sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Eu era feliz, e sabia.

Desembarquei em San Carlos de Bariloche na hora do almoço, como é de se esperar. Não comi a media luna servida no avião para não "estragar" minha fome. No aeroporto peguei um carro e enquanto mergulhava nos mistérios do câmbio automático, me perguntava como seria minha primeira refeição patagônica. Por indicação do cara que nos entregou o carro (a quem eu deveria mandar flores), fomos parar no "El Boliche Viejo", restaurante de beira de estrada. E que estrada!



A maravilhosa "Ruta de los 7 lagos", que como seu nome diz, atravessa uma região maravilhosa, verde, cheia de lagos côr de esmeralda, com picos nevados ao fundo. Cada curva da estrada mostra um novo visual de sonho. O ar tem cheiro de cedrinho, e é muito muito leve.

"El boliche viejo", agora sei, é um clássico! O prédio é tombado pelo patrimonio histórico, o chão de tabuas de madeira muito antigas, afundadas. Abriu suas portas em 1900 e dizem que até Butch Cassidy comeu por lá (talvez seja lenda). Sentei numa mesa do lado de fora, aproveitando os 27 graus de temperatura e o sol. O garçom, um indio bonitão e muito arrumado, me puxou pelo braço e me mostrou a grelha. Disse: "Esto es lo que tengo", apontando para um bife de chorizo e um matambrito de ternera. Escolhi o segundo que tinha uma cara ótima.

De entrada, empanadas criollas, de carne, fritas em banha. Sequinhas, suculentas, tempero maravilhoso, me lembrou minha infância, fiquei muito feliz. Também trouxeram um pão quadradinho frito, quente, ótimo. No "salad bar", me servi de uma generosa quantidade de vegetais: beterraba, batata cozida, ervilha fresca, tomate. Não sei há quanto tempo não comia um tomate tão doce, com tanto gosto de tomate. E então ele chegou: o matambre é um corte bovino muito fininho, que nunca vi no Brasil. Tem uma consistência interessante, macia, mas como se fosse um "courinho". É coberto por uma fina camada de gordura. Muito macio, muito saboroso, dourado pelas brasas de lenha. Este matambre era de ternera (vitela). Dois molhos para acompanhar: chiminchurri e salsa criolla. Esta última é uma espécie de vinagrete, só que mais temperado e com menos cebola.

Nunca vou esquecer esse almoço, a paisagem, o dia lindo, o parrillero Alberto, muito simpatico. Fomos às lágrimas, de verdade. E ainda teve um vinho da vinícola Alfredo Roca, da uva Malbec, que caiu redondíssimo. E de sobremesa, budin de pan, ou pudim de pão. Muito suave, com caramelo por cima, e chá "cachamay", que é uma mistura de ervas digestivas muito útil. Depois de tanta alegria, pé na estrada. E que estrada!



Aproveitando o 4x4, fiz o caminho "longo". Demorei 4 horas entre o aeroporto de Bariloche e San Martin de los Andes. Mas é um passeio imperdível, recomendo a todas as pessoas que queiram ver um lugar preservado, com ar e água limpos, ocupação controlada, casas de madeira e pedra, árvores centenárias, e... comida incrível!

Chegando na minha cabana em San Martin, (cidade pequena, charmosa e limpa à beira do Lago Lacar), mais uma surpresa agradável: posso comer cerejas diretamente do pé... é só abrir a janela.


7 comentários:

Anônimo disse...

"Chiquitita pero cumpridora", nunca ví tanto talento em uma única pessoa!!!
Grande Malo!
bjs com carinho
feliz 2008
adorei o blog

Mariá disse...

tá vendo as férias daquela moça ali, da mesa ao lado?
...me vê uma igual.

Anônimo disse...

Vou perguntar pro meu pai, açougueiro aposentado, qual o equivalente brasileiro para o matambre. Tua descrição para o matambre de vitela é de dar água na boca.
Agora, não respira fundo demais. excesso de ar puro faz mal para nós que moramos em São Paulo.
beijos, feliz cumpleaños, e feliz ano novo!

Anônimo disse...

O lance do Butch Cassidy não deve ser lenda, não.

Unknown disse...

Que ótimo espaço!
E ainda com gostinho de chiminchurri.
Gostei muito.
Beijo

Natalia Mallo disse...

mas... se o corte "matambre" não existe... será que a gente deveria se contentar com a tradução literal?

me vê um matafome com fritas?

Ana Dupas disse...

cerejas do pé?!!!
nessa vc esnobou, sem falar em outras...
parece que viajei com vc, não sei se por tão bem descritos os prazeres sensoriais ou se porque são prazeres sensoriais que já vivi de forma semelhante. De qualquer forma, dá vontade de viver (de novo)!
Feliz ano novo!
beijos