. Muito limpo, organizado e gostoso. Comi um wok de legumes que ficou assim meio sem graça. Não queria comer carne e me faltou inspiração. Foi salvo pelo curry verde.




Marché du Monde.



Então voltei pra Lisboa, minha ultima escala. Jantei numa tasca, vitela aos coentros e arroz de tamboril. Delicia! Fiquei feliz em me despedir de Portugal com uma refeição feliz! Tomamos um vinho ótimo chamado Esteva, e para terminar, o famoso pudim alentejando. De lamber os dedos.

No dia seguinte, entrei no avião para voltar. Me serviram coisas horríveis, só de olhar para a bandejinha perdia o apetite. Fiz uma dieta à base de pão com manteiga e filmes na telinha, um atrás do outro. Até que passou rápido.

De volta em São Paulo, o conforto do conhecido, os restaurantes de sempre, voltar a cozinhar. Ontem fiz o que batizei de "moqueca mediterrânea". Um peixinho em tiras grossas (congrio chileno), ensopado com tomate, cebola, batata cozida e azeitona preta. Regado de vinho branco e temprado com tomilho limão. Que saudade.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Las comilonas en Madrid

E agora, escrevo sobre Madrid sentada num café em Paris. Chove muito! Estou tomando um capuccino bem quentinho com um croissant bem crocante, daqueles em que a gente não precisa passar nada. Delicia!


Chueca, point de MK em Madrid.



Em Madrid foi muito rápido mas tive várias experiências gastronômicas interessantes. Logo na minha chegada minha amiga quis me levar num chinês. Eu disse OK, mas no fundo fiquei encanada. Não queria comer chop suey num lugar pequeno cheirando a fritura. Mas não era nada disso! Olha como são os preconceitos! O local (Don Lay) era amplo, luminoso e arejado. Os garçons, todos chineses, não falavam uma palavra de espanhol mas eram bem simpaticos. Comemos muito! Foi pato laqueado, macio, em finas fatias e com um molho adocicado delicioso. Depois uma espécie de guioza cozido no vapor recheado com barbatana de tubarão. Maravilhoso! Também um peixe grelhado com frutas e acelgas chinesas cozidas com champignons. Água com gás em garrafa de um litro e um chá verde para finalizar. Super gostoso! Pena que não levei a camera fotografica.

No dia seguinte, outra orgia. Fomos na Casa Hortensia, num restaurante de comida típica asturiana que fica dentro de um prédio. Logo na entrada você dá de cara com um presuntão crú muito ameaçador! Devia ter fotografado na entrada, porque na saida estava coberto de gordura para não ressecar já que o restaurante tinha encerrado as atividades.



O presunto foi dormir.



Logo que sentamos trouxeram um pratão de queijo manchego (da região de La Mancha). Lembra um roquefort, só que mais suave e bem cremoso. Isso e um pão gigante e crocante em forma de rosca. Difícil resistir. Ainda por cima é de praxe pedir primeiro e segundo pratos. E com o queijo eu já estava quase ficando satisfeita.






De primeiro prato pedimos um peixe (bonito) assado no forno, servido com cebolas douradas e batata frita. Super gostoso. A essa altura eu já estava totalmente satisfeita, pensando em tomar um chá. Então chegou a perdiz ensopada com molho de tomate e feijão branco, "perdiz con fabada".



Estava tão bom!


A perdiz era uma delicia! Uma carne delicada, mais gostoso do que frango e num molho super bem temperado. Tive que fazer um exercício para parar de comer, porque já estava quase passando mal. Então chegou um arroz doce queimado por cima como se fosse um creme brulee. Muito bom, mas foi só uma colherada. Não consegui ir até o fim. Minha amiga espanhola, criada no pais Vasco deu o veredito: "Tu comes poco!".

E esta amiga é proprietária de um retaurante no bohemio bairro de Chueca. Com poucas mesas e uma proposta de "comida de mercado", ou seja, o que está legal no mercado é o que ela serve no dia. E ela cozinha muito bem. No meu terceiro dia ela tinha que preparar um jantar para 30 pessoas e me convidou a participar do processo. Vou contar como foi, mas desde já posso afirmar: Que Puta Trampo!

Tudo começou indo a um grande mercado próximo ao aeroporto de Barajas. Compramos de tudo, e minha tarefa era riscar da lista o que já tinhamos. A peixaria era incrível, tinha de tudo. Até lagosta viva.



Olha o tamanho das merluzas.



Depois os legumes, as entradas, acompanhamentos, sobremesa. Tem que ter um olhômetro e um jogo de cintura incrível para se adaptar ao que o mercado oferece. Procurando as carnes, passamos pelo setor de presunto.





E o carrinho ia enchendo.





Depois, descarregar, colocar as coisas na geladeira e freezer e deixar tudo preparado para a noite. Nem adiantava cozinhar, porque ela só faz as coisas na hora. O cardápio incluiu bolinhos de polvo e sua tinta, carpaccio, pimentão grelhado, merluza assada, salada, e muitas outras coisas. Crepes, sorvete. Regado a vinho tinto. Foi um sucesso. Acabei a noite lavando louça as 5 am. E sem comer! Tinha tanta fome que tudo acabou num café da manhã em pé numa banquinha de italianos. Nada charmoso, mas bem gostoso.



Tudo acabou em pizza.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Portugal, aprendendo a aceitar.

Um eléctrico chamado desejo.


Estranho escrever sobre Portugal sentada no café em Madrid. Bom, a vida de viajante é assim mesmo. Escrevo desde o café Diurno, num balcão olhando para a rua, tomando um chá branco e comendo una focaccia de champignons, brie e pesto. Uma delicia! Mas deixa eu lembrar Portugal.

Confesso que Lisboa, para quem vinha de Berlim, foi um choque. Daquela coisa arrumadinha, arborizada e cheia de espaços abertos para uma coisa apertadinha, antiga e com um ar decadente que é com certeza responsável por boa parte do charme. Lisboa é uma cidade interessante, cheia de cantos escondidos e surpresas. A arquitetura, a vista do Tejo dos vários miradouros, a luz. É muito lindo! Bom, falando na paisagem humana, as pessoas não são um exemplo de simpatia, há um jeito meio bronco no ar. Mas a gente aprende que não é pessoal, eles são assim com todo mundo, então releva-se. E nem todo mundo é brutamontes, há muita gente interessante também. Na verdade tudo é muito familiar. Estranho e familiar (a deinição de Freud para o monstruoso). Posso ver o Brasil aqui, entender um pouco mais o pais onde vivo, assim como me sinto na Espanha em relação à Argentina. Mas com certeza este é outro mundo.

Viver aqui é comer coisas contundentes. Tudo começa de manhã com um pingado, um sumo de laranja e uma tosta mista. Esta ultima, versão local do misto quente, costuma ser excelente. O pão é bom, vem bem tostado e o recheio não é aquela obscenidade das padocas brasileiras. São duas fatias de cada coisa, digamos. Sutil, derretido e gostoso. Então começa o perigo. Em Portugal adquiri o hábito de encerrar o café da manhã com um doce. Pastel de nata, travesseiro, bolo de manteiga, coisas do gênero. Tudo com recheios a base de ovo. Ovo, ovo, ovo.



Café A Brasileira, no bairro do Chiado. Foto de 1935.



A comilança continua no almoço. De entrada muito pão, manteiga, salada de grão de bico, queijos interessantes de ovelha, presunto cru. A seguir o infalível bacalhau. Experimentei grelhado, com natas e com broa. O ultimo foi o mais gostoso, com uma farinha de milho crocante por cima e espinafres por baixo. Também comi polvo grelhado com batatas ao murro, servido numa panelinha de ferro, num restaurante no Bairro Alto. A quantidade de azeite nesse prato não dá para explicar. Tempero bom, mas polvo duro e faltava sal. Na verdade senti falta de sal em todas as refeições, o que me faz pensar no meu paladar, se ele não esta um pouco viciado... Tenho que mudar isso pelo bem do meu coração.

Pontos altos em Lisboa foram o restaurante Agito, no bairro alto, onde comi coisas meio nouvelle cuisine, porém super bem servidas e temperadas. Eles tem uma entrada que é de matar: tamaras enroladas em bacon e grelhadas. Não dá para comer só uma, nem duas. Outra coisa legal foi o café Les Mauvais Garçons, atendido por varios homens de diferentes nacionalidades todos absurdamente bem apessoados. A comida é ótima, coisas leves, tortas com salada, bacalhau, tapas, massas. Chás do mundo inteiro e internet wi-fi.




O que sobrou de uma placa...



Já no norte as coisas mudaram um bocadinho. Fomos para Porto, onde jantamos numa churrascaria incrível e onde finalmente provei um bolinho de bacalhau do bom. Isso e depois vitela super macia com batatas fritas, arroz e salada. Praticamente um PFão... Muito bom. Também jantamos na Casa da Musica, que é um centro cultural sensacional que tem um restaurante no ultimo andar. Um pouco pretensioso e sem sabor, mas naquele horario e com aquela fome, ótimo. Isso depois de assistir um concerto numa das salas com melhor acústica em que já estive.

Depois, passeando no Vale D'Ouro, um almoço muito bom à beira rio, com cabrito assado e legumes. Depois mais bacalhau, em Vila Real (este não muito bom, caiu super pesado), e um jantar médio em Guimarães, num restaurante para turistão. Estava tudo razoável, eu pedi uma costeleta assada que veio um pouco pálida mas tinha bom sabor. Agora, a linguiça que pedimos foi a coisa mais estranha! Veio uma coisa totalmente preta, recheada de uma gordura rija, que nem a faca de serrinha conseguia vencer. Mas o vinho (Esteva), era excelente. E o ambiente, medieval. No dia seguinte, voltando de Braga a Lisboa, paramos em Mealhada para provar o tipico leitão. Uma delicia! Um pouco magro, digamos que tivemos que brigar pela carne, mas muito saboroso e com um molhinho para acompanhar que era bem interessante, à base de pimenta do reino e ervas, bem salgadinho, combinava muito bem.



Um bequinho numa cidade pequenina.



Em matéria de doces o Pastel de Belém reina soberano. É um clichê mas é real. Ele vem quente, com massa folhada e uma suavidade no recheio indescritível. Conheci uma mulher magra que é capaz de comer doze unidades de uma tacada só. Como é possível que ela seja magra? De minha parte, engordei um pouco. Muito pão.

Em Portugal tive que superar uma certa decepção. A comida não foi como eu esperava. Pensei que eu fosse me deliciar constantemente com tudo. Tive ótimas experiências mas não foi como nas minhas projeções. Mas também, quem mandou "esperar"? A gente tem que ir pras experiências aberto e sem expectativa. Quem consegue?



Pastel de Belém, o rei!

sábado, 24 de maio de 2008

Cannes e Londres

Mundo Cannes...


Como descrever Cannes, especialmente durante o famoso festival de cinema? Bom, a cidade até que deve ser bonita, fora de temporada, longe dos grandes festivais que habitam o Palais. Mas nessa época é uma superpopulação de caçadores de celebridades, gente cafona, mulheres siliconadas, todos em seus carrões, grandes motos, limusines. Aliás, tem desconhecidos que alugam limusines e se fazem passar por famosos. Coitados. Mas é muita gente mesmo, do mundo inteiro, num desfile incessante de crachás, indo e vindo pela Croissette (orla do mediterrâneo). Para se ter uma idéia, tem um horario em que acontece a "marche des artistes", que é quando os famosérrimos entram no Palais pelo tapete vermelho. O trânsito pára e milhões de tietes ficam a postos para conseguir uma foto, um autógrafo, um olhar ou nada.

Mas vejamos o lado bom. A cor do mar é linda, tem sim pessoas interessantes, e como não podia faltar, a comida e os vinhos. E nessas de comer, ficamos andando na multidão a procura de um restaurante, mas tudo lotado, tudo dificil até que apareceu numa rua lateral o bistrô Dauphine, vazio. Era tarde para almoçar, cedo para jantar. Mas fomos bem recebidos e eu pude apreciar coisas que adoro na França. Coisas simples. Salada de chevre chaude e uma taça de vinho rosê da Provence. A salada tinha torradinhas, um brie de cabra derretido, folhas verdes, tomate, cogumelos e pedaços de bacon. Muito boa. O vinho, fresco e seco, levemente frutado.



Salada de chevre chaude (fonte: The inner life of food)



As outras experiências gastronômicas interessantes em Cannes foram uma peixada com camarão feita por uma amiga de Belém (delicia) e o croissant do café da manhã do hotel (a unica coisa que prestava). Mas a verdade é que não deu tempo de comer mais nada, porque tive que sair correndo para Londres.




Terra da coxinha?


Chegando em Londres, a primeira coisa que comi foi uma coxinha de frango com Guaraná. Estava boa! Um pouco fria e oleosa, mas o tempero do recheio molhadinho e muito bom. Foi uma visita relâmpago a uma cidade famosa por ter má comida. Mas não é que o encanto se quebrou? Fui jantar num restaurante grego numa esquina em Covent Garden, e a comida estava muito boa! Totalmente troglodita, uma paleta de carneiro grelhada por 4 horas e depois marinada no vinho e temperada com especiarias. Servida com salada e arroz branco. Uma delicia! A carne desmanchava, muito saborosa. Escolhido por acaso foi de longe o melhor lugar onde já comi nessa cidade (onde comi pouquissimas vezes...). No dia seguinte de manhã, tomei café no aeroporto de Heathrow, um pão duro e gelado com recheio de frios, literalmente muito frios e um café com leite, adivinha... frio!



Cordeiro na grelha



Agora estou em Lisboa onde a alimentação é um tema aparte. Aliás acabo de comer uma tortilla espanhola com pantumaca e salada verde. Como aperitivo, vinho do porto. Acompanha agua com gás Perrier e de sobremesa torta de maçã com sorvete. Mas sobre a comida em Lisboa falo mais depois... É tanta coisa!