quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal II - A Tasca da Esquina





Acordei já em clima de expectativa, tomei um banho rápido e desci para tomar café da manhã no hotel. Lindo pequeno almoço! Frutinhas, cereais, shots de iogurte, ovos mexidos, diversos pães, croissants, geléias. Uma beleza. Mas eu queria comer pouco, para me preservar pro almoço prometedor. Por isso peguei só uma fatia de pão de centeio, uma de presunto cru e um café preto.

Para abrir o apetite decidi andar um pouco. Fui até o Museu de Arte Contemporânea do Chiado. Uma exposição muito interessante, minimalista, do artista David Claerbout. Vídeos com imagens estáticas, como stills, onde só um elemento se move. Outro em que uma senhora fica se mexendo lentamente numa cadeira de balanço, com o sol aparecendo e saindo do seu rosto. Se a gente andasse, ela virava o rosto como se estivesse nos vendo, ou nos ouvindo. Simples e inspirador. Mas olhei o relógio e vi que estava na hora, voltei correndo.






Fomos em caravana de taxis até a Tasca da Esquina, o restaurante do Vitor Sobral. O lugar é simples e aconchegante, bastante iluminado e logo na chegada já se vê a cor e se sente o cheiro do que virá. O próprio Chef, uma graça. Minha primeira imagem dele foi a de um homem com a mão na massa, ou melhor, as mãos num enorme bacalhau, lindo, ainda salgado.







O almoço foi uma sucessão interminável de prazeres. Começando com um queijo incrível e azeitonas interessantes, uma espécie de pãozinho recheado de ervilhas com curry (o filho da samossa com o pão de batata) e vinho, muito vinho.



Delicia!


Bati meu recorde, bebi 15 vinhos diferentes numa única refeição, composta de diversos pratos em pequena quantidade e com sabores muito diversos e especiais. Começando com uma sopa de tomate deliciosa, com acidez na medida certa. Depois vinagrete de polvo, este muito macio, desmanchava na boca.



Super macio.


Camarões assustados (quase crus) sobre um leito de maionese rala (quase um aioli mas sem o alho). Bacalhau feito de maneira bem tradicional, com um azeite de aroma maravilhoso. Rabada (uma manteiga), com finas fatias de abobrinha, sobre uma emulsão de ervilha e, last but not least, um gateaux de chocolate maravilhoso, com farofa de amêndoas. Uma festa.



 Camarão assustado.



Bacalhau perfumado.




Rabada.



Além disso, os vinhos, também estrelas do almoço. Escolhidos por um juri de experts, era um melhor que o outro. Eu, que não sou grande conhecedora das minúcias do vinho, mas sei do que gosto, escolhi três (quatro, contando o Porto que fechou o almoço) que me agradaram especialmente. Entre os espumantes do aperitivo, adorei o Luis Pato. Dos brancos, o Paulo Laureano, alentejano, delicioso. Quando provei este vinho me lembrei de iogurte. Pensei: se eu disser isso vou passar vergonha, melhor não opinar, só dizer "mmm, que gostoso". Então a Luciana Lancelotti, que escreve sobre gastronomia e viagens e tem um portal muito legal chamado Bistrô Pimenta, disse "este vinho é abaunilhado". Matou a charada. O que estava me lembrando é um iogurte de baunilha que descobri na França e que me vicia sempre que vou pra lá.



Muito vinho.




 Chave de ouro, com Porto Vintage da Churchill.


Voltando aos vinhos, vamos aos tintos. Teve um que desceu tão redondo, que fui obrigada a repetir a dose. Tive que degustar de novo, sabe? Para captar mais uns detalhes e poder emitir uma opinião mais completa (que na verdade se reduziu a uma onomatopéia de prazer). É o Churchill Estate. O mais legal foi ver que minha opinião não estava lá tão distante daqueles conhecedores que me acompanhavam à mesa.

A companhia, novamente, um prazer a parte. De um lado, um guru da gastronomia portuguesa, praticamente uma enciclopédia. Em frente, um Chef, simpático, simples, nos dando ótimas dicas. Por toda parte, jornalistas, brasileiros e portugueses, trocando informações. Executivos nada formais. Gente entendedora dos assuntos, mas acima de tudo, entendedora de um estilo de vida, despretensioso e espontâneo, baseado em amor pelo trabalho que faz e nos prazeres de uma boa mesa e uma boa conversa. Coisas que por mais banais, nos fazem sentir que a vida vale a pena. É que ela não tem sentido, né? A gente que dá.



Boas companhias.

...

Fiquei sentimental (ou devo dizer, existencial?), eu sei. É que eu me emociono observando as relações humanas. Pois, de noite fomos ao fado, e toma emoção. Lembrei muito do tango. Fiquei pensando nessas letras, na nostalgia, e também na alegria. Fiquei pensando em como um interprete pode sobreviver a um gênero. Como reverenciar a tradição mas colocar algo seu dentro disso. Fiquei pensando nos clichês turísticos, e na essência que encontra seu caminho para se mostrar e sobretudo pensei no prazer de viajar, de como isso muda nossa relação com o tempo, o espaço, as pessoas, e principalmente, com nós mesmos.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. FLY TAP!

4 comentários:

Mariá disse...

uau, que orgia!
traz um porto vintage desse pra nóis? ;-)

Mariá disse...

pela primeira vez achei rabada um prato bonito e atraente... que coisa maravilhosa!

Clarice Toledo disse...

Ouve a Mariá...os vintage vão todos pros EUA e vc não encontra aqui. Pelo visto vc gostou muito. Traz logo dois!
O Luis Pato além de gostoso tem uns rótulos fofos! Mas o Pato tem aqui sim.
Já pensou essa rabada com molho de agrião ao invés de ervilha? Mais comum, mas tvz o azedinho da erva combine mais. A foto tá show.

Natalia Mallo disse...

Sim, essa rabada com agrião ficaria muito interessante. Mas parece que esse chef adora ervilhas, né?