quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Dar para receber



Julgamento de Martha - CBS News


Esses dias li uma matéria sobre o famoso chef Pierre Schaeledin (ex Le Cirque - NYC) que agora cozinha para a dondoca, milhionária, guru de cama mesa e banho, pop star e criminosa Martha Stewart. Parece que tudo começou quando ela foi presa. A comida na prisão de Alderton, West Virginia, não era lá muito boa, e assim que Martha se viu livre (mas vivendo reclusão domiciliar), contratou o Pierre para cozinhar, exclusivamente para ela (e posteriormente para seus televidentes), pratos no mínimo... apropriados. A história da prisão não só deixou ela mais rica como deixou Schaeledin mais famoso e mais feliz. Ele diz que agora se sente um cozinheiro, assa o próprio pão (e o de Martha) e até aprendeu a fazer cookies. Uma mão lavou a outra.



Sanduichinhos de Pierre: pão preto (preto mesmo), alface, magret fatiado, queijo, tomate



O motivo da prisão de Martha é super estranho. Mentiu ao ser interrogada sobre uma suspeita transação na bolsa envolvendo ações de uma empresa de biotecnologia chama ImClone. Será que ela está envolvida em clonagens? No mínimo, em mutretas no mercado financeiro. Já o Pierre só saiu do Le Cirque porque este fechou temporariamente (depois voltou como Chef Executivo, cargo de chefia quase administrativo, zero mão na massa). Conclusão, o emprego com a Martha caiu do céu. Ser chef de restaurante badalado cansa (digo sem experiência própria). Mas o Pierre parece legal, menino do interior (da França), origem simples. Ama azeite de oliva, alimentos crus e embutidos caseiros. E diz que a Martha sabe receber como ninguém.



Infame mas engraçado: Uma paródia à capa da revista de Martha, donda-de-casa transformada em dona-de-cela
(politicalhumour.about.com)


Então descobri que "receber" em inglês é entertain, ou seja, entreter. Em espanhol usaria agasajar, que lembra "agasalhar". Tornar aconchegante. Essa coisa de receber é interessante. Tem lugares onde a arquitetura não permite, de tão antipática. Como os restaurantes de decoração fria (acho que hoje inaugura mais um no Itaim), ou as cozinhas pensadas como algo separado do resto da casa.

Tem gente que nasceu pra receber e gente que não gosta. Gente que fica num alto nível de stress, obcecada com detalhes, que não admite erro nem improvisa e gente que não lembra nem de oferecer água a quem chega da rua num dia quente. Tem até gente que depende de receitas, fórmulas e formalidades e encara o receber como uma missão da qual depende seu status. Tem gente que vai no terreiro para receber. Tem gente que vai no banco. Em todo caso, receber dá trabalho. Sabe aquela cena do aniversariante correndo pra lá e pra cá para limpar a mesa, recolher copos, repôr salgadinhos e esvaziar cinzeiros enquanto os convidados riem alto com um pé no chão e outro na parede da sala? Eu vi isso acontecer na casa de uma poeta semana passada.

Dá trabalho mesmo, e dá prazer. Pelo menos eu gosto... Uma mesa bonita, uma cozinha fumegante e cheirosa, aquela primeira garrafa de vinho que tomamos enquanto cozinhamos. A música, as risadas, a campainha que quando começa a tocar não para mais. A aprovação dos comensais, essencial. Sem falar na presença infalível do Monstro da Pia. Porque apesar de eu ser metódica e lavar toda a louça suja existente antes e depois de cozinhar, sempre, invariavelmente, a jornada termina com uma pilha enorme de pratos, copos, taças, e, arghhh, panelas. Para minha sorte, quem cozinha não lava.


Domingo passado recebi. Fiz um peixe assado com ervas e cogumelos paris. Não tenho fotos, infelizmente, acabou rápido demais. Para acompanhar o peixe, gomos gigantes de abóbora hokaido com casca, levemente cozidos e depois confitados/assados, batizados de "costela de brontossauro". Purê de cará para trazer aquela suavidade branca e nutritiva. Não sobrou nada, e olha que tinha muito. Fiquei exatas 4 horas e meia na cozinha produzindo o almoço para 9 pessoas. No final estava exausta mas feliz, me sentindo leve. É recebendo que se recebe.



Ele traz pão italiano torradinho


E não deu outra: dois dias depois fui recebida num almoço/reunião de trabalho na casa de um amigo. Apesar de eu saber que ele é muito cuidadoso e sensível, imaginei que seria algo bem simples, improvisado, aquela praticidade típicamente masculina que muitas vezes inclui pomarola. Claro que com ele eu tinha esperanças, sabendo da pessoa que ele é. E pensando em colaborar levei salada pré-lavada (confesso que sou consumidora disso, um dia explico), suco de uva orgânico e cerejas para a sobremesa. Eu estava com bastante fome. O cardápio foi: linguini ao molho de salmão (argetino, defumado) e alho porró, com salada verde e cerejas chilenas (?) do sinal vermelho da Rebouças. Vinho tinto cabernet-sauvingon Terrazas (poderia ter sido um vinho mais leve, mas caiu super bem). Tudo numa mesinha quadrada de madeira, com duas pequenas velas acesas, uma linda toalha, taças de cristal. Muito gostoso o prato e muito caprichoso o jeito dele me receber.

Quando me recebem com uma comida gostosa e feita com amor e cuidado, a fantasia de que sou especial fica quase real.















terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Café da manhã

Meu café da manhã de padaria (Leticia)


Poucas coisas me lembram mais São Paulo do que as padarias. Na Argentina, onde nasci e onde passei as férias passadas (voltei semana passada mas já parece que faz um século), as padarias vendem de tudo, mas muito raramente servem as delicias in-loco. Lá é tudo para viagem, ou como se diz lá "para llevar". Medialunas, sandwiches de miga, facturas, pebetes... tudo quentinho e embrulhado num papel grosso e cinzento, que mantem a temperatura e o sabor e que fica um pouco manchado no fundo com a gordura que sai das iguarias. Gosto muito do pão de lá. Deve ser a memória afetiva, ou talvez seja a água. Mas gosto muito também do clima das padarias aqui em São Paulo.

O típico café da manhã de padaria paulistano é uma coisa que me produz "mixed feelings", confesso. Como todo mundo, tenho um prazer troglodita pelo pão na chapa, mas ele me deixa com muita sede pelo resto da manhã, cai pesado. Normalmente prefiro sem miolo e frio. Sempre peço "com pouca manteiga". Mas isso é impossível, ninguém (com exceção da Rosineide da padaria Leticia) consegue atender esse pedido. É um problema de condicionamento ou automatismo garçonil, como quando peço coca-cola com gelo e sem limão. O limão está sempre lá. Bem, além do pão, que ainda por cima tento em vão eliminar da minha dieta, uma média de café com leite é muito pra mim. Por isso acabo pedindo cafezinho pequeno com leite desnatado, não para emagrecer mas porque o leite integral de caixinha me deixa na boca uma sensação gordurenta que só passa escovando os dentes com Parodontax.

Além do pão com manteiga e o café com leite tem o suco de laranja com mamão, esse vilão. Tomo para sentir que tenho um mínimo de preocupação com meus intestinos e com a tão necessária ingestão de frutas, mas não gosto nada, bebo como se fosse remédio. Mamão é uma das pouquissimas coisas na natureza que não me produz nenhum entusiasmo. Combinado com laranja, fica essa coisa sem graça com um toque ácido. Prefiro água com gás.

Nada disso impede que vocês me vejam na padaria da esquina deglutindo prazerozamente tudo que acabo de criticar, como no dia da foto acima. Sou mesmo uma pessoa complexa e ambígua, fazer o quê?



Broa de milho da padaria Pioneira: Imperdível


Já o café da tarde é outra coisa. Assim como alguns se permitem começar a beber depois do meio-dia, outros esperam a tarde chegar para começar a atacar coxinhas, doces obscenos de cores e recheios estranhos, pedaços de pizza de padoca e coisas do gênero. Na tarde em que tirei essa foto, até que peguei leve. Essa broa é do tipo macia, esponjosa e oca. Uma delícia! A padaria Pioneira fica no Alto de Pinheiros/Vila Beatriz, na Rua dos Macunis. Outras coisas boas que você acha por lá: quiche de cebola, coxinha, bolinho de bacalhau, pão francês integral, doces portugueses e por ai vou.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Aconteceu

Depois de 3 semanas em territórios argentinos, finalmente aconteceu.

Cansei de comer. Cansei de procurar onde comer, de comer fora, de ver comida, de falar de comida. Cansei principalmente da carne vermelha. Sabia que isso iria acontecer, e mesmo assim comi, comi tudo que pude. E mesmo cansada, ainda vou comer mais um pouco, já que graças à Aerolineas Argentinas, que instaurou o caos aéreo e acendeu a chama fácil da violência portenha, ganhei dois dias a mais na cidade. Mas cansei dos garçons, do pão, da manteiga. Cansei de pedir a conta, de pagar a conta, de escolher a mesa. Quando chegar em casa, quero ir no supermercado, fazer uma bela compra e, por um tempo, comer coisas simples, quantidades coerentes com o meu peso, verduras, legumes, frutas. Quero cozinhar, misturar menos, comer bem. E principalmente, tirar um pouco a comida dessa região que fica no centro da minha vida e colocar um pouquinho de lado, cedendo lugar a um pouco de verdadeira atividade física, melhor ainda se for do tipo que alonga, tonifica e relaxa. Retomar os projetos e tocar a vida com energia renovada. Férias funcionam.


Mas antes de cansar totalmente (alguem acreditou no parágrafo acima?), deixem eu apresentar a MELHOR TORTA DE MOUSSE DE CHOCOLATE DO PLANETA TERRA:


Desconsiderem as branquelas do andar de baixo, que funcionam como mero contraste.


Sim, no andar de cima da geladeira, a premiada torta do Florida Garden, confiteria que fica na esquina de Florida com Paraguay, bem no meio do centro do cúmulo do auge do turismo e das lojas de casaco de couro. Aliás, o que se ouve constantemente nas invasivas abordagens dos lojistas: "leder chaquet, leder chaquet!". Inglês com sotaque argentino é uma coisa engraçada. Português também. Inglês com sotaque brasileiro também. E assim por diante.

Quando eu era bem pequena, minha avó me levava ao Florida Garden para tomar Ginger Ale, um refrigerante que só adulta aprendi que era feito de gengibre. Até então eu achava que era feito de algo que não tinha nome mas tinha gosto estranho. Porque o legal era passear com a minha avó. Ela era (e continua sendo) bonita, inteligente, elegante, bem humorada. E ainda lutava karatê (isso ela não faz mais, está com 90 anos). Foi ela quem me ensinou a subir em árvores e a escolher bons restaurantes, já que não sabe cozinhar absolutamente nada.

Mas essa torta de mousse é incrível! Tem o mesmo sabor há 30 anos, no mínimo. É leve, não muito doce, tem uma massa bem fininha coberta por uma espuma deliciosa e, para finalizar o prazer, lasquinhas crocantes de um bom chocolate escuro. Se um dia forem pra Buenos Aires, não deixem de experimentar.

Agora vou sair para andar um pouco. Preciso fazer por merecer.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Curiosidades comestíveis da Patagonia

Llao-Llao


Reparem nos nós escuros nos galhos


Aqui tem muitas árvores, muito grandes, muito antigas, muito fortes. Elas tem nomes interessantes: lengas (não confundir com lenga-lenga que é outra espécie), notros, coihues, roble pellin, alerces, arrayanes, etc... São lindas, impressionantes. No inverno elas suportam bravamente as nevadas. Aliás, é graças à neve que elas sobrevivem, já que dentro do gelo a temperatura é de zero grau, e fora dele, pode chegar a vinte negativos. Por isso, antes congeladas do que mortas, elas recebem a neve com alegria.



Llao-llao com cogumelinhos



Às vezes, muitas vezes, elas sofrem o ataque de um parasita e seu tronco reage criando enormes nós irregulares chamados "llao-llao". Este também é o nome de um bairro e do mais famoso hotel de Bariloche, construido pelo arquiteto Bustillo na década de 40. Este homem foi um herói urbanizador local, construiu também o Centro Civico (espécie de praça e centro de convivência rodeada de prédios de pedra que abrigam museu, prefeitura, etc) e tem até avenida principal em sua homenagem.

Mas voltando às árvores, nos tais llao-llaos nascem uns fungos redondos interessantes, cujo nome não sei e do qual ainda se alimentam alguns índios. É uma espécie de cogumelo redondo, côr de mexirica aberta, cheio de suco, meio doce e que não tem muito gosto. Quando secam, caem no chão e ficam bem duros e cheios de furinhos. Eu comi um! (realmente tem gosto de água, me pergunto como ficaria refogado em azeite com salsinha, alho e vinho branco).



Gosto = nada




Curanto


A placa não deixa dúvidas


Outro resquício de cultura mapuche é o Curanto. É uma espécie de churrasco feito embaixo da terra, dentro de um enorme buraco. Pelo que entendi são colocadas as brasas lá no fundo, pedras sobre as brasas e comida sobre as pedras. Por comida, entenda-se: batata doce grande com casca, cenoura com casca, uma massaroca de abóbora, milho e queijo, carne de porco, carne de vaca, cordeiro e linguiça. A comida é coberta com folhas de uma árvore local e por último, pedras novamente.



Verdadeira churrasqueira underground


Provei o prato no endereço mais obvio, "Curanto de Victor Goye", na colônia Suiça, que é um bairro onde (obviamente?) também se fabrica bom chocolate. Pelo caminho se vê a parte mais ocupada de Bariloche, cheia de pousadas (hosterias) na beira do lago Nahuel-Huapi. Ao chegar no restaurante já se vê o sucesso. O local estava abarrotado de turistas, em sua maioria familias argentinas barulhentas. Curiosamente, poucos gringos.

O sabor do curanto é muito bom! Bem defumado, e acho que as folhas que são colocadas em cima dão um certo perfume também. O jeito de servir é bem tosco, vem numa travessa de plástico, com pratinho e talheres descartáveis. É preciso pagar adiantado, pelo jeito é difícil controlar tamanha procura. Tem música ao vivo com um senhor de barba, mistura de índio com hippie, que canta folclore (muito bem) e conta piadas, tira sarro dos comensais, se diverte e passa o chapéu. O som é um pouco alto demais, o violão tem muito agudo, mas é divertido.



Cerveja artesanal para acompanhar



Francamente queria que viessem mais legumes do que carne, e não o contrário, mas certamente essa minha preferência não é uma tendência geral. Também queria que tivessem trazido (adivinha?) azeite de oliva, porque as coisas eram um pouco secas. Sal também teria sido bom, apesar de não precisar, só pra eu me sentir segura.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Lugar de sueños



Miss Kitchen trabalhando e tomando mate


Imaginem um lago de água azul-turquesa. De frente pro lago, um vale. De cada lado do vale, uma montanha, com neve no topo. Entre o vale e as montanhas, um bosque. No vale, um imenso gramado com pequenos riachos, onde algumas aves ficam ciscando o dia inteiro e coelhos selvagens passam apressados aos pulos. Espalhadas no vale, construções no típico padrão patagônico: madeira, vidro e pedra, com decoração simples e aconchegante. Assim é Peuma-Hue, que em mapuche, dialeto dos indios locais, significa "lugar de sonhos" ou "lugar de ilusões". É uma fazenda à beira do Lago Gutierrez, a 25 quilómetros do centro de Bariloche.



La estancia vista de arriba


Aqui você se hospeda, come, anda a cavalo, faz trekking, kayak, pesca de truta (fly-fishing), e não precisa nem pegar carro para aproveitar tudo que a Patagonia Norte oferece. Além disso, você pode ter experiências antropológicas interessantes, como a que eu tive no meu primeiro jantar, ouvindo a conversa de um grupo de profissionais liberais ingleses de meia-idade trocando suas impressões sobre a América Latina. Até descobrir que eu era argentina e minha amiga brasileira, foi um desfile de clichês que deixaram a gente meio constrangida, sem saber o que dizer. Ainda por cima ficamos meio excluidas da conversa. Por isso mesmo a gente não falava nada e eles continuavam animados como se não existissemos. Uma hora não conseguimos evitar a vingança infantil de falar barbaridades sobre eles em português. Mas depois nossa boa educação nos fez reconsiderar nossos próprios preconceitos e tentar comunicação. Alguns jantares e garrafas de vinho depois, as conversas ficaram mais interessantes, as pessoas mais soltas, começou a ficar divertido dividir a mesa com essa fauna tão diferente.

Sim, este é um lugar exclusivo, que cobra um valor relativamente alto pelos serviços, mas certamete oferece tudo que promete. É um pouco pensado para atender o turismo estrangeiro, principalmente europeu, que vem pra cá fugindo do frio do hemisfério norte e aproveitando o câmbio mais do que favorável. Faz parte da rede "Rusticae", uma espécie de "roteiro de charme" argentino que combina um atendimento de primeira com instalações que tem uma pegada rústica, despretensiosa. Eles tem uma chef que só de olhar a cara dela dá pra ver que cozinha bem. O jantar é servido sempre à francesa, com um menu de três passos, troca de pratos, taças de cristal e moças educadas bilingues dispostas a providenciar o que quer que você necessite para ser feliz, ou quase. Eu preferiria algo mais informal, mais à vontade, mas fazer o quê? O que importa é que a comida é boa.


Apertivos patagônicos: queijos defumados, grãos, salame, presunto de javali, empanadinhas de queijo com gergelim, vinho branco Chardonay Terrazas (Mendoza)


Antes de jantar sempre tem um momento belisquetes, num estilo bem troglodita, com salame, truta defumada, queijos defumados, azeitonas. Aliás, aqui quase tudo é defumado, não sei por que. Se você se distrair, defumam você e servem de aperitivo. Eu gosto das coisas defumadas mas acho que depois de um tempinho ficam um pouco enjoativas. Bom, em seguida vem a moça até os sofás com vista panorâmica e anuncia: "dinner is ready". Então vamos até a mesa e começa o banquete. Na primeira noite teve souflee de beterraba, cenoura e espinafre, seguido de frango à mostarda com batata assada e sorvete de frutas do bosque com ... frutas do bosque de sobremesa.

Na segunda noite, novamente o aperitivo e depois lascas de beringela assada como entrada (estava com tanta fome que esqueci de fotografar), e como prato principal um risoto ao vinho rosê.





A sobremesa foi um creme indefinível com framboesas. Tudo muito bom! Eles realmente conseguem ter um rigor gourmet na apresentação, mas com muito sabor. Tudo muito bem feito, e em quantidades generosas. E tudo regado a ótimos vinhos. É dificil não terminar a noitada um pouco alegre. Ah! A festa sempre acaba com chá e chocolatinhos artesanais, novamente no sofá panorâmico. Aliás, só no fim da comilança fica realmente escuro, já que a noite só cai depois das 23h.


Esta noite o jantar consistia num churrasco. Ainda bem que a inglesa nutricionista natureba que mora em Nú Iôk com seu marido o fashion fotographer foi embora, pois iria ficar horrorizada. Em compensação chegou a dupla de carnivoros americanos de Boston, pai e filho (este idêntico ao chef pop Jamie Oliver e o pai igual ao Prince Charles), que são simpáticos e anti-Bush. Isso somado ao casal em lua de mel, formado por uma inglesa que diz não gostar de comida (mesmo assim come e bebe muito) e seu marido italo-inglês banqueiro. Para completar a turma, mais um casal improvável de irlandeses, muito engraçados. Ela parece a Morticia Adams e fala tão rápido e com uma dicção tão indescifrável que mal posso entender uma palavra, mas tento sempre rir quando ela termina as frases. O marido é o palhaço da turma, sempre fazendo gestos e contando anedotas que também não entendo direito. Todos, menos o italiano, tem dentes tortos.


É em companhia destas pessoas que tenho apreciado os jantares oferecidos por Peuma-Hue. Já durante o longo dia, faço passeios, caminhadas, banhos no lago, cavalgadas e esse tipo de coisas. A fazenda tem uma horse-whisperer, ou encantadora de cavalos, uma mulher jovem que entende tudo sobre estes bichos e acho que por conta disso entende muito sobre humanos também. Foi ótimo cavalgar dentro do lago, por entre as árvores e perto de cachoeiras com a segurança de tê-la por perto, totalmente no controle. Morro de medo de cavalos, a verdade seja dita.


A encantadora de cavalos fazendo seu trabalho (encantar cavalos)



E por enquanto é isso, agora estou no café da manhã, que consiste em iogurte, granolas, frutas, torrada de pão integral caseiro, ovo mexido (ou estrelado), geléias de frutas vermelhas, chá ou café, torta de maça, empanadas fritas doces. Por isso tenho pulado o almoço.

Ainda tenho mais 4 dias neste lugar e faz bastante calor, é um verão glorioso, como dizem os locais. O lago, que costuma ter temperaturas por volta de 6 graus está a inéditos 12 graus, permitindo banhos e dias de praia. Mas o sol é mais forte aqui do que na Bahia.