sábado, 15 de dezembro de 2007

Vidinha mais ou menos...

La Casserole


Ontem, sexta-feira de trânsito e garoa fina, resolvi ir à Sala São Paulo, para ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven, uma peça que é uma espécie de Britney Spears da música erudita, bem pop. A famosa lanchonete de lá também me interessava. E mais uma coisa que preciso confessar, nunca fui à Sala São Paulo! Isso sempre me fez sentir meio ignorante, inferior, plebéia, passo vergonha na frente dos meus arranjadores. Só que, chegando lá, não tinha mais ingressos, tudo esgotado. Pensei: de repente saio da minha mania de só pensar em comer e vou assistir uma peça qualquer, assim, sem saber do que se trata, posso me surpreender...

Acabei no tradicional "La Casserole", no Largo do Arouche. Afinal, é uma outra instituição da cidade que eu não conhecia, tão importante quanto. Logo na entrada reconheci o Maître, era o Júnior, ex-marido de uma amiga que eu não via há 10 anos. Era ou não era? Era! Só que ele se transformou no Chef Aldo Alves, as pessoas mudam! Achei ótimo. Ele foi super atencioso assim como todos os garçons. Como estava cheio, fui conduzida até a última mesa, lá no fundo. Técnicamente a pior mesa, mas eu não achei! Dela eu tinha visão privilegiada da porta da cozinha, de onde saia um desfile de belezas que colocava qualquer fashion week no chinelo.

Vi passarem escargots, pernas de carneiro, camarões, fois-gras, saladas, risotto de cogumelos, sorvetes, mousse de chocolate. Uma visão dos Deuses.

O couvert foi muito refrescante, com bastões de pepino, salsão, cenoura e cebolinha. Também um pão francês bem fresco e uma manteiga muito gostosa, salgadinha. Tentei comer pouco. Não consegui. Pedi uma taça de Chardonnay Terrazas (Arg), para acabar de derrubar meu preconceito com vinho branco, e como prato principal lulas grelhadas ao azeite de alho com mini legumes assados. Não tenho palavras para descrever o perfume e a sensualidade do prato (bom, isso já são palavras para descrever). As lulas estavam quadriculadamente grelhadas e tinham uma consistência levemente borrachudinha (deviam ser congeladas, tão longe do mar estamos), mas nem isso ofuscou o sabor delas. Tinha umas lasquinhas de alho assado e era um prato molhado, cheiroso e bonito. Bem mais bonito que a foto, feita com celular. Fiquei muito feliz.



Como se isso fosse pouco, a sobremesa. Creme de marrons (castanhas) com mousse de chocolate e chantilly. Leve, nada enjoativo, na medida. Com chá de hortelã fresca no capricho.

Fora isso, a decoração é muito bonita, sem ser excessiva. Ambiente agradável, boa iluminacão, familias jantando, nada daquele clima descolado dos restaurantes da moda, ninguém interessado em se exibir, só em deglutir. Não é por acaso que o restaurante está no mesmo endereço há 50 anos. As histórias sobre seus criadores são interessantíssimas. Um casal e tanto, Roger Henry e Fortunée. Tem foto dela no cardápio, de lenço na cabeça, servindo um charmosérrimo Omar Shariff. Hoje o restaurante está nas mãos da filha deles, Marie-France, que pelo jeito cuida muito bem.

Sai de lá entusiasmada e feliz, grata por ter condições de me permitir esses prazeres. Valeu cada centavo. Ainda bem que não gasto com roupa, carros e essas coisas. A boa mesa me inspira muito mais. Como disse no meu primeiro post, é por essas e outras que não tenho poupança.

6 comentários:

Anônimo disse...

É sempre muito bom quando saímos satisfeitos dos lugares. Sou muito a favor de ir aos lugares com os propósitos dos lugares, ou seja, vai se ao restaurante pra comer, vai se a boate pra dançar, vai se ao boteco pra beber. Fazer carão (ugh!) e se exibir pra mim é tão demodê quanto a palavra demodê (rs). E cada um leva a vida do jeito que sabe e pode, tem gente que opta por ter filhos (nada contra) e passar a vida pagando fraldas, mamadeiras, escola e por ai vai eu escolhi amar a música e o cinema. Carrie (Sex and the City) não morava em uma quase possilga e no entanto torrava tudo nos Manolos da vida? Então. Assim como a gente ela também não tinha uma poupança (rs).
Abração!

Anônimo disse...

Quando a família toda morava em São José dos Campos, fomos a uma festinha de aniversário do vizinho, onde a atração principal eram lulas grelhadas, fresquíssimas, trazidas no mesmo dia diretamente do canal de São Sebastião. Alice, minha filha, então com uns quatro anos, experimentou a lula, gostou, e não sabendo o nome do bicho, me pediu "pai, arranja mais daquele churrasquinho de chiclete".

Agora, Beethoven não é a Britney Spears da música erudita. Tá mais para Madonna ou Mick Jaegger. Você sabia que o formato do CD foi definido pela Nona? o projeto original da Philips era para 60 minutos, aíialguém lembrou que a nona na sua interpretação mais longa (Furtwangler) tem 72 minutos. Como não dá para mudar a sinfonia, mudou-se o projeto do CD. Minha versão favorita é a segunda do Karajan, com Gundula Janowitz. trechos dessa versão serviram de trilha para Laranja Mecânica. e a sua?

Natalia Mallo disse...

Acho que ir para lugares com o propósito dos lugares é uma opção, mas o contrário pode ser bom também. Tanto faz. Só não tenho paciência para esse teatro de máscaras que é o ambiente "descolado".

Agora... ter filhos e trocar fraldas não impede ninguém de amar a música e o cinema, né? Ter filhos pode ser libertador para alguns, aprisionador para outros, um puta trampo para todos.

Quanto à Carrie, acho que ela é um estereotipo interessante da famosa canalização das ansiedades e frustrações através do consumismo. O próprio roteiro dá esse tom quase que patético da questão, ainda que conivente e glamuroso. O consumismo gastronomico não há de ser diferente, ainda que se invista em "momentos" e não em "objetos". Mas, pelo menos no meu caso, o prazer de comer tem uma natureza quase espiritual. Juro por Deus...

Para terminar minhas reflexões, e feliz por ter recebido o comemtário do Ernane, quero admitir: Não sou 100% feliz em não ter poupança.

Natalia Mallo disse...

amigo oriental,

uma vez, numa festa de 15 anos de uma amiga, em buenos aires, fiquei uns 20 minutos tentando mastigar um único anel de lula.


sobre o beethoven, minha escolha de Britney como equivalente foi leviana, e pseudo engraçadinha. acho que quis me comunicar com as novas gerações (risos).


Inclusive, admito: meus conhecimentos não estão à altura dos seus, não tenho informação para discorrer sobre essas gravações.Mas vou atrás, pode deixar.

Anônimo disse...

cacilda! vinte minutos mastigando um único anel de lula!

nem sei se ainda existe, tanto tempo faz que não vou para lá, mas tinha um restaurante na parte norte de Ilhabela que fazia umas lulas a doré simplesmente sensacionais. e não precisava mastigar por vinte minutos ;-) acho que chamava ou ainda chama Vianna.

Natalia Mallo disse...

Claro que o Vianna existe!
Mas o melhor na Ilha Bela é o Restaurante NovaIorquii (assim mesmo).
Tem o melhor por do sol da ilha e uma anchova....!
E um pudim de tapioca com coco de sobremesa...