quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Super

Vão me achar louca, mas eu adoro supermercado. Tem gente que não tem a menor paciência.
Mas eu gosto imenso.
Primeiro, por um sentimento de gratidão, por poder estar comprando comida, e me nutrindo.
Segundo, porque é um mundo de variedades ao meu dispôr.
Terceiro porque é onde tudo começa.

Claro, alguns supermercados mais do que outros.
Eu já disse aqui que eu gostaria de morar dentro do Santa Luzia, teria uma barraquinha iglú naquele espaço entre a padaria, as sementes e as azeitonas.
E os mercadões municipais? Outra maravilha. Feiras, mercados de rua. Adoro tudo.

E quando estou viajando, mais ainda. As embalagens, os produtos locais, a estética das coisas.
No Japão, uma viagem!, você não sabe se esta comprando queijo fundido ou pasta de dente. No ocidente já é mais fácil. Nos Estados Unidos notei uma absurda oferta de produtos orgânicos e internacionais.

E aqui em Londres, passei horas no Sainsbury's só vendo minhas opções para uma solitária ceia de natal.
Horas para comprar pouquissima coisa. Detalhe: não precisa passar no caixa. Vai passando os produtos num leitor, depois enfia o dinheiro ou o cartão na maquininha, e pronto. Ninguém controla a honestidade dos clientes, provavelmente porque não precisa. Que beleza, véspera de natal e nenhuma fila.







De esquerda pra direita, em círculo ascendente e descendente:

Caldo de vegetais orgânico e sem glutamato, champignons, iogurte orgânico de baunilha, chá de ervas purificantes, creme hidratante para o corpo, chá de menta e eucalipto, cerejas, aspargos, chá de limão e gengibre, torradas integrais de emmenthal e sementes.

Total: 9,80 libras
Quanto será que teria custado no Pão de Açucar?




Miss Kitchen viajou a convite da Tap. Fly Tap!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sutil



Subtilis.
Fino, preciso, simples, sem adorno.
Leve.


Vocês devem ter lido nos posts anteriores o que foi a minha maratona gastronômica portuguesa.
Uma delicia total. Mas, como eu não consigo ser moderada, sai de lá precisando ir pro rehab.
No, no, no. Pois a era dos excessos ficou (temporariamente?) para atrás.
A vida proporcionou que fosse hospedada em Londres num maison végétarien e pudesse, além de dar trégua aos órgãos internos, provar coisas novas, diferentes e sutis.

Para começar, nem sal nem açúcar. O não açúcar, tranquilo. O sal me preocupou um pouco. Achei que fosse sentir muita falta, ficar levemente deprimida, correr pro saleiro que me foi amavelmente oferecido. Nada me foi imposto, vejam bem. Mas resolvi fazer um laboratório com o meu paladar e uma avaliação clínica do meu grau de dependência. E não é que foi bom? Teve um risoto de cogumelos e aspargos, com um queijo parente do gorgonzola só que muito mais suave, feito com caldo de legumes caseiro e vinho branco, ervinhas frescas, floquinhos de pimenta calabresa e um bom azeite. Senti falta do sal? Senti no começo, mas também reparei que sem o sal as coisas eram mais elas mesmas e se diferenciavam mais umas das outras. Sem o sal a salivação é menor, e o sabor de tudo mais suave, porém com mais nuances. Também reparei que o sal (principalmente se estiver acima da medida), nos deixa um pós-gosto que se sente na garganta, como uma ardência. Todo um laboratório. E assim vou, no exercício de ao menos não usar sal no prato (ao comer fora). Claro que não vou ficar radical, mas quando voltar pra casa, vou começar a adotar o hábito, ou melhor, desadotar o hábito. Em outras palavras: acordar.

A foto acima não é imagem satelital de um novo planeta ou restos de uma erupção vulcânica numa plantação de abacate em Atacama. É um pequeno almoço sutil. Leite de aveia (é só bater os flocos com um pouco de água), com diferentes sementinhas (girassol, gergelim, abóbora) e clusters de aveia. Um pouco de geléia com pedacinhos de fruta para dar um up e pronto. Sem açúcar. Diferente. Bom.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. Fly Tap!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal III - Delícias do Alentejo



Ex Libris


Saimos numa manhã chuvosa, pela Ponte do Vaco da Gama, em direção a Évora. Uma pequena linda cidade rodeada de muralhas antiquíssimas onde visitamos, entre outras coisas, a Capela dos Ossos. Alguns acharam meio tenebrosa, mas eu gostei. É que as paredes são totalmente forradas de ossos e caveiras. A acústica é muito interessante, e o fato dos monges a terem construido como espaço de meditação, onde a presença da morte nos lembra do efêmero da vida, também. Ao entrar, a famosa frase: Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos. Saimos calados antes que a profecia se cumprisse, e fomos ao ex libris da cidade, ruinas do que teria sido uma homenagem a Diana, a Caçadora, mas não foi.

De Évora, partimos para a Montes da Cal, mais ao sul. No caminho, lindos vinhedos a perder de vista, oliveiras e uma grama tão verde tão verde que chegava a ser fosforescente. Chegando lá, uma construção belíssima, com referências claras à influência árabe, com amplos salões, cúpulas e decoração cheia de cores e pequenos espelhos. É lá que as adegas Dão Sul produzem alguns vinhos, realizam eventos e recebem, vindos de todo o mundo, os interessados em bom vinho português.




Sala de estar bem.





Desfile de belezas.




Conhecemos todas as instalações, desde salas de degustação e laboratório até os imensos tonéis de inox onde toneladas e toneladas de precioso líquido aguardam sua hora de ir à garrafa. Também, uma sala de barricas francesas de carvalho, onde os reserva aguardam pacientes a sua vez, no escuro. Provamos algumas variedades ali mesmo, direto do barril, o que teve todo um encanto para mim.



Ficção científica!



A seguir, a sala de jantar, em frente a uma lareira acesa, e ao lado de uma cozinha, da qual vinham aromas de enlouquecer. Num primeiro momento, os aromas me lembraram a Patagonia, mas até agora não sei por que. Todo o tempo fomos recebidos pelo hostipaleiro wine maker e enólogo Carlos Lucas, que além de entender tudo, sabe explicar com clareza e simplicidade os detalhes mais minuciosos, não só do vinho como bebida, mas o mercado internacional, as dificuldades dos produtores e até, muito oportunamente, as consequências que o vinho sofre por conta do aquecimento global.




Barricas.





O almoço foi mais uma orgia gastronômica, preparado por um chef alentejando muito eficiente e simpático. Peixinhos da horta (mini vagens fritas), brusquetas de coelho e tomate, lombinho de coelho com beringelas, vitela com purê de castanhas e geléia de morango. Tudo excelente. E isso é o que consigo me lembrar, já que a máquina fotográfica ficou sem bateria. Ah! E um bolo de chocolate levemente queimadinho e servido com uma compota de cerejas especialíssimas.




Repare nos típicos ovos verdes alentejanos à esquerda.






Provamos alguns dos vinhos da casa, cada um mais gostoso, e todos nos surpreendemos com a qualidade do Vinha de Saturno. Um vinho gostoso, fácil de tomar, e ao mesmo tempo, cheio de personalidade. Como se isso fosse pouco, acessível! Eu adorei a frase do Carlos: "Fazer um vinho excelente que esteja ao alcance de todos, é o meu trunfo como enólogo". Lindas palavras. O Porto Vintage da casa (que fez tanto sucesso que não se acham mais garrafas 2004 e 2005 no mercado) também era maravilhoso e acompanhou a tábua de queijos e frutos secos em perfeita harmonia.



Já pensou no verão?






No fim do dia, ficou tudo cinza e frio, uma melancolia contrastante com a calidez humana e gastronômica que sentiamos dentro da casa. Entramos na carrinha e voltamos para casa em silêncio, alguns dormindo, outros lembrando, todos (aposto) com vontade de ter ficado no Alentejo um pouquinho mais.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. FLY TAP!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal II - A Tasca da Esquina





Acordei já em clima de expectativa, tomei um banho rápido e desci para tomar café da manhã no hotel. Lindo pequeno almoço! Frutinhas, cereais, shots de iogurte, ovos mexidos, diversos pães, croissants, geléias. Uma beleza. Mas eu queria comer pouco, para me preservar pro almoço prometedor. Por isso peguei só uma fatia de pão de centeio, uma de presunto cru e um café preto.

Para abrir o apetite decidi andar um pouco. Fui até o Museu de Arte Contemporânea do Chiado. Uma exposição muito interessante, minimalista, do artista David Claerbout. Vídeos com imagens estáticas, como stills, onde só um elemento se move. Outro em que uma senhora fica se mexendo lentamente numa cadeira de balanço, com o sol aparecendo e saindo do seu rosto. Se a gente andasse, ela virava o rosto como se estivesse nos vendo, ou nos ouvindo. Simples e inspirador. Mas olhei o relógio e vi que estava na hora, voltei correndo.






Fomos em caravana de taxis até a Tasca da Esquina, o restaurante do Vitor Sobral. O lugar é simples e aconchegante, bastante iluminado e logo na chegada já se vê a cor e se sente o cheiro do que virá. O próprio Chef, uma graça. Minha primeira imagem dele foi a de um homem com a mão na massa, ou melhor, as mãos num enorme bacalhau, lindo, ainda salgado.







O almoço foi uma sucessão interminável de prazeres. Começando com um queijo incrível e azeitonas interessantes, uma espécie de pãozinho recheado de ervilhas com curry (o filho da samossa com o pão de batata) e vinho, muito vinho.



Delicia!


Bati meu recorde, bebi 15 vinhos diferentes numa única refeição, composta de diversos pratos em pequena quantidade e com sabores muito diversos e especiais. Começando com uma sopa de tomate deliciosa, com acidez na medida certa. Depois vinagrete de polvo, este muito macio, desmanchava na boca.



Super macio.


Camarões assustados (quase crus) sobre um leito de maionese rala (quase um aioli mas sem o alho). Bacalhau feito de maneira bem tradicional, com um azeite de aroma maravilhoso. Rabada (uma manteiga), com finas fatias de abobrinha, sobre uma emulsão de ervilha e, last but not least, um gateaux de chocolate maravilhoso, com farofa de amêndoas. Uma festa.



 Camarão assustado.



Bacalhau perfumado.




Rabada.



Além disso, os vinhos, também estrelas do almoço. Escolhidos por um juri de experts, era um melhor que o outro. Eu, que não sou grande conhecedora das minúcias do vinho, mas sei do que gosto, escolhi três (quatro, contando o Porto que fechou o almoço) que me agradaram especialmente. Entre os espumantes do aperitivo, adorei o Luis Pato. Dos brancos, o Paulo Laureano, alentejano, delicioso. Quando provei este vinho me lembrei de iogurte. Pensei: se eu disser isso vou passar vergonha, melhor não opinar, só dizer "mmm, que gostoso". Então a Luciana Lancelotti, que escreve sobre gastronomia e viagens e tem um portal muito legal chamado Bistrô Pimenta, disse "este vinho é abaunilhado". Matou a charada. O que estava me lembrando é um iogurte de baunilha que descobri na França e que me vicia sempre que vou pra lá.



Muito vinho.




 Chave de ouro, com Porto Vintage da Churchill.


Voltando aos vinhos, vamos aos tintos. Teve um que desceu tão redondo, que fui obrigada a repetir a dose. Tive que degustar de novo, sabe? Para captar mais uns detalhes e poder emitir uma opinião mais completa (que na verdade se reduziu a uma onomatopéia de prazer). É o Churchill Estate. O mais legal foi ver que minha opinião não estava lá tão distante daqueles conhecedores que me acompanhavam à mesa.

A companhia, novamente, um prazer a parte. De um lado, um guru da gastronomia portuguesa, praticamente uma enciclopédia. Em frente, um Chef, simpático, simples, nos dando ótimas dicas. Por toda parte, jornalistas, brasileiros e portugueses, trocando informações. Executivos nada formais. Gente entendedora dos assuntos, mas acima de tudo, entendedora de um estilo de vida, despretensioso e espontâneo, baseado em amor pelo trabalho que faz e nos prazeres de uma boa mesa e uma boa conversa. Coisas que por mais banais, nos fazem sentir que a vida vale a pena. É que ela não tem sentido, né? A gente que dá.



Boas companhias.

...

Fiquei sentimental (ou devo dizer, existencial?), eu sei. É que eu me emociono observando as relações humanas. Pois, de noite fomos ao fado, e toma emoção. Lembrei muito do tango. Fiquei pensando nessas letras, na nostalgia, e também na alegria. Fiquei pensando em como um interprete pode sobreviver a um gênero. Como reverenciar a tradição mas colocar algo seu dentro disso. Fiquei pensando nos clichês turísticos, e na essência que encontra seu caminho para se mostrar e sobretudo pensei no prazer de viajar, de como isso muda nossa relação com o tempo, o espaço, as pessoas, e principalmente, com nós mesmos.



Miss Kitchen viajou a convite da Tap. FLY TAP!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Miss Kitchen em Portugal I

Tinha tanta vontade de voltar a Portugal! Mas não sabia que iria acontecer tão cedo. Foi uma grata surpresa ter recebido esse convite, e em uma semana lá estava eu, sentada no avião, tomando um belo tinto português e olhando a chuva pela janelinha. Comida de avião é aquela coisa estranha, mas nesse caso foi diferente. Isso se deve, como soube depois, a algumas medidas tomadas pela Tap, junto aos chefs parceiros (Dânio Braga e Vítor Sobral). Uma delas é não incluir molhos industrializados no preparo dos pratos. Grande sacada. Isso faz o cheiro de comida de avião se transformar em cheiro de comida, simplesmente.

Ciabatta de alecrim e Loios 2008 (Alentejo)



Saladinha.




Mil (seis) folhas.


Sentei confortavelmente e assisti a um filme que queria ver há um tempo: "500 dias com ela". É um desses filmes sobre não mais acreditar no amor, meio tristes, onde nada da certo, só que no final o filme diz pra você que dá pra acreditar sim. No final das contas, da ou não para acreditar no amor? Acho que depende do amor. Em alguns da pra acreditar, em outros não. Mas assisti ao filme e comi uma deliciosa ciabatta com alecrim com manteiguinha, salada verde com laranja marinada e amêndoas e mil folhas de legumes. A meia dúzia de folhas do mil folhas composta de finíssimas fatias de batata levemente cozida (crocantinha). E então, quando estava assistindo pela segunda vez Julie & Julia, só pra ver as comidinhas e rever meus conceitos (comentei no post anterior que não gostei do filme), foi entre um pato dessossado e um boef bourguignon que capotei, e acordei muito perto de Lisboa.



Amanhecer no avião.




Chegando em Lisboa, um dia lindo. Aquela luz que faz dessa cidade um cenário de cinema. Saí caminhando ao léu, me perdendo no já familiar Bairro Alto, até parar numa daquelas tascas bem simples, a pastelaria Orion. Eu já tinha ouvido falar que era boa e, dando sequência à minha pesquisa sobre PFs do mundo, resolvi arriscar. Pedi um dos pratos do dia: "Vitela à padeiro". Nem perguntei o que era. E sabe que estava muito bom!? Fatias macias de vitela assada com molhinho de tomate, arroz branco, batata frita sequinha e salada.




Honestidade a 4 euros.



Muito bom. Para mim é muito interessante saber o que comem as pessoas no dia-a-dia, os trabalhadores, estudantes, gente comum. E aqui, comem muito bem. Depois disso, uma passadinha no restobar do meu amigo ator espanhol, o Les Mauvais Garçons, onde comi um pudim de leite gostoso com chantilly e expresso da Tanzania. E depois, mais uma volta pelos miradouros e ruazinhas, até que ficou de noite e voltei correndo para me aquecer no hotel.

O jantar, por conta do Chef Luis Rodrigues, foi muito gostoso e aconteceu no próprio restaurante do Bairro Alto Hotel, charmosíssimo e muito bem localizado. Começou com vieiras portuguesas (macias, generosas), cobertas de caviar, que explodia na boca em graciosos estalinhos ácidos. Depois, carpaccio de pato defumado, e a estrela da noite, bacalhau com gema de ovo cozida muito lentamente, couve portuguesa e purê de grão de bico em forma de uma placa grelhada. Delicia total.





 A foto não faz jus, eu sei.


Nesse jantar ainda teve uma vitela que estava boa, mas pro meu gosto muito passada. Depois soube que tradicionalmente, esse é o jeito de serví-la em Portugal, e que carnes mal passadas são coisa mais recente, de gente "jovem". Eu, como jovem senhora argentina, vocês sabem, gosto da carne num ponto em que ela praticamente conversa comigo. Houve um caso extremo em que um bife de chorizo me contou sua infância. Esta vitela (bem macia) foi servida sobre uma batata cozida que estava um pouco salgada. Preferi o bacalhau. Fora a comida, vinhos brancos e tintos cujo nome não sei, e sorvete de avelã com pêra grelhada caramelizada. Tudo bem bom. E o melhor, a companhia. O que mais posso pedir do que uma mesa de gente que adora comida, gosta de conversar (não só falar, mas também ouvir, qualidade rara). Gente cheia de histórias para contar, com humor e inteligência. Essa foi a verdadeira sobremesa. (Sobremesa, na Argentina, é aquele papo que as pessoas tem depois do jantar).

E então fui dormir o sono dos justos, que o dia seguinte seria intenso.
Me espera um almoço/degustação na Tasca da Esquina, do renomado chef Vítor Sobral.
Depois conto sobre isso!

MK, de Lisboa, comendo castanhas assadas da banquinha da Praça Camões.

(Miss Kitchen viajou a convite da Tap, FLY TAP!)









terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Julie & Julia




Ontem fiquei presa na chuva no meio da Paulista. Olhei para o transporte público, para os taxis, para o mau humor das pessoas e não duvidei: vou entrar no cinema. Resolvi ver um filme que ninguém queria ir ver comigo, "Julie & Julia". Naturalmente sou atraida por filmes sobre comida e pessoalmente não tenho nada contra sessões da tarde (ainda com o álibi de ter visto um filme brasileiro de autor e um Almodóvar nos últimos dois dias), e ainda por cima o filme foi inspirado por um blog (nossa, que metalinguístico que ficou isso aqui). Por tudo isso fui feliz tomar um capuccino no Vanilla Café (um pouco frio) e depois uma porção de mini pão de queijo (bem frios) no Unibanco da Augusta.

Cinema vazio, aquele sossego, um momento só meu. Tudo gostoso.
Pena que o ar condicionado estava muito forte (péssimo em combinação com as roupas úmidas pela chuva) e pena que não gostei do filme. Mas mesmo assim valeu.

Eu achei que o que vale nele é a comida. Apresentada por uma fotografia impecável, a comida brilha. São peixes assados na manteiga, cozidos com vinho tinto, brusquetas, patos... é um desfile de ingredientes e de coisas apetitosas. Lembrei de uma amiga fotógrafa, que me contou sobre diversos truques (algus nojentos) usados para embelezar as comidas nas fotos de divulgação e propaganda. Parece que rola um verniz marítimo nas carnes grelhadas, argh!

Mas voltando ao filme, achei chato. A Meryl Streep compôs um personagem, a Julia Child, que fala com uma voz de dondoca arrastada que desafina constantemente pro agudo. Cansativa e sem carisma. O personagem que inspirou o filme teria essa voz? Não sei, mas eu ficava torcendo pra ela ficar calada e voltar logo pra comida. A outra, a Julie contemporânea, uma boa moça sem nuances, caretinha e sem graça. Todas as emoções inverossímeis. Os maridos, uma lástima. Quiseram mostrar uns caras legais pra caramba, super companheiros, e acabaram apresentando homens anulados, servis e sem brilho próprio. O marido da Julie, um chato. É o mesmo ator que fez o chato noivo careta em "Vicky Cristina barcelona". Toda vez que ela serve um prato, o ator, para aparentar que aquilo esta muuuito delicioso, fica enfiando pedaços enormes de comida na boca e falando com a boca cheia. Super artificial, mais parece um cara hiper ansioso e descompensado do que alguem apreciando uma boa comida.

O filme é careta e previsível. A trilha, piegas (não poderia deixar de ser). Tudo estetizado e sem vida. Não existe ambiguidade, não tem borogodó, é tudo morninho. A mocinha é muito boazinha e muito fofinha e esforçadinha e tempo inteiro, o maridinho é um fofo constante e mesmo quando ele se satura das maluquices egocêntricas da mulher, briga um pouquino e volta pra casa em 5 minutos. E a idéia de vencer na vida sob a ótica americana capitalista é tão demodè! E ainda finge que tem uma crítica embutida a aquilo mesmo que esta enfatizando... Que preguiça de Hollywood, e desses personagens e histórias bidimensionais, sem complexidade, sem nenhum sentimento desencontrado e diria mais: sem vida interna.

Bom, o que você esperava? (alguns podem perguntar). Realmente, não esperava muito. O que esperava era ver comida bonita e isso aconteceu, então fiquei satisfeita. Voltei pra casa e comi minha torta de alho poró com queijo de cabra, esquentada no forninho elétrico, assistindo a reprise de um seriado velho.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Bacalhau muito simples!

Como parte das comemorações do fato de possuir um novo forno, resolvi fazer um bacalhau, que batizei de "Bacalhau à moda de mim". Novamente fiz um assado num dia extremamente quente (a última vez foi um cordeiro que deixou todo mundo suando à mesa). A meteorologia não me ajuda! E aqui em São Paulo é tão imprevisível que, enfim, tenho decidido os cardápios desconsiderando o clima. Quase sempre dá certo.

Estava tão quente que o vinho branco teve que ser mantido em contêiners de gelo, já que a geladeira não dava conta. Estava delicioso, refrescante e ótimo junto com um queijo bleu de bresse (o filho do camembert com o roquefort), melba com amendoas, emmenthal, pão de centeio e pão sueco. Seguindo essa entradinha, nos transferimos para a mesa do quintal (sendo que tinhamos que mudar as mesas de lugar constantemente para fugir do sol). Começamos com uma simples salada verde com tomatinhos grape e então veio o Sr. Bacalhau, que estava muito bonito e fumegante em sua travessa anti-aderente.




Lindo!



É muito simples. Nada que eu tenha inventado. Parte do princípio básico de assar o bacalhau com diversas coisas e mergulhar tudo num bom azeite de oliva. Como decidi em cima da hora, tive que acelerar o processo de dessalga, seguindo conselhos de uma expert (a promotora da marca de bacalhau que me atendeu no supermercado) usei água bem gelada (com cubinhos mesmo), que troquei de hora em hora. Ao todo o peixinho ficou 16 horas na água. Funcionou. Pro meu gosto ficou um bocadinho salgado, mas ninguém reclamou.

Feito isto, coloquei na travessa e acrescentei os seguintes ingredientes: batata doce cozida (só pra amolecer um pouquinho) em rodelas, anéis de cebola roxa (ultimamente a minha cebola é sempre roxa), pimentão de duas cores, dentes inteiros de alho, rodelinhas finíssimas de pimenta vermelha, azeitonas pretas sem caroço. Por cima, um monte de azeite de oliva extra virgem. Usei o Torre Sur, excelente. E um toque final de pimenta preta do moedor. Depois de assado, cobri com salsinha fresca picada.

O tempo que ficou no forno não sei dizer. Minha técnica consiste em tirar quando as batatinhas tiverem uma aparência de levemente tostadas. Comemos no calor acompanhado de arroz integral roxo e arroz branco basmati. Rimos, suamos, bebemos, e o sol aos poucos foi baixando, baixando, entrou uma brisinha fresca gostosa... Chegou um brownie com sorvete de pistache do Stuzzi (sorveteria imperdível na Vila Madalena). Mais umas garrafas inesperadas de ótimos vinhos brancos italianos e o domingo foi correndo, tarde adentro, entre amigos.