sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ser turista

Miradouro de Santa Luzia.


Ser turista é desfrutar e padecer. Sou dessas pessoas que rejeitam o rótulo e por isso mesmo, sempre vinculam as viagens a algum tipo de trabalho, entre outras coisas, numa tentativa de inserção na realidade local de forma mais profunda ou mais coerente com o que gostamos de ver e projetar sobre nós mesmos. Sinceramente, as nossas cameras fotográficas e mapas não tem qualquer coisa de patéticos?

Contudo, o ser turista é também gostoso, descompromissado e inevitável, bem como os erros que decorrem. De logística: aquela estação de metrô é mais longe. Roubadas: o hotel não é o que parecia. Financeiro: ali do lado era muito mais barato. E por ai vai.

Mas tem atrações turísticas que são clássicos não por acaso. Como os Pastéis de Belém em Lisboa. Defendo a teoria de que boa parte de seu maravilhoso sabor vem do fato de serem feitos na hora e servidos quentes. Mas não é só isso. Há um componente secreto, os portugueses adoram essas mitologias e nós também. Seja como for, a gente chega lá, pega fila junto a muitos turistas como nós. Espera por uma mesa, recebe a pior mesa (do lado do banheiro) que não pode trocar mesmo havendo outras disponíveis. É maltratado por 3 garçons diferentes, o café vem aguado e frio num salão com ambiente familiar e novos velhos móveis. Tudo com aquela cara de vida de turista. Mas só até que eles chegam, os pastéis.

Eles iluminam a sala e perfumam o ambiente. Ao mordê-los, poeira finíssima de canela entra no nariz, seguida de suavidade cremosa láctea, finalizando a mordida com delicada crocância de mil finas folhas e no fim, tudo misturado na boca, que não quer que isso acabe jamais.





MK, de Lisboa