Na minha opinião, o carnaval é parente das festas cruéis de fim de ano. Durante a dupla Natal & Reveillon, nos sentimos -meio- obrigados a uma felicidade em familia que inclui presentes, comilança e disposição. Às vezes essa felicidade está acontecendo mesmo e é ótimo! Em outras, sumir. E tem carnavais em que só se quer passar bem, longe da folia.
O sitio produz muita abobrinha, e no primeiro dia resolvi tentar uma torta. Não sou boa para massas de maneira geral, nem pra bolos ou doces, exceto panquecas. Minha praia é rango. Mas lembrando vagamente uma receita vista em algum lugar, arrisquei uma massa de torta feita de farinha, óleo, um ovo inteiro e água. Assei e virou um biscoito, tipo água e sal, meio dura. Ao menos era sequinha. O recheio: abobrinha refogada com cebola, misturada com 2 ovos caipiras recem botados, batido com leite da vaquinha, temperado com sal, pimenta e queijo Prima Donna. Coloquei para assar/gratinar e abri um vinho.

Ficou um pouquinho seca (me distrai com o vinho), mas ficou bonita. O gosto estava bom. As fatias fininhas de presunto defumado por cima deram um toque. Comemos com arroz integral e salada da horta. Mas antes disso, quis servir uma entradinha extraida de um livro sobre culinária grega, que consiste em figos recheados de queijo feta, manjericão e tomate. Na versão sul-mineira: meia cura cremoso, orégano fresco, tomate, sal e alho, mas regado de azeite grego Minerva.
Num outro dia, fiz um prato típico meu. É um prato que ficou consagrado pelos 10 gatos pingados que o provaram, o Cordeirinho. São costeletinhas assadas numa marinada de ervas frescas (menta ou hortelã, sempre) e alguma bebida como cachaça, conhaque ou rum, ou... Não lembro quantas vezes fiz e é sempre muito bom. Mas desta vez, na hora de abrir o pacote vi que a carne tinha vencido... óntem. Era só um dia, o aspecto e o cheiro estavam bons, consultei os envolvidos e, de comum acordo, resolvemos arriscar. De fato, a carne estava em bom estado, todo mundo comeu, e ninguém passou mal. Eu não comi.
Na verdade nunca acreditei no prato, fiquei deprimida desde o inicio pela imoralidade sanitaria que estava cometendo e preparei desconfiada, asséptica, sentindo culpa e olhando o forno com curiosidade clínica. A carne estava boa, mas eu gorei o prato com minha desconfiança. Nunca devia tê-lo feito. Tenho vergonha de contar isso. E é claro que não ficou bom. Eram costeletas tristes e acanhadas desmaiadas na travessa, e não suculentas, irresistíveis e obscenas costeletinhas derretidas em seu molho, como de costume. Como cozinheira, um erro fatal. Não repetí-lo virou questão de honra.
...
Antes de voltar pra casa, fechamos o carnaval com chave de fenda. Um lanchinho improvisado com restos de geladeira, salada, arroz integral, ratatouille e ovo caipira frito. Uma delicia. O Prima Donna foi parar dentro da salada junto com o presunto defumado e o arroz virou uma papa deliciosa misturada aos sucos do ratatouille, e no centro aquele ovo solar regado de sal e pimenta preta recem moida.
16 comentários:
um dia de vencido está na margem de erro, desencana, companheira, digo, cozinheira!
um dia fez toda a diferença infelizmente...
foguinho... livrinho... hummm...zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
a senhora é muito crítica mesmo!
eu comi o cordeiro e ele tava bom. Não assim... o melhor cordeiro do mundo... ficou devendo uma versão mais fresca da receita.
E chegar a perfeição é mesmo perigoso... quero viver mais uns anos!
a pessoa deve cozinhar feliz, não resta dúvida. muito profundo ensinamento. mas eu bem que comi a parte que me cabia...
uma vez me disseram que os hunos colocavam a carne que iam comer por baixo da sela dos cavalos, e iam pelos caminhos. a carne ficava lá, cozinhando no suor equino, amassada, enfim...
tudo isso devia dar aquele gostinho especial, não?
ela diz que o cordeiro estava bom porque não provou O Bom...
a senhora utiliza muito a palavra "culpa" neste blog, a senhora já percebeu?
(post escrito depois de uma aula de yoga enquanto um pacote de pão sueco é devorado)
olha, prestando bastante atenção, a palavra culpa apareceu em apenas 3 posts, não é tanto assim
mas, em todo caso, como tive uma educação cristã, sabe como é....
cordeiros e culpas são velhos conhecidos...
prendam os pais de miss kitchen!!!!
p.s. quero comer "o bom"
p.s.2. a avó da minha mãe guardava carne por um mês na banha de porco, já que não tinha freezer. Isso é que é sabedoria culinária...
o aspecto psicológico é fundamental. tira todo gosto vc achar que tá estragado... comer também é um estado de espírito!
Entrei por aqui pela primeira vez, adorei teu blog. Como vc sou um "amante da cozinha"
Abraços.
mais uma pequena homenagem... enquanto não faço a tão esperada retribuição! clica n'eu!
que legal que voce veio me visitar, Daniel!
E voce Ana Dupas.. olha só sei que é isso que me faz continuar
bem, então.... continuemos!!!
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