Moqueca for all

Estou na fundação I-Park, desenvolvendo um projeto de sound design ligado a arte ambiental. O lugar é lindo! Lembra a Serra da Mantiqueira, só que mais baixo e plano. Muitos pinheiros, lagos, rios, cachoeiras... e também coiotes, lobos, gatos do mato, veados.

A comida aqui funciona assim: no café da manhã, frutas, suco, bagels, pão integral, café expresso (nunca muito bom, embora a gente tenha ido atrás de café da Tanzania), chás. Às vezes alguém se anima e prepara panquecas, french toast (rabanada, na qual colocam litros de maple syrup), omeletes. O almoço é sempre igual. Frios, pães, salada, às vezes uma massinha com um molho simples. Os jantares são mais orgiásticos. Uma moça muito doce chamada Holly chega 18.30 e em uma hora prepara um jantar incrível para 14 pessoas. Um dia peixe, com molho de limão sisciliano, outro dia frango assado com apricot, kebabs, saladas, batatas assadas, arroz integral. E a sobremesa!? Mousse de chocolate preto, massa de scone com morangos frescos, torta de maçã. E sempre, sempre chantilly fresco por cima. Uma perdição. Toda noite toma-se vinho, tinto italiano (Corvo) ou Chardonnay australiano (não lembro a marca e não gostei tanto).

Nos finais de semana, os artistas em residência cozinham, e domingo foi a minha vez.

Tudo começou na feira dos fazendeiros de Old Lyme, onde fui atrás do peixe. Perguntei para a pescadora (dona de um barco chamado Jennifer) qual dos peixes aguentava cozimento sem se desfazer e ela me indicou o "cod". Comprei 2 pounds (não sei quanto é em quilos), mais coentro, vegetais e leite de côco. Desde o início soube que não seria uma moqueca tradicional (sem dendê, para começar), então resolvi incluir cogumelos locais, que estavam bem bonitos. Tudo é orgânico aqui sempre.

China, not plastic!

Fui muito metódica. Primeiro arrumei a mesa. A gente pode usar china (pratos de cerâmica ou porcelana), plastic ou old service (pratos de terra cota). Fomos de china, que o plastic não esta com nada (é para grupos que não gostam de lavar louça).

E deixei tudo preparado para a hora de ir à panela.

Peixe, cebola roxa, pimentão, leite de côco.

Ótimas facas, lindos ingredientes. É um prazer cozinhar assim.

Mushrooms in quarters.

Meu ingrediente não ortodoxo... E também alho, pimenta calabresa (não tinha outra), um pouquinho de páprica, cominho, cebolinha e coentro. Aquele refogado inicial, sal, pimenta, leite de coco e panela. A panela não era nada adequada. Para 12 pessoas tive que usar uma panelona própria para sopas, alta e estreita. Fiquei bem decepcionada com isso, porque também não ia ser um lugar bonito para servir o prato, mas bom, a vida é assim, trabalhamos com o que temos.

Panela inadequada...

Outra decepção foi o peixe. Muito gostoso, mas se desfez em 5 minutos de cozimento. De onde a moça tirou que ele iria resistir? A moqueca virou uma espécie de sopa. Ao menos eu disse pra todo mundo que não ia ser nem de longe uma moqueca verdadeira e ninguém se importou.

Depois de um tempo cozinhando até que ficou bonita.

Antes de comer, ofereci shots do caldo da moqueca em copinhos de vidro, com um pouquinho de coentro e um pingo de tabasco. Boa idéia!

Enquanto isso, Eizo-san preparou uma salada com molho grego.

Saladona.

Molho grego, delicia!

E finalmente comemos. Sons de "mmm" e "yeah" e "so good" me animaram, e o melhor elogio veio da polonesa escultora chamada Olga: "this is my favourite dish!".

A sopa de moqueca no prato.

É isso! Tenho que ir, estão me chamando pro almoço!

MK, de Connecticut.