sábado, 8 de dezembro de 2007

Praia com chuva

Barra do Sahy - São Paulo

Tem gente que odeia praia com chuva. Tem ataques de tédio, se irrita, xinga, quer adiantar o retorno à cidade. Admito que por muitos dias seguidos e se houver crianças no pacote, realmente pode ser difícil. Ainda tem o agravante das casas de praia terem uma tendência natural ao mofo. Nada seca, a roupa começa a ficar grudenta de umidade e maresia, o bikini fica 3 dias inalterado no varal, esquecemos de levar meias, essas chatices.

Mas eu, de modo geral, aceito bem os designios da mãe natureza. Estar fora de São Paulo já me deixa feliz. A paisagem me acalma. Eu tenho aquela relação de amor e ódio com a cidade que muitos devem compartilhar. Faço questão de sair sempre que possível. Morar em SP me fez apreciar como nunca antes o oxigênio de qualidade.

Tenho uma amiga que adora quando vai à montanha e chove, porque isso a desobriga de ir à cachoeira. Ela prefere ler um bom livro perto do fogão a lenha. Eu, na praia, aceito a chuva como àlibi para atividades como cozinhar e comer. Que melhor desculpa para se ocupar apenas em planejar a próxima refeição?

Neste dia de chuva e praia vazia (quinta-feira na Barra do Sahy), cozinhar estava fora de questão. O chalezinho que aluguei até tinha fogão e alguns utensílios. Mas por conta de um arquiteto equivocado, não havia suficientes janelas no local, e ficar dentro dele, com a tempestade lá fora, dava uma sensação de confinamento desagradável. O hotel é o Aldeia de Sahy, com ótima infra-estrutura, uma piscina gigante, sauna, sinuca, várias mordomias. Tem um ar de vila caiçara, com belo paisagismo. O erro está mesmo na arquitetura. Não entendo como passa pela cabeça de um arquiteto, num lugar tão privilegiado, repleto das belezas da mata atlântica, construir chalés grudados, sem janelas e com móveis de alvenaria. Mistérios como aquele dos restaurantes que investem em azeite de oliva ruim.

Triste Piscina
(os lugares turísticos, sem turistas, tem esse ar de abandono)


(de fato, como na foto, às vezes parava de chover, mas se você resolvesse ir à praia, começava imediatamente)


A solução foi sair para almoçar, passear de carro, ficar um pouco do lado de fora. Fui na Cantinetta, em Camburi, lugar que frequento há anos. Fora o barulho da lixadeira (que desligaram imediatamente quando me mostrei incomodada), o ambiente estava perfeito. Eis o que pedi:


Aperitivo: Mojitos (2). Feito com limão, club soda, rum importado, pouquissimo açucar, hortelã fresca e gotas de algo vermelho que talvez seja pimenta mas que em todo caso não alterou a bebida. O segundo (com mais limão) estava perfeito.

Entrada: Rolinhos de beringela grelhada, com recheio de cream cheese, tomate e manjericão, embebidos em azeite (bom), com torradinhas bem fininhas, que chegaram na mesa quentes. Uma delicia, duas doses.

Prato: Lasanha de abóbora hokaido, levemente gratinada. Maravilhosa! Cremosa, com uma massa bem leve e fina e cogumelos. Veio também uma salada de folhas variadas, crocante, bem fresca.

Sobremesa: Tablete de chocolate com amendoas, crocante, geladinho. Café Santo Grão (carioca), suave, quentinho.


(quando chove, o tempo esfria e o nosso corpo precisa de mais calorias para se mater aquecido)



Foi muito gostoso, e ainda fiquei lendo depois do almoço na mesinha rodeada de jardins e chuva. O livro? Alucinações Musicais, de Oliver sacks. Boa comida, sossego, tudo ótimo. E olha que eu achava que esse almoço era só uma introdução para o verdadeiro banquete que seria o jantar, no Manacá.

O jardim do Manacá é incrivel:



Só que o jantar no Manacá (um dos melhores restaurantes do litoral norte, que tem um ambiente deslumbrante e ótimo atendimento) não foi isso tudo. Já fui várias vezes ao longo dos ultimos anos e já fiquei mais emocionada. Nunca vou esquecer a primeira vez que comi o bacalhau com purê de batata doce e alho poró. Quis chorar. E os mexilhões no molho de vinho branco? Uma loucura. Mas nas ultimas duas vezes não fiquei tão tocada, fiquei vendo defeito nos pratos. Será que a qualidade mudou ou o meu paladar? Ou os dois? O linguado na manteiga trufada estava um pouco sem sal. O refogado de legumes à tailandesa do meu acompanhante não dizia nada, nem sob tortura. Não pedimos sobremesa nem café. Fazia sono. Chovia.

Chovia. Chovia Chovia.

Até que o sol saiu, na manhã seguinte, na hora de arrumar as coisas e voltar. Clássico. Mas deu para tomar um banho de mar glorioso, energizante e efetivo no combate às nhacas, com o sol das 7 horas fazendo um carinho e fixando o cálcio em nossos ossos. Sempre vale a pena sair de São Paulo, nunca me arrependo! A cidade tem uma força centrípeta que precisamos combater, se não ela nos engole.



Hotel Aldeia de Sahy
www.aldeiadesahy.com.br

Cantinetta (Camburi)
www.cantinetta.com.br

Manacá
www.restaurantemanaca.com.br

11 comentários:

Anônimo disse...

praia com chuva me lembra férias pré-adolescentes de verão, com partidas intermináveis de buraco, aquela tevezinha ligada na novela, mergulhos desesperados na ressaca... e panelas e mais panelas de brigadeiro!

pode ser uma experiência bem radical, mesmo...

Natalia Mallo disse...

praia com chuva me lembra um banho de mar de fim de tarde em que de repente o tempo vira e aparecem muitos carneirinhos branquinhos e entra areia no ouvido e a gente sai correndo para se proteger da chuva, tomar banho e jantar...

camila kfouri disse...

oba! obrigada pela visita!
aqui dá uma fome... só dá pra vir logo antes de jantar!! eu estou indo agora! por sinal, vc conhece o Sophia, na consolação? é de duas amigas queridas, mas, mais importante que isso é que a comida é deliciosa, bons vinhos, e preços honestos.
tipo satisfação garantida!

Natalia Mallo disse...

Sabe que passo sempre na frente do Sophia e me pergunto se é bom?
Agora com a sua indicação, vou arriscar. Aliás, que fome! Se pudesse já estava lá!

Mariá disse...

acho legal que a miss kitchen responde aos seus comentários na própria página.
tem wireless aí na barra do sahy?
beijos de pão de queijo.

Anônimo disse...

Estou encantado com tua escrita, que é tão gostosa de ler como devem ser seus pratos de comer.

A melhor coisa a fazer com praia com chuva é, se possível, ignorar a chuva!

Natalia Mallo disse...

"tinha" wireless na barra do sahy
agora já estou de volta
com saudades da praia e da chuva

grafias orientais, quem é você?

(curiosidade!)

Anônimo disse...

muito bom o blog. sua escrita flui de forma leve, dá vontade de ler mais e mais.
agora sobre praia com chuva, aqui em Vitória as pessoas não saem nem de casa quando chove (parece uma característica de capixaba) mas mesmo sendo capixaba nunca fui acometido desse "mal", aliás quantas e quantas vezes fui passar as férias de julho (época em que chove bastante por aqui)nos balneários próximos.

Anônimo disse...

Lao DanTong (apelido que ganhei em Beijing), o bom (?) e (cada vez mais) velho Danton.

beijos agridoces.

Natalia Mallo disse...

Lao Dan Tong, como eu suspeitava...

Erane obrigada pelo seu comentário!

Miss Kitchen volta já!

Isabel Conceição disse...

Estava procurando uma foto de praia com chuva no google e achei seu blog...Amei sua forma de ver o dia...tb aproveitei muito meu feriadão, masmo com sol em todos os dias em q eu ñ podia ir à praia e chuva no dia em q resolvi ir...rsrs
Bjão