domingo, 26 de outubro de 2008

Promessas de felicidade.






Eu gosto especialmente da moldura de montanhas que a cidade tem.



A minha ultima viagem para Belo Horizonte foi marcada por promessas de felicidade, em forma de música, amizade e comida. Para começar, é uma cidade que eu gosto. Me sinto a vontade. Tenho novos e velhos amigos (mais dos novos). Não sei explicar, acho que tem uma atmosfera boa. É um desses lugares em que eu penso "poderia morar aqui", assim como em Buenos Aires, Berlim ou Curitiba. E não como no Rio de Janeiro ou Paris, onde só moraria se ganhasse por isso, e muito bem. Ou então se algo muito interessante ou muito cármico me levasse pra lá.

Voltando a BH, foram dias corridos, mas consegui encaixar algumas refeições bem interessantes. Tudo começou em pequeno estilo, no Rei do Espetinho da Rua Cristina, ou algo assim. Boteco, botecão mesmo. Mesa de plástico amarelo desbotado. Espetinho de milho e de alcatra. Quantidades colossais de manteiga no primeiro, procedência duvidosa do segundo. Em todo caso, o sabor estava bom. E eu estava com tanta fome! Para acompanhar cerveja Original, cachaça Seleta e muita, muita, muita água mineral. Isso fazendo uma horinha enquanto nossa amiga terminava seu ensaio.




Guarda do corpo do Rei.


No segundo dia já acordei pensando nisso. Um restaurante iraniano, como será? Que gosto terá? Há meses eu queria ir no Amigo do Rei, de tanto ouvir uma amiga falar. Mas havia problemas: o restaurante fecha cedo e nós tinhamos um show que talvez não acabasse a tempo. Mas isso não é um problema quando se tem uma amiga que é amiga do amigo do rei. Conseguimos uma mesona e o restaurante só pra gente.

O Amigo do Rei fica numa casa térrea, tem decoração simples, paredes brancas, imagens do Irã, som de tambores misteriosos e um cheiro indefinível. A iluminação é baixa e confortavel. O atendimento eficiente e sem frescuras. Para explicar um pouco mais sobre o país e sua culinaria, os proprietários elaboraram uma cartilha muito útil, que derruba mitos e desfaz preconceitos. Eu li inteira e fiquei ainda mais curiosa com o sabor da comida. Acontece que eu, como todos, e como a cartilha sabia, achava que ia comer algo parecido com comida árabe. Não que seja algo radicalmente diferente, há pontos em comum, nos temperos e mesmo nos produtos utilizados, mas os pratos do Irã tem uma essência singular, não há dúvidas.



Fessenjouhn



Por exemplo, para começar, uma bebida muito refrescante e diferente. Parecia feita de água com gás?, limão? algum xarope exótico? Segredo. Além disso tinha pedacinhos de pepino boiando. Muito gostoso e ótimo como aperitivo. Como entrada, pepino recheado, adoro pepino, adorei. Os pratos principais tinham nomes interessantes, como o FESSENJOUHN, "esferas de carne de primeira envolvidas em molho de romã e nozes". A minha vizinha pediu este prato e eu adorei, um pouco adocicado, totalmente fora do comum. Eu pedi cubos de filé mignon com arroz, não lembro o nome do prato, mas estava muito bom também. Na verdade aconteceu "aquilo" comigo. Aquilo é quando gosto do prato dos outros mais do que do meu. Gostei mesmo foi do cordeiro servido em forma de pasta com um pão folha muito muito fininho. Simplesmente delicioso. Eu devia ter levado um para viagem.

Tudo cozinhado pela Cadbanou (ou: mulher dotada de excelente desempenho em culinária), Dona Nasrin. Simpática e muito rápida! Como conseguiu servir 12 pessoas ao mesmo tempo, estando sozinha na cozinha? Parece impossível! Bom, além de cozinheira é amante da poesia e trabalha como intérprete quando esses diretores de cinema iranianos que a gente gosta vem pro Brasil.



Xapuri.



No dia seguinte, outro dia muito quente, depois de um banho de cachoeira revigorante no Clube Campestre (a 20 minutos de casa!), encarar a segunda empreitada gastronômica, para a qual me preparei durante tanto tempo. Fomos, em jejum, almoçar no Xapuri, na Pampulha.

O Xapuri é a quintessência da mineirice em estado bruto, puro, fumegante e irresistível. tem cara de fazenda, com suas mesas de madeira e a vista pra um grande gramado. É muito grande, rústico e bonito. Por toda parte garçons passando com panelas de ferro quentes e chapas fervilhantes. Um fogão a lenha alimentado por grossas toras e cheio de panelas grandonas com caldos engrossando e coisas maravilhosas ensopando. Uma bela recepção.

Vou direto ao assunto: linguiças chapeadas que vem na mesa abertas transversalmente e acompanhadas de cebola e pimentão, bolinho de mandioca, frango caipira ensopado com legumes e pedaços de milho (experimente o caldo ancestral deste cozido e reveja seu conceito de levanta-defuntos), mexidão (com carne, linguiça, arroz, ovo cozido), xuxu refogado, arroz, angú, feijão, que mais? Era muita coisa e eu comi de tudo com muito gosto. Simplesmente delicioso. Como disse na hora, que pena que não estava nevando e fazendo muito frio, para poder comer mais. Mas o calor era de matar e eu estava quase explodindo quando chegou o incrível pudim de leite e as nunca antes vistas broinhas de milho, para acompanhar o sensacional cafezinho mineiro. Teve gente que ficou com dor nas costelas flutuantes de tanto comer (aquelas costelas que mulheres loucas querem tirar para ter mais cintura).

O Xapuri também tem uma mulher poderosa no comando, Dona Nelsa, que veio até a mesa conferir se estava tudo bem. Soube então que tudo começou com ela cozinhando para familia e amigos que vinham filar uma boia. Até que um dia tinha tanta gente filando a boia que foi virando restaurante e crescendo até se tornar a instituição que é hoje e que eu tive prazer de conhecer em ótima companhia.

Voltei para São Paulo e no tédio do avião fiz um esforço de memória e elaborei uma longa lista mental: a dos pratos que não pedi.

8 comentários:

fernanda disse...

Como diziam na antiga Pérsia agora Irã, ﭻ ﺺ ﮋ ﻍ ﻦ ـاً ﺢ ﺺ ﮔ ﻡ ﻯ ﻫ.

fernanda disse...

Como dizem nas Gerais, se não tem mar, vamos para o bar ou é no andar da carroça que as abóboras se ajeitam.

Clarice Toledo disse...

É madrugada, estou na chácara e vc me deu vontade de comida mineira (e de BH). O q faço agora?
Olha só, dicas pra vc q tá no litoral essa semana.
Almoce no restaurante Vista ao Mar, próximo à balsa pro Guarujá (ao lado do Senai). Peça meca (atum branco)grelhada ou no espeto, ambas ótimas!Tudo regado com muito azeite.
Lugar sem frescuras, honesto e ótimo preço.
Aproveite e compre pó-de-café da marca Menezes. Vc consegue perto da Rodoviária, em uma daquelas casas seculares e detonadas do porto de Santos. Mesmo vc não sendo fã de café, vale a pena. Toda a produção vai direto pra Alemanha e vc só encontra esse pó lá. Dica de viciada, MK.

Mariá disse...

xapuri e amigo do rei, dois dos meus restaurantes favoritos!

o xapuri é uma espécie de puxadinho do céu (ou do inferno, como bem quiserem) aqui na terra.

e Deus é aquele pudim de leite que a gente come no fim quase não aguentando mais.

...ou seria aquela linguiça estalando na chapa?

Anônimo disse...

prometemos e cumprimos para servir sempre!
: )

Unknown disse...

Nossa, eu adoro o Xapuri! Amigo do rei só fui uma vez, mas agora vale voltar e confirmar o que você falou!
Me deu até fome!

Unknown disse...

Adorei, adorei!
Sempre gostei de belo Horizonte, apesar de só ter passado, e muito rapidamente, por lá 1 vez. Sei lá, simpatia gratuíta....
Amei os links, muito bom conhecer o amigo do amigo...
Agora, o que é esse pudim? SENHOR!!!!

Unknown disse...

Que surpresa encontrar as tuas palavras tão amáveis sobre o Amigo do Rei. Próxima vez que vier, confesse quem você é!
Abraços do Claudio e da Nasrin