segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Inesquecível Japão

Cardapio pendurado.


Sim, como alguns notaram estive ausente. Alguns terem notado foi inclusive uma alegria para mim. Acontece que bem no começo da minha viagem fiquei órfã de note-book. Ele morreu num quarto de hotel em Tóquio enquanto eu... jantava.



Comida de plástico na vitrine.



A comida no Japão me pareceu muito gostosa, leve e barata. Sim! Ao contrario do que a gente imagina, dá pra comer muito bem por pouco dinheiro. Esse é um dos mitos sobre o Japão que vi cair. Outro é a idéia de uma caótica multidão, excesso de informação, rítmo frenético. Sim, há muita gente, a tecnologia impressiona, há grafismos coloridos por toda parte, mas nunca vi cidade mais organizada e limpa do que Tóquio. E mais: em qualquer cantinho tem uma pequena floresta, as cigarras berram muito alto nas copas das árvores, as privadas tem regulagem de temperatura, as pessoas são respeitosas e de poucas palavras. Terra de contrastes e surpresas, uma delícia.


Mimo de hotel.


Minha vida gastronômica se dividiu entre almoços baratos em locais escolhidos ao acaso, jantares muito legais onde tive a honra de ser convidada, private dinners (aqueles jantares em quartos privados) e lanchinhos nos "combini" (lojas de conveniência 24h que há em qualquer esquina).


Os almoços casuais forma muito bons! Quase sempre pedi arroz (lindo, brilhante, oleosinho), legumes refogados (sempre apimentados e com um tempero delicioso), missoshiru e chá. Também tempura (quase sempre muito oleoso, mas bom), guioza, peixes grelhados, conservas, saladinhas. Tudo muito bom, em lugares tranquilos com ar condicionado (o calor era infernal) e com muitos fumantes por perto.



Best guioza of your life.


Entrar num "combini" é uma experiência muito legal. Dá gosto olhar as embalagens e tentar descobrir do que se trata. Tem suco de praticamente qualquer coisa e logo fiquei fã de um de legumes (eu já gostava do V8 que vende no Brasil). O iogurte também é bom. Isotônicos de todo tipo, sopinhas instantâneas, macarrões instantâneos, marmitas de comida pronta, etc. Todas as embalagens muito inteligentes e fáceis de abrir. Os temakis por exemplo, vem embrulhados de tal maneira que ao puxar o celofane, uma camada de filme transparente sai de entre o arroz e a alga, fazendo com que fique fresquinho e crocante. Bem, no combini você encontra todo tipo de coisa necessária... bebida, fralda, fogo de artifício, sorvete, maquiagem, utilidades domésticas., revistas, tudo. Se não tiver no combini, talvez o que você procura não exista.



Num combini com você, num combini.


Agora, os jantares muito especiais. Sempre aquela mesinha baixa, a penumbra tão característica (leiam o "Elogio da sombra" para saber mais) e um saquê que me fez descobrir que o que eu bebera no Brasil pensando ser saquê na verdade era outra coisa. É leve, suave, gostoso, seco sem ser excessivamente adstringente. Uma coisa. Você bebe um monte e não tem ressaca (na verdade, um monte pra mim são duas, no máximo três doses). Nestes jantares, no embalo do saquê, e especialmente nos "private dinners", vivi experiências muito marcantes, algumas inquietantes.



Rolinhos com recheio de... vagem?


Por exemplo, mini lula crua com cabeça. Resolvi ser corajosa e provar. Mordi a parte branquinha e pensei "ok, consigo encarar", então mordi a cabeça e vi que não seria possível mastigar aquilo... engoli inteira. Não posso dizer o mesmo do espetinho de moela. Que carne era aquela? Fibrosa, com gosto de miudo e consistência de porco. Muito estranho! Não consegui, nem mastigar nem engolir. Prefiro não comentar mais a respeito. Entre um prato e outro (dentro de uma sequência interminavel de partes de frango) a gente tinha uma cumbuca de nabo ralado com gema de ovo crú, para limpar o paladar. E era uma limpeza e tanto! Mas essas foram basicamente as únicas coisas onde vi minha limitação. De resto comi muito, de tudo um pouco, e me deliciei.

O café da manhã, ocidental. Café com leite e bolinhos industrializados. Torrada de pão com manteiga! Suco de garrafinha. Para alguns, sanduiche de camarão. Eu cai nos tais bolinhos, que eram bons, muito menos doces que os nossos. Sempre num café da rede Doutor (o dono é brasileiro), em Akasaka. Onegaishimas..., Corrilate? (coffee latte), domo arigatô...

Quero voltar!


Café da manhã ocidental.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Voando pro Japão


Devagar se vai ao lounge.



Escrevo do lounge da KLM em Amsterdam, onde espero minha conexão para Tóquio, daqui a duas horas. Na verdade nem sei se tenho o direito de estar aqui nesse sofazinho, com wi-fi livre e café expresso. Por via das dúvidas não perguntei. Ninguem perguntou nada também, quando entrei. Vai ver tenho direito sim, e algum complexo terceiro-mundista não me deixa acreditar.

Daqui, confortavelmente acomodada na poltrona vermelha, depois de um delicioso banho no serviço de chuveiros do hotel Mercure (pela facadinha de 15 euros -e valeu cada centavo!) fico lembrando o jantar de ontem no avião. Acho que o milagre aconteceu! O jantar estava, sério!, muito gostoso! Na hora de servir a moça perguntou "beef or sea food". Ai, que dúvida. Pensei: sea food será um peixinho grelhado ou um crustáceo estranho? Beef será um bifão, um medalhão, um strogonoff? O que será mais leve, afinal de contas? Escolhi o beef e torci pela presença de legumes.

E não é que era uma delicia? Pedaçinhos de carne meio ensopadinha num molho que certamente tinha vinho tinto, farfalle levinho só no azeite, cenoura e ervilhas cozidas no vapor. Muito gostoso! Fiquei feliz! Só não provei a sobremesa: um bloco amarelo cremoso com um teto de gelatina e sementes de maracujá.

Já o café da manhã... novamente um bloco retangular (usaram o mesmo molde da sobremesa), mas dessa vez de omelete com queijo. Um pouco salgado, mas comível, vai. Tinha também uma espécie de pudim de leite, só que mais massudo, servido quente e boiando em leite, muito doce. Estranhíssimo! Fiquei com medo, só provei por curiosidade. Um muffin doce e oleoso demais e uma salada de frutas que tinha até uma cara boa, mas não comi.

Só água, água, água, que é o que me salva no avião. Agua de beber, água termal no rosto (e, confesso, dentro das narinas), alongamentos, suporte na lombar e calma, que daqui a pouco a gente chega.

Acho que perdi o medo de voar.