terça-feira, 6 de abril de 2010

Datas oficiais

Bacalhoada da Dona Neide



Meu aniversário é um dia antes do reveillon. Isso tráz vantagens e desvantagens. O bom é que já estou no lugar onde vou passar o fim de ano, que costuma ser bonito, e com pessoas queridas. O ruim: ninguém fica sabendo, quase ninguém liga (o celular está mesmo desligado há alguns dias), pouquíssimos presentes. Mas o exercício do desapego dessa ilusão de que o dia do aniversário é realmente especial também é bom. Comecei cedo a cultivar uma descrença hereditária por datas oficiais. O auge do aprendizado foi o meu aniversário de 10 anos. Fiz compras no super com a minha mãe, que preparou um bolo gostoso e sanduichinhos de bisnaga. Arrumamos uma mesa linda. Não deixei meus irmãos abrirem as garrafas de refrigerante. Ganhei um conjuntinho branco esportivo de toalha com uma listra lilás nas laterais. Chegou a hora, e nada. Ninguém veio. Ninguém, ninguém. Mentira, veio uma pessoa, a filha do vizinho que nem era tão minha amiga (naquela hora se tornou). Fiquei de cabeça erguida, aguentei firme, mas por dentro fiquei tão decepcionada... Atualmente no meu aniversário como algo gostoso com quem estiver perto (o último foi na França e comi "moules et frites"). O último que fez estrondo foi o de 30 anos, que só teve audiência porque comemorei 10 dias antes da data. Tomei um porre homérico e bem, melhor não comentar. Vamos ver se na festa de 40 mostro mais maturidade.


A última sexta-feira da paixão foi também um aniversário. Antes essa minha amiga e parceira de trabalho do que toda a mitologia católica. Mas foi uma boa chance de apreciar as delicias que já são tradição na sua familia, e na páscoa. Pensa numa casa térrea com um jardim fofo abarrotado das orquídeas novas da aniversariante. Familia, amigos, crianças, bebês. Todos rindo, conversando, matando as saudades, falando dos trabalhos que fazemos juntos ou separados. Champagne, vinho branco, cerveja gelada, whisky 12 anos, 18 anos, entradinhas (brie, palitos de cenoura e salsão, pãozinhos). Todos um pouquinho altos e muito felizes de estar ali.


Na cozinha, moças atarefadas não pararam um segundo, sob a batuta de dona Neide, para proporcionar o almoço perfeito. Leve o olhar de volta ao prato na foto acima (de esquerda para direita): o bacalhau, assado com legumes, molhado de azeite com momentos de crocância nas batatas e cebolas, arrozinho branco fresquinho temperado gostoso, salada verde com tomates cereja bem doces, salada clássica da familia com batata doce e gema de ovo picadinha por cima. Isso sem falar da mousse de salsão, das tortas e dos outros coadjuvantes que fizeram parte do meu segundo prato.


Resumindo, comemorar. Qualquer coisa, qualquer data, em qualquer dia. Aproveitar os dias oficiais e fazer a festa do nosso jeito. Claro, há algo que paira no inconsciente coletivo quando é feriado nacional. As frequências da cidade de máquinas abaixa e a gente pode aproveitar essa nova qualidade para sintonizar com outras conexões: de comunicação humana, prazer e amor.


MK, sexta-feira da paixão, 2010.

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