quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Carnaval é fogo

Nem foi um carnaval dos mais chuvosos. E mesmo assim, quase não desgrudamos do fogo. O da lareira, onde ficamos feitos lagartos indoor exercendo a preguiça e lendo livros variados (de Oliver Sacks à vida do Henfil, passando pelos mistérios de P.D. James e a áfrica de Mia Couto); e o do fogão a lenha, onde passei um bocado de horas cozinhando e onde tomavamos café da manhã.


Café da manhã.



Na minha opinião, o carnaval é parente das festas cruéis de fim de ano. Durante a dupla Natal & Reveillon, nos sentimos -meio- obrigados a uma felicidade em familia que inclui presentes, comilança e disposição. Às vezes essa felicidade está acontecendo mesmo e é ótimo! Em outras, sumir. E tem carnavais em que só se quer passar bem, longe da folia.



Torta, antes de assar.



O sitio produz muita abobrinha, e no primeiro dia resolvi tentar uma torta. Não sou boa para massas de maneira geral, nem pra bolos ou doces, exceto panquecas. Minha praia é rango. Mas lembrando vagamente uma receita vista em algum lugar, arrisquei uma massa de torta feita de farinha, óleo, um ovo inteiro e água. Assei e virou um biscoito, tipo água e sal, meio dura. Ao menos era sequinha. O recheio: abobrinha refogada com cebola, misturada com 2 ovos caipiras recem botados, batido com leite da vaquinha, temperado com sal, pimenta e queijo Prima Donna. Coloquei para assar/gratinar e abri um vinho.






Ficou um pouquinho seca (me distrai com o vinho), mas ficou bonita. O gosto estava bom. As fatias fininhas de presunto defumado por cima deram um toque. Comemos com arroz integral e salada da horta. Mas antes disso, quis servir uma entradinha extraida de um livro sobre culinária grega, que consiste em figos recheados de queijo feta, manjericão e tomate. Na versão sul-mineira: meia cura cremoso, orégano fresco, tomate, sal e alho, mas regado de azeite grego Minerva.



Nada mal, com araucárias ao fundo



Num outro dia, fiz um prato típico meu. É um prato que ficou consagrado pelos 10 gatos pingados que o provaram, o Cordeirinho. São costeletinhas assadas numa marinada de ervas frescas (menta ou hortelã, sempre) e alguma bebida como cachaça, conhaque ou rum, ou... Não lembro quantas vezes fiz e é sempre muito bom. Mas desta vez, na hora de abrir o pacote vi que a carne tinha vencido... óntem. Era só um dia, o aspecto e o cheiro estavam bons, consultei os envolvidos e, de comum acordo, resolvemos arriscar. De fato, a carne estava em bom estado, todo mundo comeu, e ninguém passou mal. Eu não comi.


Na verdade nunca acreditei no prato, fiquei deprimida desde o inicio pela imoralidade sanitaria que estava cometendo e preparei desconfiada, asséptica, sentindo culpa e olhando o forno com curiosidade clínica. A carne estava boa, mas eu gorei o prato com minha desconfiança. Nunca devia tê-lo feito. Tenho vergonha de contar isso. E é claro que não ficou bom. Eram costeletas tristes e acanhadas desmaiadas na travessa, e não suculentas, irresistíveis e obscenas costeletinhas derretidas em seu molho, como de costume. Como cozinheira, um erro fatal. Não repetí-lo virou questão de honra.


...


Antes de voltar pra casa, fechamos o carnaval com chave de fenda. Um lanchinho improvisado com restos de geladeira, salada, arroz integral, ratatouille e ovo caipira frito. Uma delicia. O Prima Donna foi parar dentro da salada junto com o presunto defumado e o arroz virou uma papa deliciosa misturada aos sucos do ratatouille, e no centro aquele ovo solar regado de sal e pimenta preta recem moida.




Sem palavras



16 comentários:

Anônimo disse...

um dia de vencido está na margem de erro, desencana, companheira, digo, cozinheira!

Natalia Mallo disse...

um dia fez toda a diferença infelizmente...

Ana Dupas disse...

foguinho... livrinho... hummm...zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Ana Dupas disse...

a senhora é muito crítica mesmo!
eu comi o cordeiro e ele tava bom. Não assim... o melhor cordeiro do mundo... ficou devendo uma versão mais fresca da receita.
E chegar a perfeição é mesmo perigoso... quero viver mais uns anos!

Anônimo disse...

a pessoa deve cozinhar feliz, não resta dúvida. muito profundo ensinamento. mas eu bem que comi a parte que me cabia...

Anônimo disse...

uma vez me disseram que os hunos colocavam a carne que iam comer por baixo da sela dos cavalos, e iam pelos caminhos. a carne ficava lá, cozinhando no suor equino, amassada, enfim...

tudo isso devia dar aquele gostinho especial, não?

Anônimo disse...

ela diz que o cordeiro estava bom porque não provou O Bom...

Mariá disse...

a senhora utiliza muito a palavra "culpa" neste blog, a senhora já percebeu?

(post escrito depois de uma aula de yoga enquanto um pacote de pão sueco é devorado)

Natalia Mallo disse...

olha, prestando bastante atenção, a palavra culpa apareceu em apenas 3 posts, não é tanto assim

mas, em todo caso, como tive uma educação cristã, sabe como é....

Anônimo disse...

cordeiros e culpas são velhos conhecidos...

Ana Dupas disse...

prendam os pais de miss kitchen!!!!

p.s. quero comer "o bom"

p.s.2. a avó da minha mãe guardava carne por um mês na banha de porco, já que não tinha freezer. Isso é que é sabedoria culinária...

Anônimo disse...

o aspecto psicológico é fundamental. tira todo gosto vc achar que tá estragado... comer também é um estado de espírito!

Daniel Cohen disse...

Entrei por aqui pela primeira vez, adorei teu blog. Como vc sou um "amante da cozinha"

Abraços.

Ana Dupas disse...

mais uma pequena homenagem... enquanto não faço a tão esperada retribuição! clica n'eu!

Natalia Mallo disse...

que legal que voce veio me visitar, Daniel!

E voce Ana Dupas.. olha só sei que é isso que me faz continuar

Ana Dupas disse...

bem, então.... continuemos!!!