segunda-feira, 9 de junho de 2008
Portugal, aprendendo a aceitar.
Estranho escrever sobre Portugal sentada no café em Madrid. Bom, a vida de viajante é assim mesmo. Escrevo desde o café Diurno, num balcão olhando para a rua, tomando um chá branco e comendo una focaccia de champignons, brie e pesto. Uma delicia! Mas deixa eu lembrar Portugal.
Confesso que Lisboa, para quem vinha de Berlim, foi um choque. Daquela coisa arrumadinha, arborizada e cheia de espaços abertos para uma coisa apertadinha, antiga e com um ar decadente que é com certeza responsável por boa parte do charme. Lisboa é uma cidade interessante, cheia de cantos escondidos e surpresas. A arquitetura, a vista do Tejo dos vários miradouros, a luz. É muito lindo! Bom, falando na paisagem humana, as pessoas não são um exemplo de simpatia, há um jeito meio bronco no ar. Mas a gente aprende que não é pessoal, eles são assim com todo mundo, então releva-se. E nem todo mundo é brutamontes, há muita gente interessante também. Na verdade tudo é muito familiar. Estranho e familiar (a deinição de Freud para o monstruoso). Posso ver o Brasil aqui, entender um pouco mais o pais onde vivo, assim como me sinto na Espanha em relação à Argentina. Mas com certeza este é outro mundo.
Viver aqui é comer coisas contundentes. Tudo começa de manhã com um pingado, um sumo de laranja e uma tosta mista. Esta ultima, versão local do misto quente, costuma ser excelente. O pão é bom, vem bem tostado e o recheio não é aquela obscenidade das padocas brasileiras. São duas fatias de cada coisa, digamos. Sutil, derretido e gostoso. Então começa o perigo. Em Portugal adquiri o hábito de encerrar o café da manhã com um doce. Pastel de nata, travesseiro, bolo de manteiga, coisas do gênero. Tudo com recheios a base de ovo. Ovo, ovo, ovo.
A comilança continua no almoço. De entrada muito pão, manteiga, salada de grão de bico, queijos interessantes de ovelha, presunto cru. A seguir o infalível bacalhau. Experimentei grelhado, com natas e com broa. O ultimo foi o mais gostoso, com uma farinha de milho crocante por cima e espinafres por baixo. Também comi polvo grelhado com batatas ao murro, servido numa panelinha de ferro, num restaurante no Bairro Alto. A quantidade de azeite nesse prato não dá para explicar. Tempero bom, mas polvo duro e faltava sal. Na verdade senti falta de sal em todas as refeições, o que me faz pensar no meu paladar, se ele não esta um pouco viciado... Tenho que mudar isso pelo bem do meu coração.
Pontos altos em Lisboa foram o restaurante Agito, no bairro alto, onde comi coisas meio nouvelle cuisine, porém super bem servidas e temperadas. Eles tem uma entrada que é de matar: tamaras enroladas em bacon e grelhadas. Não dá para comer só uma, nem duas. Outra coisa legal foi o café Les Mauvais Garçons, atendido por varios homens de diferentes nacionalidades todos absurdamente bem apessoados. A comida é ótima, coisas leves, tortas com salada, bacalhau, tapas, massas. Chás do mundo inteiro e internet wi-fi.
Já no norte as coisas mudaram um bocadinho. Fomos para Porto, onde jantamos numa churrascaria incrível e onde finalmente provei um bolinho de bacalhau do bom. Isso e depois vitela super macia com batatas fritas, arroz e salada. Praticamente um PFão... Muito bom. Também jantamos na Casa da Musica, que é um centro cultural sensacional que tem um restaurante no ultimo andar. Um pouco pretensioso e sem sabor, mas naquele horario e com aquela fome, ótimo. Isso depois de assistir um concerto numa das salas com melhor acústica em que já estive.
Depois, passeando no Vale D'Ouro, um almoço muito bom à beira rio, com cabrito assado e legumes. Depois mais bacalhau, em Vila Real (este não muito bom, caiu super pesado), e um jantar médio em Guimarães, num restaurante para turistão. Estava tudo razoável, eu pedi uma costeleta assada que veio um pouco pálida mas tinha bom sabor. Agora, a linguiça que pedimos foi a coisa mais estranha! Veio uma coisa totalmente preta, recheada de uma gordura rija, que nem a faca de serrinha conseguia vencer. Mas o vinho (Esteva), era excelente. E o ambiente, medieval. No dia seguinte, voltando de Braga a Lisboa, paramos em Mealhada para provar o tipico leitão. Uma delicia! Um pouco magro, digamos que tivemos que brigar pela carne, mas muito saboroso e com um molhinho para acompanhar que era bem interessante, à base de pimenta do reino e ervas, bem salgadinho, combinava muito bem.
Em matéria de doces o Pastel de Belém reina soberano. É um clichê mas é real. Ele vem quente, com massa folhada e uma suavidade no recheio indescritível. Conheci uma mulher magra que é capaz de comer doze unidades de uma tacada só. Como é possível que ela seja magra? De minha parte, engordei um pouco. Muito pão.
Em Portugal tive que superar uma certa decepção. A comida não foi como eu esperava. Pensei que eu fosse me deliciar constantemente com tudo. Tive ótimas experiências mas não foi como nas minhas projeções. Mas também, quem mandou "esperar"? A gente tem que ir pras experiências aberto e sem expectativa. Quem consegue?
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4 comentários:
engraçado como tudo pode ser pretexto para se evoluir espiritualmente, até se entupir de pastéis de nata...
POr vezes criar expectativas tem dessas coisas...
Mas quem consegue não as ter??
Faltou experimentares os pastéis de cerveja, bem na frente dos pastéis de belém, e beber o pontapé :)
Baccio
Gostei!
Concordo em partes hehe
Mas não ofende ninguém!!
Beijoo
e sobre paris?
e sobre são paulo?
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