terça-feira, 30 de junho de 2009

Café

Café(zinho)


Uma vez eu sai para jantar e no grupo tinha uma verdadeira expert em café. Ela produz um dos melhores cafés do Brasil. Depois de jantar, naturalmente, pedimos café e sobremesa. Quando chegaram as xícaras fumegantes, esta mulher pegou a dela, cheirou -mas não com aquela pompa habitual de conneseur, mas quase distraidamente- e disse, como se fosse um veredito: "não vou tomar".

A essa altura, eu já estava tomando o meu, e não tinha notado nada de errado. Então ela disse: "está ácido", e entrou em algum detalhe que não lembro se era sobre o grão, a torrefação, a máquina de expresso, a água ou tudo ao mesmo tempo.

Eu sei que o meu próximo gole foi metálico, ácido mesmo. E eu (e todos na mesa) tomava sem perceber. Isso me abriu os olhos para duas coisas: referência e consciência. Referência é saber, no corpo e no intelecto, reconhecer algo já experimentado e suas qualidades. É a construção do critério. Consciência é estar presente aqui, agora, conectado com a sensação, ao comer, beber e viver. Sem esses dois elementos, a gente engole qualquer coisa.

O mais legal foi aprender a sentir a acidez pelo cheiro. Eu já sentia a falta ou excesso de sal na comida pelo cheiro, mas a acidez no café nunca tinha reparado. Até hoje não tenho aquele paladar para avaliar a qualidade do café, e nem o vício real (é mais necessidade), mas fiquei consciente de que muitas vezes a gente toma com gosto um café que não esta bom.

Repara.

sábado, 27 de junho de 2009

Patos da minha vida


O pato, antes.


Nunca fui assim tão fã de pato. Achava uma carne meio dura, de côr nada atraente. Uma vez quis preparar um magret e quando fui fazer aqueles cortes transversais antes de grelhar, cortei fundo demais e a gordura se abriu pros lados, ficou horrível. Traumas culinários aparte, não sei, nunca apreciei o pato, como aprecio o cordeiro, por exemplo.

Ainda por cima, não ando me identificando muito com a carne em si. Tenho comido pouca carne, e só em ocasiões especiais, como uma iguaria e não como um item do dia-a-dia. Mas noite dessas fui lá no Ici do Benny Novak e arrisquei. E não é que foi um arraso! Meu Deus, que coisa boa! Macio, servido num prato quentinho, muito tenro e molhadinho, com um purê de batatas trufado muito gostoso. Nossa, fiquei fã do pato do Ici. Aliás, não é por acaso que é o melhor restaurante francês de SP segundo a Veja. Segundo eu, também. Tudo é bom, do atendimento à comida, passando por vinhos e sobremesas. E mais: é bem-servido, o ambiente é chique sem ser formal e os preços sempre valem o prato que vem à mesa.

E essa história me lembrou do meu passado ecológicamente incorreto. Quando era criança fui caçar patos nos banhados de Quilmes (um municipio perto de Buenos Aires). De galocha até o joelho, escopeta na mão, eu, meu irmão e o irmão demente do Coco Amado, um músico com quem minha mãe foi casada e que me levava de mão dada numa viagem de duas horas de trem para eu fazer aula de violão com o melhor professor da região.

Mas voltando à caça, a gente ficava andando na lama, e os patinhos (bem selvagens) nadando felizes até que alguém mirava, atirava e corria para pegar antes que afundasse. Do banhado à mesa, onde era servido com molho de laranja pela minha mãe. Meu consolo é saber que como mal conseguia segurar o peso da escopeta, menos ainda consegui acertar o alvo dos bichinhos. E nem mesmo conseguia comer, não por culpa, mas porque não gostava do sabor.

Traumas aparte, o pato do Ici é mais gostoso que o da minha mãe, e da menos trabalho.
Vale a pena experimentar!



Vendo essa foto, fica achando tudo tão brutal, e quase me arrependo de tudo que escrevi.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Coleção outono/inverno

Nesses momentos de friaca total eu só consigo pensar em comida quentinha e substanciosa.
Por isso ontem na hora do almoço recorri a um prato da minha infância para me aquecer. Nossa, como comi polenta mole nessa vida! E eu adorava, não cansava nunca. Em tempos de vacas magras, só o mingau de polenta, feito com água misturada com leite e um caldinho knorr, e depois regada de óleo de milho e um pouco de queijo ralado. Sim, óleo de milho. Na minha infância não teve azeite de oliva. Não era uma coisa comum nem popular nem acessível. Sou da era anterior aos produtos importados de hoje. Mas mesmo que o prato pareça precário, eu amava, comia com muito gosto. Em tempos de vacas gordas, era molho de tomate com aquela carne que se desfaz no garfo.

Ontem tive um ataque de saudades da infância e seus pratos simples e gostosos. Fui até o mercado e resolvi fazer uma polenta. A mais legal que achei (que tinha o milho mais amarelo e brilhante e um pouquinho granulado) foi a Yoki, o pacote custou 3 reais. Comprei 2 tomates, um maço de manjericão, alho e uma badejinha de cogumelos paris. O total da compra: 7 reais.

Coloquei a água para ferver (fiz sem leite, que não consumo em casa). Meu caldo San Martino granulado de que tanto gosto tinha acabado, então temperei a água com sal e ervas de provence. Enquanto esperava ferver, joguei um alho socado na frigideira com azeite (de oliva, os tempos mudaram), depois os cogumelos e quando estes estavam douradinhos, os dois tomates sem casca, picados. Sal e pimenta no molho, tampa. Água fervendo, fui colocando aos poucos a polenta até ficar um mingau mole que explodia em pequenas erupções e manchava minha blusa de pingos amarelos. É assim mesmo, e ainda por cima, meu fogão não tem fogo baixo. Deixei engrossar um pouquinho, tudo pronto.

A polenta num prato fundo, o molho (ainda com pedacinhos de tomate, mas bem suculento) por cima, um pouco de manjericão fresco cortado com a mão, mais um fio de azeite, parmesão e à mesa. Mentira, à cama! Estava com tanto frio, que coloquei o pijama e entrei na cama em plena hora do almoço. Comi asstindo a um capítulo jurássico de "Friends". Depois sai da cama, me vesti de gente e voltei ao trabalho.

MK, com frio, outono de 2009.