quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Curiosidades comestíveis da Patagonia

Llao-Llao


Reparem nos nós escuros nos galhos


Aqui tem muitas árvores, muito grandes, muito antigas, muito fortes. Elas tem nomes interessantes: lengas (não confundir com lenga-lenga que é outra espécie), notros, coihues, roble pellin, alerces, arrayanes, etc... São lindas, impressionantes. No inverno elas suportam bravamente as nevadas. Aliás, é graças à neve que elas sobrevivem, já que dentro do gelo a temperatura é de zero grau, e fora dele, pode chegar a vinte negativos. Por isso, antes congeladas do que mortas, elas recebem a neve com alegria.



Llao-llao com cogumelinhos



Às vezes, muitas vezes, elas sofrem o ataque de um parasita e seu tronco reage criando enormes nós irregulares chamados "llao-llao". Este também é o nome de um bairro e do mais famoso hotel de Bariloche, construido pelo arquiteto Bustillo na década de 40. Este homem foi um herói urbanizador local, construiu também o Centro Civico (espécie de praça e centro de convivência rodeada de prédios de pedra que abrigam museu, prefeitura, etc) e tem até avenida principal em sua homenagem.

Mas voltando às árvores, nos tais llao-llaos nascem uns fungos redondos interessantes, cujo nome não sei e do qual ainda se alimentam alguns índios. É uma espécie de cogumelo redondo, côr de mexirica aberta, cheio de suco, meio doce e que não tem muito gosto. Quando secam, caem no chão e ficam bem duros e cheios de furinhos. Eu comi um! (realmente tem gosto de água, me pergunto como ficaria refogado em azeite com salsinha, alho e vinho branco).



Gosto = nada




Curanto


A placa não deixa dúvidas


Outro resquício de cultura mapuche é o Curanto. É uma espécie de churrasco feito embaixo da terra, dentro de um enorme buraco. Pelo que entendi são colocadas as brasas lá no fundo, pedras sobre as brasas e comida sobre as pedras. Por comida, entenda-se: batata doce grande com casca, cenoura com casca, uma massaroca de abóbora, milho e queijo, carne de porco, carne de vaca, cordeiro e linguiça. A comida é coberta com folhas de uma árvore local e por último, pedras novamente.



Verdadeira churrasqueira underground


Provei o prato no endereço mais obvio, "Curanto de Victor Goye", na colônia Suiça, que é um bairro onde (obviamente?) também se fabrica bom chocolate. Pelo caminho se vê a parte mais ocupada de Bariloche, cheia de pousadas (hosterias) na beira do lago Nahuel-Huapi. Ao chegar no restaurante já se vê o sucesso. O local estava abarrotado de turistas, em sua maioria familias argentinas barulhentas. Curiosamente, poucos gringos.

O sabor do curanto é muito bom! Bem defumado, e acho que as folhas que são colocadas em cima dão um certo perfume também. O jeito de servir é bem tosco, vem numa travessa de plástico, com pratinho e talheres descartáveis. É preciso pagar adiantado, pelo jeito é difícil controlar tamanha procura. Tem música ao vivo com um senhor de barba, mistura de índio com hippie, que canta folclore (muito bem) e conta piadas, tira sarro dos comensais, se diverte e passa o chapéu. O som é um pouco alto demais, o violão tem muito agudo, mas é divertido.



Cerveja artesanal para acompanhar



Francamente queria que viessem mais legumes do que carne, e não o contrário, mas certamente essa minha preferência não é uma tendência geral. Também queria que tivessem trazido (adivinha?) azeite de oliva, porque as coisas eram um pouco secas. Sal também teria sido bom, apesar de não precisar, só pra eu me sentir segura.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ok que o cogumelo não tem gosto, mas não dá nenhum baratinho para compensar?

Trogloditíssimo o churrasco underground!

Natalia Mallo disse...

barato nenhum!
mas, como tem muita água, serve para hidratar

Ana Dupas disse...

Segundo Izabel Allende, o curanto está na lista das comidas mais afrodisíacas do mundo! E parece que o mais afrodisíaco de tudo neste prato é o caldo que toda essa massaroca solta, que para bons entendedores, deve-se recolher com uma recipiente que fica debaixo das coisas enterradas, e beber goela abaixo.
É claro que o conceito "afrodisíaco" é muito complexo, abstrato e varia de acordo com fatores diversos na forma de comer, fazer a comida, etc e tal... vc sabe!

Natalia Mallo disse...

pois é... nem vi a cara desse caldo!

na verdade é uma comida mapuche, que não são nativos da patagonia argentina mas da chilena... de repente eles fazem com caldinho e os argentinos não?

talvez Isabel possa responder?

Ana Dupas disse...

Agora que notei: Isabel que me perdoe por ter escrito seu nome tantas vezes com z! Acho que é de tanto corrigir pessoas que escrevem meu Luiza com s... e é imperdoável!!!

ela fala dos mapuche e da ilha de páscoa... e eu tive o privilágio de comer um desse na Nova Zelândia!
(te descrevo no próximo jantar!)Mas acho que ela não cita o curanto argentino... de todo modo vou verificar.